terça-feira, 29 de junho de 2010

Celebridades

Studio Porto Sabbia 123RF

É maravilhoso quando lemos um texto em que as palavras ali na nossa frente expressam o que exatamente pensamos. Há dias vivi isso em um texto da revista Cult, edição deste mês, na coluna sempre bacana de Francisco Bosco. No fim deste texto, estará o link do artigo, caso você tenha interesse em lê-lo.

Uma das coisas que Bosco escreveu que me identifiquei foi sobre as celebridades instantâneas, isto é, pessoas que do dia para noite são vistas como célebres sem nada a contribuir para a nossa sociedade, para nós. Não há nenhuma pintura que nos desconcerte, nenhum livro que nos arrebate nem interpretação que nos emocione. Não há nenhum conceito ou discurso que nos faça refletir. Enfim, nada a acrescentar. Absolutamente nada.

Cadê o conteúdo, cadê o que cada um tem a dizer? Abobrinhas, obviedades, superficialidades são o que vemos neste contexto “célebre”.

Está certo, não apenas seriedade e reflexão compõem nossas vidas, mas não será possível encontrarmos entretenimento em algo mais construtivo? Não será possível elegermos com mais cuidado quem merece a luz dos holofotes?




domingo, 27 de junho de 2010

Estão todos bem


 
Kirk Jones dirigiu o filme “Estão todos bem”, refilmagem do filme italiano “Estamos todos bem”, de Giuseppe Tornatore, com Marcello Mastroianni. A história do viúvo que resolve retomar o laço afetivo com seus filhos nos faz pensar sobre a paternidade e suas expectativas.

Robert de Niro é o protagonista de “Estão todos bem”. Com a morte da esposa que servia como elo entre ele e seus quatro filhos, ele decide visitar de surpresa sua prole. São várias surpresas, principalmente a dificuldade que os filhos têm de serem sinceros e espontâneos com o pai.

Como disse, o filme nos faz pensar sobre as exacerbadas expectativas que muitos pais têm de seus filhos, o quanto eles impõem um plano seu para a vida de seus descendentes. Ao mesmo tempo em que esta esperança pode ser um motor para estimular as potencialidades, ela pode enjaular e causar muitas frustrações.

Os filhos, ao se sentirem investidos destas esperas, geralmente reagem tentando corresponder. Ver nos olhos do pai o orgulho. Mas pode não ser tão simples. Algumas vezes, o que os pais querem não é o mesmo que o filho deseja; outras vezes, o filho até pode querer, mas não consegue. Enfim, nem sempre o desejo vira realidade e aí cabe aos pais e aos filhos modificarem suas expectativas e descobrir outros caminhos.

O desafio para pais e filhos é encontrar um caminho comum, onde amor, aceitação e respeito imperem a relação. Nem sempre os filhos correspondem, assim como nem sempre os pais se comportam conforme o esperado. Há uma distância entre o que se espera e o que se é. O que vai tornar flexível este encontro é a capacidade de pais e filhos se verem em suas completudes e particularidades, sem o peso de uma expectativa solitária e exacerbada.

sábado, 26 de junho de 2010

Casamento Junino

Tetyana Kulikova 123RF


Hoje assisti a uma apresentação junina da escola da minha sobrinha. Na turma dela são aproximadamente 15 meninos e seis meninas. Neste ano, a ideia era: as meninas se vestirem de noiva e os meninos de noivo e assim cada uma teria mais de um menino como par. Uma cena um tanto incomum em tempos que a mulherada se queixa da escassez masculina. Certo?

Errado. Eis que os meninos se negam a ser noivos. Seriam, então, coronéis, com a função de jogar arroz nas noivas. Não parece algo bem mais divertido que “casar”?

Pois bem, apenas um deles, corajoso ou apaixonado ou desatento, resolveu assumir o posto de noivo e ser disputado por seis garotas. Cá para nós, um sonho de muitos XY, não é mesmo?

Então, a apresentação foi superbacana, todos graciosos em seus trajes caipiras dançando em ritmo junino. Com cerca de cinco anos, não dá para saber, lógico, como será a vida amorosa de cada um daqueles pequenos no palco, mas que pode ser um sinal essa resistência ao casório, ah isso pode...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Com o mundo nas costas

Paolo De Santis 123RF

Quem já nunca sentiu estar carregando o mundo nas costas? Há aqueles em que este estado é crônico e em outros ele só se manifesta em fases agudas. Acontece com quase todos pelo menos uma vez na vida.

Pessoas íntimas que desabam, problema grave de saúde conosco ou com alguém perto, dívidas que somaram quantia preocupante, empresa mal das pernas. Enfim, são inúmeras as possibilidades de termos o mundo em nossos ombros.

A questão é: como tirar o peso de nossas costas? Compartilhar problemas, angústias pode ser uma ideia interessante. Muitas vezes quando temos essa sensação, estamos centralizando, isto é, assumimos sozinhos a reflexão sobre o caso. E se compartilhássemos com alguém o problema? E se dividíssemos esse peso (lembre que não somos os únicos a poder resolver as coisas, em algumas situações, claro)? E se nos déssemos conta de que sozinhos tudo fica ainda mais difícil?

Um ouvido acolhedor que nos ouça. É disso que precisamos. Não há melhor “ginástica” do que essa. À medida que nossas palavras saem, o peso diminui.

Pensando em peso dos ombros cito abaixo a última estrofe do poema de Drummond, “Os ombros suportam o mundo”:
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?


Teus ombros suportam o mundo


e ele não pesa mais que a mão de uma criança.


As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios


provam apenas que a vida prossegue


e nem todos se libertaram ainda.


Alguns, achando bárbaro o espetáculo,


prefeririam (os delicados) morrer.


Chegou um tempo em que não adianta morrer.


Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.


A vida apenas, sem mistificação.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Abaixo-Assinado

Studio Porto Sabbia 123RF

Gostaria de assinar um abaixo-assinado. Reivindico, e sei que não estou sozinha, por mais horas para o nosso dia. Vinte e quatro horas não estão sendo suficientes.

Não sei exatamente para quem devemos enviar o abaixo-assinado, mas alguém haverá de nos auxiliar! A sensação de não estar conseguindo fazer tudo que queríamos cresce cada vez mais. O tempo, como se sabe, é subjetivo, não é exatamente o que o relógio nos indica, mas como aproveitamos e interpretamos o tempo que temos. Apesar disso, há o relógio e não podemos ignorá-lo.

Dependendo das nossas atividades, do nosso momento atual e das coisas que nos mobilizam, nos sentimos dentro de um tornado, querendo tudo e sem condições para isso.

Daí surgiu essa história do abaixo-assinado. A partir de uma mudança oficial e global de que o dia não terá mais as horas que tem, poderemos ter mais tempo para fazer o que não estamos conseguindo. Caso esse meu plano falhe, precisaremos achar uma alternativa.
Bem, brincadeira à parte, esse assunto de tempo curto vem e vai. É impressionante como é uma queixa generalizada. Todo mundo fala da falta de tempo. Será uma epidemia?

Talvez não estejamos com um ajustamento adequado entre o que é possível e o que não é. Nossa intenção é boa, queremos dar conta de inúmeras coisas que precisam de atenção, mas temos um limite de tempo, devemos obedecer horários e impor o “não” quando for necessário.

O “não” não quer dizer necessariamente má vontade, mas sim que algumas coisas devem ser postergadas, para que outras sejam devidamente assumidas. Lidar com a finitude do dia e com a limitação imposta pela nossa capacidade de sermos responsáveis por determinadas coisas, são exercícios diários de tolerância à frustração. Não somos superherois, somos humanos.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Desafios



Amanhã é a estreia do Brasil na Copa. Poderia falar disso. Ontem o PT oficializou a candidatura de Dilma com Temer, do PMDB, como vice. Também poderia tecer algumas palavras sobre isso, afinal, quando poderíamos imaginar uma chapa como essa em 1989, por exemplo? Uma professora gaúcha abandonou a Educação após se ver vítima de cyberbullying. Da mesma forma, é assunto. Mas, que tal falar de algo que não está nos jornais?

Quais os desafios que têm feito você sair da cama? Não me refiro aos compromissos de trabalho, horário de reunião, essas coisas. Quero dizer aquilo que tem feito você suspirar e pensar que o futuro será promissor. Os desafios, mesmo que os temamos ou que sintamos um friozinho na barriga, são a água da “nossa planta”.

Sem desafios não há esperança de mudança. Sem desafios não saímos do lugar. Sem desafios nossa rotina pode ser semelhante à do Chaplin no filme “Tempos Modernos”.

Algumas vezes não sabemos o que buscar; outras, deixamos passar e por fim, há aqueles desejos que estamos atrás.

Para todas estas situações, vale pensar que a nossa parte pode ser feita, o resto é da vida, das movimentações cósmicas, enfim, do que não sabemos ao certo. Nós, ativos ou recuados, somos os principais responsáveis por cultivar o desafio de cada dia.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A necessidade do supérfluo

Studio Porto Sabbia 123RF


No jornal Zero Hora li uma frase de Oscar Wilde: “A única coisa necessária é o supérfluo”. Não sei em que contexto o escritor fez tal afirmação, não conheço minuciosamente sua obra, mas a frase me fez pensar.

Não tenho nenhuma dúvida de que o arroz e o feijão, uma casa que abrigue, boas condições de saúde, educação, transporte e emprego são itens essenciais a uma vida minimamente digna. Porém, o supérfluo é necessário. Não chego a ponto de Wilde, mas que o “a mais” colabora para uma vida mais colorida, colabora mesmo.

Não estou falando de consumismo, coisas de grife, nada disso. Falo da soma que pode ocorrer ao acrescentarmos detalhes na nossa rotina básica.

Caminhar ao sol, experimentar culinárias, curtir um chá, colocar a mesa para almoçar quando se está só, enfim eleger como importantes comportamentos que não são fundamentais.

Há pessoas que pensam concretamente e assim agem na vida. Por que pintar as unhas se não tem festa? Por que usar a prataria da casa se não tem um evento especial? Por que entrar no restaurante indiano se aquele de sempre é bom? Por que usar uma lingerie nova sozinha em casa? Enfim, é preciso ter criatividade e valorizar as pequenas coisas para a vida ter o nosso tom.

O básico “todo mundo” deveria ter ou tem, mas o supérfluo depende do investimento afetivo que colocamos em nossa prática de viver e assim, vivermos a vida que escolhemos para nós.

Se esse texto tivesse trilha sonora seria “Comida”, um clássico dos Titãs. Vai lá:

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Agentes de saúde e o Caso do Maranhão

oleksiy 123RF


Os agentes de saúde costumam ser o elo entre Estado e sociedade. São eles que vão até lugares de difícil acesso para verificar a situação médica, psicológica, social, enfim são funcionários do Estado à serviço dos cidadãos.

Isso não quer dizer que às vezes não haja erros de comunicação, que os agentes não cheguem a determinados grupos ou que não denunciem algo completamente fora do padrão, um crime.

No povoado de Experimento, no Maranhão, foram os agentes de saúde que colocaram fim a uma situação cruel: um agricultor de 54 anos manteve por dezesseis anos a filha como sua refém. Vítima de estupro, abusos físicos, cárcere privado, abuso intelectual, a moça de 28 anos (a violência começou quando ela tinha 12) mal sabe se comunicar, não tem qualquer rede social, era mantida isolada com seus sete filhos, frutos do incesto.

Choque. Esta é a palavra. Sempre que conhecemos histórias como essas, ficamos boquiabertos com a crueldade humana. O filme “Anjos do Sol”, de Rudi Lagemann, lançado em 2006, conta a história de uma menina, Maria, de doze anos, que foi vendida e leiloada até chegar em um prostíbulo em uma pequena cidade, próxima a um garimpo, na floresta Amazônica. O dono do estabelecimento é um cafetão violento, vivido pelo competente Antônio Calloni.

Em um determinado momento do filme, há uma cena em que um agente de saúde chega até o prostíbulo e constata que uma das meninas da “casa” tem o HIV. Apesar de tentar fazer seu trabalho e ser bem intencionado, o agente, sozinho, não conseguiu salvar aquelas garotas.

Comparando os casos, a realidade se pareceu mais com a ficção, isto é, os agentes de saúde, ao denunciarem o caso do Maranhão, colocaram fim ao sofrimento diário daquelas vítimas do pai/marido/avô.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Dez coisas e pessoas que, dependendo do dia, podem nos tirar do sério

PaulPaladin 123RF

1. Gente que não puxa descarga após usar o banheiro;

2. Gente que fala alto no cinema;

3. Motorista que cola o carro atrás do seu;

4. Sachê de sabonete líquido vazio;

5. A última de banheiro: falta de papel higiênico;

6. Gente que come com a boca aberta;

7. Barata;

8. Gente que fura a fila;

9. Motorista que estaciona um carro em uma vaga que caberiam dois;

10. Gente falando alto no celular, ao seu lado.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A Raposa fugiu da história!


Duas meninas, gêmeas, de nove meses foram atacadas, em seus berços, em casa, por uma raposa. Não foi em uma fazenda ou em uma tribo, foi em Londres!

Não são novidades as visitas de raposas em algumas regiões londrinas (uma amiga me relatou que morando lá se deparava com uma de vez quando ao sair para o trabalho), porém não se esperava um ataque como esse, segundo os vizinhos da família, acostumados com este não-convidado. As meninas passam bem, apesar dos machucados, uma no rosto, e outra no braço.

Quando a mãe ouviu os gritos das bebês foi até elas, ligou a luz e se deparou com a raposa. Ela disse que foi muito assustador, ainda mais vendo sangue nas meninas.

Bem, ela nem precisava ter dito tais palavras, ao saber desse caso podemos imaginar o pavor da cena.

Este fato me fez lembrar as histórias infantis e fábulas, afinal em quantas delas há lobo, raposa, cigarra, formiga, lebre, leão, sapo? Definitivamente, o lugar da raposa é na estante, dentro de um livro e não no berço!

O link abaixo levará você para uma fábula de La Fontaine, “O Galo e a Raposa”:


domingo, 6 de junho de 2010

A Copa vem aí e nosso patriotismo também!


Estamos na semana da abertura da Copa do Mundo. Não há momento igual como esse, em vários sentidos. Nenhum outro acontecimento mobiliza tanto o orgulho de ser brasileiro como esse.

Não é difícil de entender, afinal, somos o único país penta, nossa autoestima infla e transborda a cada quatro anos. Precisamos compensar todo o sentimento de inferioridade que sentimos. Envergonhamos-nos da miséria, da corrupção, do jeitinho malandro, no fundo não queremos ser somente o país do carnaval, do samba no pé e da bola no gol. Queremos mais, muito mais.

No momento da Copa em que somos os protagonistas, estufamos o peito e desejamos não apenas o hexa, mas tudo que um povo quer: educação, saúde, qualidade em todos os serviços, enfim, queremos viver melhor. Está bem, talvez uns pensem só no futebol...

O que podemos observar nesse momento tão bacana é o quanto temos orgulho da nossa seleção, do quanto acreditamos em nós quando pensamos em futebol. Muito diferente quando pensamos na política (esse também é um ano de eleições!), a confiança cai e ficamos desesperançados. Seria a solução colocarmos jogadores de futebol como opções de urna? Não, não. A seleção tem a nossa confiança, porque mostrou serviço. Mesmo que não sejam apenas conquistas, acreditamos na garra dos garotos que vestem a camisa verde e amarela.

Que confiança temos nos governantes de terno e gravata? Nenhuma! Ou pouca, para não ser tão pessimista. Fazemos cara feia para os fiascos de Brasília, com o descaso na saúde, na educação, nas estradas, nos crimes de caixa dois, três, quatro! Ficamos frustrados com tudo que está errado.
Queria poder ver bandeiras do nosso país não apenas em época de Copa; queria poder ver o Brasil e o brasileiro ser motivo de orgulho para todos nós, não apenas quando pensamos no futebol.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Mundo Deprimido

Tetyana Kulikova 123RF

Há um número impressionante de pessoas deprimidas. Cada vez que recebo um caso ou sei de um conhecido sofrendo deste mal me pergunto a razão para o mundo estar tão deprimido e como segurar essa grande onda.

“Deprimo porque sinto o que não posso pensar”. Talvez seja uma frase geral que resuma a situação. A pessoa se deprime no momento em que é atropelada por sentimentos que não consegue elaborar.

Estamos tão acelerados tentando dar conta dos compromissos, das exigências por todos os lados que deixamos de lado algumas coisas. É inevitável. Muitas vezes o que deixamos no cantinho da rotina é o que se passa dentro de nós. Nossas angústias, nossos limites, nossas frustrações ficam como que latentes, esperando um motivo, um fato que desencadeie um processo depressivo.

Sem dúvidas nem toda depressão poderia ser descrita deste jeito, mas a geral que assola muitos de nós é assim. Por descuido ou por dificuldades mesmo deixamos de olhar com mais delicadeza para o que sentimos e o que pensamos. Ligamos no automático, porém devemos lembrar que uma hora ele pode pifar e aí a depressão aparece de vez.