domingo, 27 de setembro de 2009

Coelhos



Imaginem a cena: você está caminhando até a universidade. De repente se surpreende com animaizinhos. Pássaros? Cachorrinhos? Gatos? Ratos? Não, coelhos! Livres, leves e soltos nos campos dos arredores da universidade. Alegres salteadores, porém tímidos. Ao perceberem a presença humana por perto, se escondem ou ficam paradinhos, como se brincassem com seus amigos e um deles dissesse: “estátua!”
Quietinhos comendo suas comidas verdes, sobrevivem em meio a gente e outros animais. Umas semanas atrás o campo vasto foi cortado. Alerta geral! Qual seria o futuro dos animaizinhos? Após dias de procura e nada de coelhinhos, respirei com sorriso ao ver que estavam sãos e salvos, em um local perto, com folhagens suficientes para se protegerem dos gigantes, caso necessário.

Agora, não os vejo com tanta frequência, infelizmente, mas estão lá. Os coelhinhos saídos dos livros de Beatrix Potter direto para os meus olhos.

O Tempo





É quase tudo verdade o que falam sobre o tempo inglês. Cidades com flores por todos os lados mereceriam um céu mais azul. Felizmente, nos últimos dias, os primeiros do outono, ele está muito azul e com um sol aberto.

Falemos do verão que em quase nada lembra o do Brasil. Faz friozinho, o mais comum é você sair com manga curta com um casaquinho a tiracolo. O vento dançarino pode irritar e causa arrepio se o vivente não está com a roupa adequada. O sol, nesta estação, nasce cedo, pelas quatro e meia da manhã; porém, isso não significa sua estadia o dia inteiro. O mais comum, segundo meu testemunho, era por volta do meio-dia as nuvens tomarem conta e, quem sabe, saírem para passear por outras bandas, quase no fim da tarde, onde o sol retorna para alegria de todos e segue até por volta das 22 horas.

Fascinante o amor que os ingleses têm pelo sol. Talvez pela “sina” do país em ter tantas nuvens no céu. Eles comem no sol, lêem no sol, conversam no sol. Se você entra em um ônibus e quer sombra e não sabe qual o lado certo para sentar, não se preocupe, procure o lado com menos gente, provavelmente será este. Os ingleses estarão do outro lado.

Conhecer uma praia inglesa no verão é muito interessante. O cenário, reconheço, é de filme, o cais, os pássaros, os sons. Tudo pode ser muito romântico, inclusive a temperatura e o vento que fazem você desejar estar em uma casa à beira-mar, muito bem acompanhada, com uma manta ou um foguinho na lareira, um cálice de vinho vislumbrando o mar.

Claro que estas palavras vêm de quem sente muito frio e de quem vem de um país com calor tropical. As inglesas vestem biquínis, apesar de haver poucas pessoas na praia. Soube que a temperatura da água é polar.

De qualquer forma, enquanto eu estava quase tremendo de frio, agarrada em meu casaquinho, passava por mim uma nativa com vestidinho, sandália e que poderia até estar, tomando sorvete!

Falo do tempo, que deixou de ser um assunto para quando não se tem assunto e que, para mim, ganhou um status de maior respeito, com espaço exclusivo no horário nobre. Tornou-se uma importante ferramenta para sabermos o que vestir ou o que colocar na mala. Além disso, é um lugar-comum que une as mais diferentes pessoas.

Crianças






Nas ruas das cidades inglesas, observo uma situação curiosa: algumas crianças usam “peiteiras”, “coleiras” ou coisas do tipo. Na verdade não sei qual é o nome exato para isso; chamo assim, porque é semelhante às peiteiras ou às coleiras colocadas em cachorros ou gatos. Geralmente, são presas abaixo dos ombros dos pequenos.

Imagino que os pais decidam pelo uso, pois as crianças estão aprendendo a caminhar. Portanto, é mais seguro para o filho e mais confortável para o cuidador. Outras crianças, as maiorzinhas, devem usar para não dispararem pelas ruas: questão de segurança.

Já vi tais acessórios presos aos pulsos, ao invés de no peito e vi uma, apenas uma, “coleira” no pescoço de uma criança. Ah, mas não se preocupem, estava bem folgada, o que não significa que eu não tenha ficado um pouco assustada com aquilo. Apenas eu, porque para todo o resto aquilo é bastante corriqueiro.

De qualquer forma, para um olhar estrangeiro, como o meu, causa surpresa. Afinal, no Brasil, o mais perto que me lembro ter visto eram crianças na praia com uma cordinha no pulso, mas vi não sei onde, não sei quando.

As crianças inglesas, com suas carinhas loiras, rechonchudas e olhos azuis, pouco se parecem com cachorros e gatos, apesar de também travessas e companheiras. Somente esses estranhos acessórios sugerem tal semelhança.

sábado, 26 de setembro de 2009

Confiança




Sim, é isso mesmo que você viu nas imagens. Você compra vegetais (na foto acima não há vegetais e sim abobrinhas), frutos e flores (que não aparecem nestas fotos, mas elas estavam lá!), coloca em sua sacola e paga, depositando o dinheiro na caixinha de correio da casa. Simples assim.


Esta imagem peculiar testemunhei em Lacock, uma village perto da cidade inglesa Bath, fundada no século XIV. O vilarejo não possui postes, não adianta procurar. O local mantém características de séculos passados em que a iluminação nas ruas era precária. O lugar é um charme, a construção mais famosa é a Lacock Abbey, fundada em 1232 como um convento até ser comprada pelo Sir William Sharington que, em 1539, começou a transformá-la em sua casa. Sucessivamente ela seguiu na família. No século XIX, ela torna-se propriedade de William Henry Fox Talbot (1800-1877), um pioneiro na fotografia e inventor do processo fotográfico negativo/positivo.

Essa introdução informativa é para chegar até o ponto principal que tem a ver com as fotos que tirei: a confiança no outro. Claro que estou falando sobre um local secular, o que, por si só, pode influenciar hábitos. Mesmo assim é emocionante e esperançoso testemunhar tal comportamento. O dono da casa, que colheu seus vegetais, frutos e suas flores, tem a absoluta certeza que o seu cliente irá depositar a quantia referente à sua compra na caixinha de correio.

Não há ninguém na janela espiando, não há controle sobre o que acontece com a mercadoria. Uma plena confiança no outro. A distorção de valores que existe no século XXI não alcançou aquele local. E para mostrar que não tem a ver com o argumento de ser uma village, portanto um lugar tranquilo e seguro, dou outro exemplo.

Passeando na cidade que moro, Colchester, de 100 mil habitantes, eis que vejo uma máquina de lavar para vender, com o preço escrito em um papel colado ao aparelho. Onde? Na calçada, em frente a uma casa, sem ninguém ao lado, sem ninguém espiando, mais uma vez. Está lá, você quer comprar? Toque a campainha, pague e leve sua compra que está ali ao alcance de todos. Pronto.

Dizem que os ingleses confiam no outro até um primeiro escorregão; aí, depois desse, eles talvez nunca mais confiem em você. Se isto é verdadeiro, não sei. O que vi é que eles têm fé, podem deixar mercadorias para venda em frente a suas casas sem uma cadeirinha ao lado para cuidar de seus pertences. Isso é uma homenagem à condição humana.

Não entremos nas questões culturais, nada disso. Vamos falar da beleza de confiar no outro. A confiança sem qualquer garantia, sem qualquer prova. Quantos de nossos amigos e amores recebem esse investimento? Doamos-nos e confiamos no outro e ao outro damos nossos afetos mais sinceros sem necessariamente haver certeza alguma.

Confiança no desconhecido. Penso que sabemos mais do que julgamos sobre isso. Mesmo que estejamos falando de situações distintas. Por exemplo, você não conta com a honestidade do cozinheiro do restaurante que fará a comida com os melhores temperos possíveis? Você não conta com a honestidade de um estrangeiro quando você lhe pergunta alguma palavra de seu idioma? Assim como os ingleses que aqui contam com a honestidade dos potenciais clientes que transitam nas ruas: é somente outro viés da confiança.

Assim como quando perguntamos a um desconhecido a direção de uma rua, confiamos e seguiremos onde suas palavras apontam. Nunca o vimos antes, mas ele merece nossa consideração. Ou quando confiamos no garçom quando descreve os ingredientes de um prato. Ou quando confiamos que o carteiro irá entregar a nossa correspondência.

A confiança é isso, é dar ao outro a chance de ser íntegro e a chance de nosso bom senso fazer sentido. Não precisamos vender vegetais, frutos, flores e máquina de lavar para exercitar nossa capacidade de confiar.

Dorian Gray




Fonte e trailer do filme em: http://www.imdb.com/title/tt1235124/



Na última segunda-feira (21/09/09), assisti “Dorian Gray”, filme lançado neste mês nos cinemas da Inglaterra. A direção é do britânico Oliver Parker e o elenco conta, dentre outros, com Colin Firth, Ben Chaplin e Ben Barnes. Como o título sugere, o enredo é baseado no livro de Oscar Wilde, “O Retrato de Dorian Gray”. Dorian (Barnes) é um lindo rapaz que tem sua vida alterada após dois eventos: a pintura de seu retrato, realizada por Basil (Chaplin), e a amizade com Lorde Henry (Firth).

Saindo da tela para as ruas, Dorian pode ser qualquer um e a época inglesa vitoriana pode ser transferida para os tempos atuais e para os mais diversos lugares do mundo. Porém, uma pergunta não precisa ser mudada, pois é atemporal: você é fiel a si mesmo?

Afinal de contas que pergunta é essa? Resumidamente, a questão é se você leva a vida que você acredita, se você adota valores e atitudes que você crê, faz escolhas considerando suas reflexões, sentimentos e seus desejos. Sem pestanejar, sei que o questionamento possui uma cor poética, mas no final das contas é para lá de muito prático.

A vibração do contexto pode nos influenciar a aceitar um trabalho que não condiz com nossas necessidades vitais de realização nessa área. Ou aceitar a ida a uma festa na casa de alguém que se comporta de maneira ofensiva para com os convidados. Ou almoçar com um colega que significa aquilo que você não quer para si. Quando nos perguntamos “O que estou fazendo aqui?” em tom quase indignado e não encontramos nenhuma resposta razoável, pronto! Aí está a pista de um resvalo!

Para manter sua fidelidade protegida, você acaba fazendo uma separação eu/outro e assim, mesmo com uma indisposição, suporta o que nada tem a ver com você. Ok. E quando você não identifica essa linha imaginária e adota as palavras do outro como as suas? Como Dorian tomava por suas as palavras de Henry.

Sim, isso pode acontecer. Sutilmente podemos embarcar em uma viagem em que parece que temos o controle do timão, sendo que é ele que nos controla. Você já leu depoimentos de pessoas que trabalhavam em excelentes postos de empresas, com um salário de invejar e que abandonaram tudo para viverem no campo, em uma pequena comunidade?

Por algum tempo esses senhores e essas senhoras, soponho, gozaram de uma vida que, posteriormente, descobriram não ser a melhor para eles. Não tiveram medo de críticas ou acusação de loucura; foram atrás da sensação de dormir em paz com seus travesseiros.

Ah, sobre o mais importante ainda não falei: como identificar se estamos sendo fieis a nós mesmos? Bem, por dentro, aquela “vozinha” da consciência fica muda ou apenas sorri, a gente pode não ter o trabalho com o mais alto salário ou com a mais bela sala. Mesmo assim, nós temos aquela sensação, a certeza de que a gente está fazendo o melhor possível dentro das nossas crenças, que não estamos nos traindo em prol dos valores alheios.

Podemos não querer entrar no ritmo da dança capitalista, em que a riqueza serve para desfilar em roupas de grifes famosas ou em carros recém-lançados. A busca por este status pode não ser a sua, o que não significa que não queiramos ou possamos vestir peças legais e ter um charmoso carro.

Há aqueles em que os bens materiais ou os hobbies vêm como consequência do estilo de vida e das crenças que têm e não como os principais objetivos. Já há aqueles em que a meta é ter o carro do ano, a viagem do ano, a roupa do ano etc. Tanto faz a nossa escolha, desde que estejamos certos que estamos em equilíbrio com a nossa consciência, que não estamos nos agredindo para sermos “melhor” vistos por outrem.

Havia dois Dorians. Um, dos salões, das conquistas sedutoras, das risadas alimentadas pelo álcool. Outro, materializando-se em um sótão escuro, local destinado ao que não se quer ver, ao que se coloca de lado, como se não existisse. A representação de si, simulada pela aparência, escondia o que ocorria por dentro de Dorian. Como os sentimentos, atos e pensamentos repercutiam em seus órgãos e em sua fisionomia. Quantos Dorians há por aí?

Cedo ou tarde quase todos nós percebemos se entramos em uma armadilha ou não. Cedo ou tarde podemos dar as costas e começar de novo. Cedo ou tarde podemos ir atrás do que acreditamos. Cedo ou tarde podemos renunciar às infidelidades. Cedo ou tarde. Dorian soube as verdades de suas escolhas e não fugiu de suas consequências: as aceitou como seu destino.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Bem-vindo!

Olá, aceita um chá?
Um encontro, este é o principal objetivo deste blog. Trocar impressões, ideias e opiniões são propostas para este espaço. Sou uma editora aqui, escreverei alguns textos, convidarei pessoas que admiro para colaborações eventuais, alimentarei o blog também com notícias ou textos de outros espaços, principalmente virtuais. Enfim, uma trama de palavras que busca as palavras do outro.