Uma amiga comentou comigo sobre um compartilhamento que ela e eu fizemos no Facebook sobre aborto. Na verdade, se trata de um texto de Drauzio Varella, no qual ele afirma que a questão do aborto é complexa e que nada justifica o sofrimento de milhares de mulheres que fazem essa prática sem quaisquer condições mínimas de segurança.
O que impulsionou o comentário da minha amiga foi o fato de ninguém ou quase isso ter “curtido” ou ter feito um comentário no Facebook, como se ninguém se importasse ou não quisesse se meter nesse conflito.
Nem havia me dado conta, porém após nossa conversa, refleti o quanto questões morais e religiosas tornam muitas das nossas decisões hipócritas. Com isso, não quero dizer que aborto é algo muito simples, nada disso, mas temos que encarar os fatos como são e não como deveriam ser.
Mesmo que tenhamos grupos a favor e contra, e todos têm o direito de ter e manter suas opiniões, a questão é que o aborto é praticado frequentemente. Os números assustam, mais ainda quando nos deparamos como as formas com que eles ocorrem. Então, talvez seja mais sensato padronizar tudo isso, deixar a demagogia, o discurso politicamente correto deixar de lado.
Outra coisa que lembrei: na segunda passada, assisti no canal Globo News, uma conversa com a relatora do projeto de lei da palmadinha (lembram?). Sou contra a palmada, já disse isso aqui, não compreendo de que maneira isso possa ensinar algo, mas também questiono o Estado intervir dessa maneira na educação das crianças.
Mas nem é disso que falo agora. Estamos com centenas de problemas em nosso país, e muitos tem a ver com as nossas crianças, e aí vem a história desse projeto? Será que não há coisas mais graves e urgentes a tratar? Crianças dependentes químicas, em abrigos à espera do demorado processo de adoção, crianças sendo torturadas e espancadas, crianças se prostituindo, sendo usadas e vendidas por seus pais e aí a Lei da Palmada vira discussão parlamentar?
A relatora confrontada pelo psicanalista diz que o Estado não intervirá como se pensa, que a ideia é incentivar professores para campanhas, que as escolas participem. As escolas mal conseguem lidar com o bullying e querem colocar mais essa função?
Sabemos que as escolas são muitas vezes as denunciantes dos maus tratos, isso já é sabido, há o ECA, enfim não precisamos mais de lero-lero, necessitamos de eficiência nos projetos. Eu não sei que realidade os nossos parlamentares falam, sinceramente não sei a quem enganam falando de coisas ideais e utópicas, quando as coisas do nosso cotidiano vão de mal a pior.
Para completar sobre mulheres e crianças. Somo a isso uma parte do programa A Liga que assisti, semanas atrás, sobre mulheres presidiárias que estão com seus bebês em péssimas condições de higiene, sem qualquer dignidade.
As crianças quando completam seis meses são tiradas dela, dadas aos familiares, se eles aceitarem ou para adoção, no caso de negativa. Como isso é feito? De que maneira o Estado poderia lidar melhor com essa situação? E as condições do sistema penitenciário?
Não estamos na Dinamarca nem na Suécia para ficarmos discutindo coisas que já estão decididas (no caso, no ECA, sobre a violência contra crianças). Precisamos ir ao centro dos problemas, chega de ficarmos na periferia. Precisamos de dedicação para efetivamente colocar em prática o que já está em papel e para criar, de verdade, possibilidades para questões que nem no papel ganharam espaço. Mas para isso necessitamos de pessoas que não se deixam levar pelas bancadas conservadoras nem pelos votos. E para isso, há de ter coragem. Você vê muito dela por aí? Eu, não.
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