sábado, 31 de julho de 2010

Preciosa


 
O diretor Lee Daniels dirigiu, anos atrás, o filme “A Última Ceia”, que agradou ou desagradou seus espectadores, mas não passou despercebido. O mesmo pode-se dizer de “Preciosa”, este, verdade seja dita, é mais comercial que o primeiro.

Desde seu lançamento no Brasil, estava muito curiosa e desejosa de assistir a triste história de Precious, uma adolescente obesa e negra, que vive em um apartamento pobre no Harlem, com uma mãe igualmente pobre, principalmente de espírito.

Esta mãe é violenta, amarga e incapaz de qualquer palavra ou ato de carinho. O pai de Precious que curiosamente não aparece no filme, mas está presente o tempo todo, também foge do papel de pai. Ele violenta sua filha, que engravidou e pariu uma menina com Síndrome de Down há dois anos e agora, novamente, está grávida.

Na escola e na vida, Precious é calada e tímida, sugerindo uma autoestima muito baixa, característica comum em vítimas de violência doméstica. Quando Precious é matriculada, pela escola que estuda, em outra instituição, dita alternativa, ela começa a construir uma alternativa para si mesma.

Sem flores, o filme se aproxima da vida real e é disso que mais gosto no cinema: ficção com jeito de realidade. Gabourey Sidibe e Mo’Nique estão ótimas nos papeis de filha e mãe.

O filme nos comove e nos tira do lugar. Somos testemunhas de como é possível sobreviver frente às crueldades vindas de quem deveria proteger e amar. O mais triste de tudo: sabemos que Precious não existe apenas no cinema, muitas estão aqui, entre nós buscando um outro caminho para si mesmas.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

João Rubinato



Neste ano, exatamente no dia 06 de agosto, Adoniran Barbosa completaria cem anos. Não me recordo quando foi a primeira vez que escutei “Trem das Onze”, mas lembro de uma grande amiga, na adolescência, que cantarolava suas músicas como ninguém. Foi ela quem me apresentou “As Mariposa” e “Samba do Arnesto”, por exemplo.

Tenho um carinho especial por este senhor corintiano e morador do Bexiga, que além de compositor e cantor, foi ator e humorista.

Com suas palavras em desacordo com a gramática, mas combinando com a nossa emoção, Adoniran foi um dos maiores artistas do nosso país.

Para ouvir e cantar:

http://www.youtube.com/watch?v=plOezZ6936Y

http://letras.terra.com.br/adoniran-barbosa/43964/

http://www.youtube.com/watch?v=ceBdGz3eTFg

http://www.youtube.com/watch?v=HVYzFCUf8Bk&feature=related

http://letras.terra.com.br/adoniran-barbosa/


Para saber mais:

http://bandnewstv.band.com.br/conteudo.asp?ID=335122

terça-feira, 27 de julho de 2010

Quando o trivial deveria ser raridade

Denis and Yulia Pogostins 123RF

Hoje uma pessoa muito próxima de mim teve seu carro invadido. Quebraram uma janela, entraram, nada roubaram, apesar de ter uma moeda à vista e um CD no porta-luvas. Ainda bem que o dono do carro não chegou nessa hora, mas depois, quando o bandido já havia ido embora. Mesmo assim, a sensação de ter sido agredido existe.

Houve uma violação. O seu carro foi invadido por um estranho. Alguém não convidado sentou no banco do carona, tocou no painel, repito: alguém não convidado.

A violência está ao nosso lado, nos é vizinha e pouco podemos controlá-la, ficamos à mercê da sorte, de movimentos desencontrados que nos salvam de um encontro infeliz. O que podemos fazer quando o crime não é mais manchete, quando vira cotidiano, chocando apenas os envolvidos? Chamar a polícia, para quê? Reclamar de um vidro quebrado? Esbravejar porque alguém violou algo seu?

Devemos, quem sabe, reavivar nosso “botãozinho” de ficarmos perplexos para que não aceitemos mais barbaridades como banalidades? Mesmo que não chamemos a polícia, tenhamos nosso direito legitimado de ficarmos atônitos com os desrespeitos que somos vítimas e testemunhas regularmente.

domingo, 25 de julho de 2010

Traumas de Guerra




O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) pode ocorrer em variadas situações, após um desastre natural, após testemunhar algo muito doloroso, após participação em guerras. Sobre esta última possibilidade falo aqui.

Apesar de os soldados serem treinados para uma batalha, matar e se proteger, isso não significa que milhares de militares voltem para casa não transtornados. Às vezes a perturbação está invisível aos outros, apenas na mente de quem a tem, porém em algum momento essa desordem vai aparecer.

O filme “Entre Irmãos”, de Jim Sheridan, com Tobey Maguire (Sam), Natalie Portman (Grace) e Jake Gyllenhaal (Tommy), trata de guerra, de família, do humano. As interpretações são ótimas e as meninas, filhas de Sam e Grace, nos emocionam. O filme é bom e é triste.

O TEPT também é personagem do filme. Quando surge, nos comove, como será possível superar tanta dor? As consequências pungentes da guerra, no caso a do Afeganistão, não se refere apenas ao território da batalha. Elas acompanham os homens que voltam para casa. No seu lar, o soldado tem dificuldade em realizar as tarefas comuns, em participar do diálogo familiar, em achar sentido nas coisas mais triviais, quando é invadido regularmente pelas lembranças sangrentas do que viveu na zona de guerra.

Para a família, não é sempre fácil compreender o que está ocorrendo. Ele está são e salvo, isso deveria bastar, mas não é assim para o combatente. Estar vivo pode significar estar morto. Algo morre em soldados que voltam para casa.

Muitos deles necessitam de um tratamento para recuperarem seu equilíbrio, para elaborarem as marcas dos acontecimentos e para falarem de suas desumanas recordações.

Nenhuma guerra é compreensível. Não há como entendermos o funcionamento da guerra. Nossa racionalidade não alcança tal crueldade. Uma memória pós-guerra é um desafio para a sanidade mental.


Para saber mais do filme “Entre Irmãos”:

http://www.entreirmaosofilme.com.br/#/?cc=&page=home

sábado, 24 de julho de 2010

O Lugar da Tristeza

Daniil Kirillov 123RF

Estar triste nos dias de hoje não é fácil. Não falo do próprio sentimento que pode ser bastante doloroso. Falo da “quase culpa” e da “quase acusação” existentes naquele que confessa seus sentimentos tristes.

Vivemos em um contexto em que estar triste é estar doente. O número expressivo de antidepressivos consumido nos indaga o que está acontecendo conosco. Estaremos todos deprimidos? Ou será que o avanço farmacológico nos empurra para um atalho na resolução de nossos conflitos?

Não estou, de maneira, alguma, inferindo que não exista depressão e mais, que ela não seja um dos males do século. Depressão existe e é um grande problema de saúde pública, que afasta as pessoas de seu trabalho, de sua família, de sua rotina. O que coloco aqui é outra coisa: é o lugar da tristeza que está desaparecendo, pegando carona na onda Prozac.

O triste não tem vez em nossa sociedade. Está triste? Vá para o shopping! Está triste? Use uma droga! Enfim, faça qualquer coisa, mas suma com isso. Esta é a mensagem oculta em várias palavras de “apoio”.

Claro que não se quer ruminar a tristeza, ficar cultivando-a, de maneira alguma! Porém, há momentos em que a tristeza deve ser ouvida, ganhar espaço para que ela se vá.

Enquanto não se olha para ela, vai permanecer escamoteada, mas continuará ali, à espera de um instante para surgir e com mais força.

A tristeza não deve ser temida e sim ouvida atentamente. Por fim, compreender qual é a sua função e obedecer ou ressignificar suas demandas para que siga o caminho da saída.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Palmadas

Robert Pasti 123RF

O projeto assinado por Lula, que será discutido pelos parlamentares, proibindo os pais de darem palmadas em seus filhos, gerou bastante discussão em diferentes meios sociais.

Não faço qualquer apologia à “palmada pedagógica”, ao contrário, sou muito contra esse “método” educativo; porém, não fecho os olhos para a questão de que o Estado interfere nos lares brasileiros ao tomar esta medida. Desse modo, apoio e não apoio a decisão presidencial.

Sabemos o quanto está confuso ser pai e ser mãe nos dias de hoje. As crianças parecem mais desafiadoras e independentes. Não está nada fácil encontrar o equilíbrio e a segurança necessários para confirmar que se está educando corretamente um filho. Assim, uma medida como esta atrapalha ainda mais a autoridade e a responsabilidade de pais e filhos.

Particularmente, não vejo a necessidade do castigo físico para a educação dos filhos ter sucesso, mas a assinatura de um projeto como esse necessita de um debate entre pais e especialistas, a fim de compreender o quanto há de prevenção nesta medida e o quanto há de exorbitância na atitude do Estado. Encontrando a medida certa, é possível proteger os pequenos e também os seus pais.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Andar na linha

Jody Vrugteveen 123RF

Pelo menos a maioria das pessoas consegue distinguir entre agir dentro das regras e se comportar fora delas. Muitas vezes burlamos o que é “mandado”, como dirigir um pouco acima das frequentes placas 80 km/h, na estrada, ou pagar a conta no dia do vencimento, ou comer “besteiras” que só fazem mal à saúde. Enfim, mesmo que reconheçamos o limite entre – entre aspas – o bem e o mal, podemos frequentar o inferninho de vez em quando.

Esse inferninho é o que nos faz humanos, é o que faz tolerar, com mais facilidade, as mancadas alheias e, se não formos carrascos, os nossos próprios erros. Lógico que nossa meta é adquirir uma boa qualidade de vida; porém, cabe a pergunta: será que o bem-estar não abarca escorregões esporádicos?

Como diz a frase, que não lembro a autoria, “a santidade cabe aos santos”. Desta maneira, podemos olhar com sorriso nossas imperfeições cotidianas ao mesmo tempo em que seguimos a listinha que construímos, visando melhorias na vida.

Vá à pizzaria, vá à academia, deixe sua casa bagunçada, faça uma faxina também. Há tempo para caminhar fora da linha e tempo para andar nela.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Polêmicas

Arunas Gabalis 123RF

Seleciono três assuntos polêmicos desta semana que termina.
Primeiro, na terça-feira, a Assembleia Nacional Francesa aprovou o projeto de lei que proíbe o véu islâmico integral em espaços públicos. Assim, entende-se que o uso de véus cobrindo o rosto está contra as regras da sociedade francesa.

Isso me fez pensar em A., uma moça muito querida que conheci quando morei na Inglaterra. A. é árabe, e estava na Inglaterra, porque seu marido fazia lá seu doutorado. Éramos colegas, convivemos por algumas semanas. Nenhuma vez, nenhum dia eu vi seu rosto. O que mais me lembro dela são seus olhos, única parte facial de fora, e suas mãos gesticulando, como que substituindo os movimentos da boca que não via.

Pensei no sofrimento de A. de não poder ir à França, visto que é impensável para mulheres religiosas como ela, mostrar rosto, cabelos e outras partes do corpo em lugares públicos.

Das três polêmicas que cito aqui, esta é a mais difícil para mim. Fico dividida entre pensar que o véu é uma opressão ao feminino e pensar que se trata de traços culturais que devem ser respeitados. Preciso de um tempo para pensar, quem sabe.

Segundo, o presidente Lula assinou um projeto que passará na Câmara e no Senado contra qualquer tipo de castigo corporal imposto pelos pais contra os filhos. Neste caso, facilmente me posiciono: sou contra palmada, beliscão, puxão de cabelo, qualquer coisa do gênero! Não consigo compreender como se dá uma educação a partir desta atitude.
Vejo a palmada e afins como formas que os adultos encontram para aliviar o estresse, a irritação provocada pela arte e desobediência do filho. Não um instrtumento educativo.

Tal projeto levantou muitas críticas; afinal há aí uma interferência do Estado na educação familiar. Porém, seus idealizadores afirmam que muitas das palmadas "evoluem" para surras, então, a lei seria uma maneira de evitar, ou uma tentativa de evitar, a violência doméstica. Além disso, a ação de Lula vai de encontro a uma lacuna no ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) que não especifica se os maus-tratos condenados, são morais ou físicos.

Terceiro, a Argentina se tornou o primeiro país da América Latina a conceder direitos civis aos casais formados por pessoas do mesmo sexo, isto é, casamento, herança, adoção, enfim, casais hetero e homossexuais são vistos, desde ontem, como iguais, com os mesmos direitos.

O Senado Argentino fez bonito.

Como a Argentina, outros países tratam os casamentos gay e hetero do mesmo modo. São eles: Holanda, Bélgica, Espanha, Canadá, África do Sul, Noruega, Suécia, Portugal, Islândia.

O lado B é formado por aqueles países em que têm pena de morte para os gays (sim, existe isso!?): Afeganistão, Iêmen, Irã, Somália, Arábia Saudita, Mauritânia, Sudão, Nigéria.

Polêmicas que preferi não comentar:

a. O caso do goleiro Bruno;

b. A pensão que Sthefany Brito vai receber, depois de seu casamento de nove meses, eu disse nove meses!, com o jogador Pato.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Mulheres e a Maternidade

Tetyana Kulikova 123RF

Li nesta semana, uma reportagem a respeito de um número significativo de mulheres que abandonam suas profissões para cuidarem de seus filhos. Não se trata de um retorno aos velhos tempos, quando as mulheres não conseguiam trabalho, pois eram esmagadas pelo machismo e pelas escassas vagas. Mas sim de uma nova forma de leitura da realidade.

Hoje em dia há uma aura de “supermulher”: ela deve cuidar da casa, do marido, dos filhos, fazer ginástica, ter boa aparência, ser uma profissional competente, ser culta, viajar etc. Nesse sentido, muitas mulheres estão mais do que estressadas com tal demanda.

Como uma resposta contra a corrente, algumas mulheres decidem abrir mão da profissão para estarem mais presentes na vida dos filhos. O desafio que elas têm, conforme suas próprias percepções, é de não se tornarem apenas “mães”, com assuntos restritos à maternidade.

Unir maternidade e trabalho é possível, quantas conhecemos que fazem isso? Mas abrir mão da profissão é uma alternativa. A escolha depende de você.

domingo, 11 de julho de 2010

Coração Louco


Não foi à toa que Jeff Bridges ganhou o Oscar de melhor ator neste ano por sua atuação em “Crazy Heart”. O filme conta a história de Bad Blake, um cantor e compositor country de 57 anos que vive de seus excessos: álcool, tabaco, ex-casamentos, quilômetros rodados em sua caminhonete, nomeada Bessy, para fazer shows em pequenos bares, boliches etc. Mesmo que talentoso, Bad não conseguiu estabilidade financeira nem um ritmo de vida saudável.

Ao conhecer a jornalista Jean (Maggie Glyllenhaal), ele inicia um resgate de suas potencialidades de vida, tentando mudar o rumo infeliz esperado de alguém que pouco cuida de si.

O filme é melancólico, um tanto triste, como é de se esperar quando o personagem principal é um sujeito fracassado. Vale ver pelas atuações, pela música e pela própria história muito próxima da vida real. Bad Blake está nas ruas, não necessariamente no mundo da música, mas certamente conseguimos reconhecer Bads do nosso cotidiano, pessoas que se perderam de si mesmas, porém, podem, eventualmente, se redescobrirem e mudarem seu final.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Encontro da Rede Brasileira de Prostitutas


mettus 123RF

Ontem (quinta-feira), às 18h30min, ocorreu a abertura do Encontro da Rede Brasileira de Prostitutas, em Porto Alegre. As cinco edições anteriores foram no Rio de Janeiro.

Profissionais do sexo e ativistas, de vários lugares do país, se reúnem para discutir questões como a normatização da profissão.

Conforme a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), a função prostituta consta como profissão legal, porém não há legislação que proteja os direitos trabalhistas das profissionais.

Uma entidade em Porto Alegre, o Núcleo de Estudos da Prostituição (NEP), coordena desde 1989 atividades destinadas às prostitutas, relacionadas a questões, como saúde, violência, direitos, autoestima etc. A meu ver, uma das principais lutas dos órgãos destinados às prostitutas, é fazer com que elas sejam vistas como cidadãs.

A “profissão mais antiga do mundo” mobiliza estigma, discriminação e preconceito. O fato de existir este Encontro e ser notícia na mídia são tentativas de convidar a sociedade para esta discussão, tão delicada e complexa.

Para quem quer saber mais:


quinta-feira, 8 de julho de 2010

Charge



A charge é um desenho, cujos objetivos, grosso modo, são criticar e satirizar os acontecimentos atuais. Em “apenas” uma ilustração, os (bons) chargistas conseguem mostrar um panorama da dita situação.

Ontem, mais uma vez, achei uma charge fantástica e é dela que falarei agora. Sempre fui fã de charges, desde muito tempo as confiro no jornal que leio.

Pois bem, a charge que cito é de Iotti, o mesmo, como sabem, autor do hilário Radicci. A descrição é a seguinte: em um muro há um ranking, informando que o Brasil ocupa a 85ª posição em educação e na Copa, o Brasil ficou na oitava. Em frente ao tal mural, quatro torcedores, com suas vuvuzelas e camisetas amarelas choram inconformado com a nossa colocação na Copa!

Nem precisaria seguir um comentário, mas é incrível como tal charge denuncia nossa atenção, preocupação e vontade de mudança no quesito educação. Provavelmente educadores e demais profissionais fiquem com o cabelo em pé, mas a população em geral crê, penso eu, que isso é assunto do Estado.

Não é apenas do Estado. Apesar de não termos a caneta para assinar projetos, podemos ter força, nos unir e gritar aos quatro ventos que não é possível o Brasil desejar fazer parte de decisões mundiais, quando ainda não dá conta de decisões internas.

O brasileiro precisar ser mais educado, não apenas nas relações cotidianas, mas saber falar corretamente, se expressar, escrever, pensar criticamente, analisar o contexto que vive. Sem estas ferramentas o mundo fica pequeno demais.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Lembranças

Tetyana Kulikova 123RF


As lembranças são as nossas companheiras, confirmando o que vivemos, pessoas que conhecemos, lugares que estivemos. Nada mais é tão real quando as pequenas imagens que surgem em nossa mente a partir de um perfume, de uma música, de uma data, de uma pessoa.

Papéis, tickets, fotos, roupas são formas concretas da recordação. A maior preciosidade está no que lembramos de nossas experiências. As lembranças sadias são aquelas que nos confortam no momento da saudade e nos fazem pensar que o tempo é outro, e o que temos de viver é o agora.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Jabulani


 
Eu não vi, me contaram: um menino nasceu, dias atrás, e recebeu o nome de Jabulani. Sim, uma homenagem à bola da Copa da África. Eu não havia pensado nessa possibilidade. Sei que acontece com personagens de novela: Jocastas, Daras, Jades e outros nomes que marcaram. Da dramaturgia foram para os cartórios. Mas com o nome da bola, achei que seria impossível, ainda mais um nome que nada tem a ver com o nosso idioma.

Não tenho dúvidas que os pais esperam que o bebê seja um craque da bola, quem sabe um novo rei? Pelo nome colocado à criança, podemos ter uma ideia da expectativa que se tem da prole.

Júlio César, nome de imperador. Elis, uma linda voz. Victoria, nome de rainha. Romeu, Jesus, Messias...e assim vai. Às vezes não é um nome com significado tão claro, mas com um dicionário ajuda a compreender. Outras vezes, não tem nada disso, os pais apenas gostam do som do nome ou é homenagem a alguém querido.

De qualquer maneira, buscar a origem de seu próprio nome pode não ter grandes descobertas, mas pode ser algo bem divertido. Talvez o menino Jabulani virá a ter o maior orgulho de seu inesquecível nome, só torço que ele goste de futebol.

Para descobrir o significado dos nomes:

http://www.portalbrasil.net/nomes/nomes.htm

http://www.ebb.com.br/nomes.php

domingo, 4 de julho de 2010

A Culpa é do Fidel


 
Perdi no cinema, mas não deixei passar na locadora. “A Culpa é do Fidel”, cuja direção é de Julie Gavras (filha de Costa-Gavras), é um filme francês gracioso e sensível sobre uma menina, Anna, de nove anos, que vê sua vida completamente modificada a partir dos ideais políticos de seus pais. Anna não é uma garotinha qualquer, é bastante inteligente, crítica e sensível.

Anna contesta as escolhas esquerdistas e ensinamentos que seus pais desejam lhe passar. As questões familiares e do olhar infantil são abordadas mediante os acontecimentos políticos que envolvem os pais de Anna. Ela percebe pouco a pouco a distância cada vez maior do que havia sido até então sua vida, e o que estava por ser.

Esta percepção se dá inicialmente de forma dolorosa. Quem sofre mudanças sem dor? Ainda mais quando a mudança não é sua especificamente, mas desencadeada pelo outro?

O interessante do filme, entre tantas coisas, é analisar como se dá esse processo na personagem-menina vivida pela excelente Nina Kervel. A partir do externo, Anna passa a ressignificar seus valores e sua visão nem sempre infantil de mundo. Além disso, é curioso ver a cultura francesa de envolver as crianças nas discussões políticas e sociais.

sábado, 3 de julho de 2010

Umidade




Desde criança, na casa dos meus pais, lido com a umidade. Verdade que naquela época apenas olhava o canto de uma determinada sala ser manchada e ficar à espera de uma pintura. Também me lembro das paredes e do piso dos banheiros molhados. “Suavam” no frio.

Quando vim morar em Pelotas, uma das cidades mais úmidas do planeta, tive a sorte de morar em apartamentos com uma geografia privilegiada, posição norte, essas coisas. Claro que continuava a testemunhar a umidade, mas nada que interferisse na minha vida.

Agora morando em uma casa nesta mesma cidade, igualmente com boa posição solar, sofro com o piso frio da minha residência úmido, os espelhos do banheiro embaçados e panos de limpeza que não secam naturalmente.

Hoje, sábado, felizmente, está um dia seco e descanso. Giz, potinhos de antimofo vendidos no súper, aquecedor, são várias as maneiras de diminuir os efeitos da umidade excessiva, mas nada como um dia seco.

No ano passado, quando morei na Inglaterra, também fui preparada para encarar a umidade. Felizmente, a cidade em que moramos, bem perto de Londres, vejam a ironia, era uma das mais secas daquele país.

O problema da umidade vai além das questões práticas, como manter toalhas molhadas e piso escorregadio, a gente se sente pesada, quase que embaçada tal como acontece com os vidros. Mas hoje comemoro, a umidade foi passear por outros campos e vou curtir enquanto ela não volta mais uma vez.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ai Ai Ai

O que dizer numa hora dessas? Nada. Aos poucos a ressaca vai passando e esqueceremos o dia de hoje, marcado pelo fim da Copa Africana para a nossa seleção.

O fator psicológico foi decisivo no segundo tempo. Não sou comentarista, mas foi fácil perceber a desestruturação dos nossos meninos nos 45 minutos finais.

Como Dunga falou, nenhum técnico prepara um time para perder, porém um suporte psicológico é fundamental para que os mecanismos necessários para lidar com uma crise, como uma virada no jogo, ajam com eficiência.

Certamente é uma gama de elementos que fez o Brasil murchar no segundo tempo. No primeiro tudo fluía, estava um futebol bonito e alegre. Depois do intervalo os onze de camisetas azuis desesperados, corriam para um lado e outro, sem qualquer sucesso.

De forma nenhuma culpo o Dunga, a responsabilidade pertence a todos que compõem a seleção brasileira, do cartola em sua mesa ao último jogador a sair do campo.

Perder faz parte, sabemos disso. Mas não perdemos para a Holanda, que fique claro, perdemos para nós mesmos, para nossas próprias fragilidades.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Um tempo melhor

oleksiy 123RF

Estou ficando velha. Só pode. Tenho tido tantos sustos com a realidade que a única explicação plausível é pensar que definitivamente estou envelhecendo. Aos 31 anos assim, já pensou aos 50? Acho que não aguento.

Aluno assaltou uma professora dentro de uma escola de Porto Alegre; trânsito caótico que chega às cidades médias: motoristas não respeitam sinal vermelho; motoqueiros que pilotam suas motos como se estivessem em um jogo de vídeo-game; meninas engravidando de pais e padrastos; mães que torturam e espancam suas filhas; corrupção ocorrendo como um espirro, em qualquer lugar. É demais, não é mesmo?

Provavelmente eu não estou sozinha nesse sentimento de absurdo que invade frente a tais fatos.

Habitamos uma sociedade com valores frequentemente invertidos, em que as pessoas estão sem referências, sem saber o que fazer, acreditando que tudo podem. O que nos resta? O que pessoas observadoras e críticas, como nós, podem fazer? Permanecer com nossa postura! Não vamos nos entregar!

Não é porque o mundo está um tanto caótico que vamos alimentar o caos. Somos nós a esperança, somos nós que ainda podemos lutar pelos valores, pelo bem, pelo certo. Podemos cansar, esbravejar, mas não desistiremos. Há de chegar um tempo melhor.