Fonte e trailer do filme em: http://www.imdb.com/title/tt1235124/
Na última segunda-feira (21/09/09), assisti “Dorian Gray”, filme lançado neste mês nos cinemas da Inglaterra. A direção é do britânico Oliver Parker e o elenco conta, dentre outros, com Colin Firth, Ben Chaplin e Ben Barnes. Como o título sugere, o enredo é baseado no livro de Oscar Wilde, “O Retrato de Dorian Gray”. Dorian (Barnes) é um lindo rapaz que tem sua vida alterada após dois eventos: a pintura de seu retrato, realizada por Basil (Chaplin), e a amizade com Lorde Henry (Firth).
Saindo da tela para as ruas, Dorian pode ser qualquer um e a época inglesa vitoriana pode ser transferida para os tempos atuais e para os mais diversos lugares do mundo. Porém, uma pergunta não precisa ser mudada, pois é atemporal: você é fiel a si mesmo?
Afinal de contas que pergunta é essa? Resumidamente, a questão é se você leva a vida que você acredita, se você adota valores e atitudes que você crê, faz escolhas considerando suas reflexões, sentimentos e seus desejos. Sem pestanejar, sei que o questionamento possui uma cor poética, mas no final das contas é para lá de muito prático.
A vibração do contexto pode nos influenciar a aceitar um trabalho que não condiz com nossas necessidades vitais de realização nessa área. Ou aceitar a ida a uma festa na casa de alguém que se comporta de maneira ofensiva para com os convidados. Ou almoçar com um colega que significa aquilo que você não quer para si. Quando nos perguntamos “O que estou fazendo aqui?” em tom quase indignado e não encontramos nenhuma resposta razoável, pronto! Aí está a pista de um resvalo!
Para manter sua fidelidade protegida, você acaba fazendo uma separação eu/outro e assim, mesmo com uma indisposição, suporta o que nada tem a ver com você. Ok. E quando você não identifica essa linha imaginária e adota as palavras do outro como as suas? Como Dorian tomava por suas as palavras de Henry.
Sim, isso pode acontecer. Sutilmente podemos embarcar em uma viagem em que parece que temos o controle do timão, sendo que é ele que nos controla. Você já leu depoimentos de pessoas que trabalhavam em excelentes postos de empresas, com um salário de invejar e que abandonaram tudo para viverem no campo, em uma pequena comunidade?
Por algum tempo esses senhores e essas senhoras, soponho, gozaram de uma vida que, posteriormente, descobriram não ser a melhor para eles. Não tiveram medo de críticas ou acusação de loucura; foram atrás da sensação de dormir em paz com seus travesseiros.
Ah, sobre o mais importante ainda não falei: como identificar se estamos sendo fieis a nós mesmos? Bem, por dentro, aquela “vozinha” da consciência fica muda ou apenas sorri, a gente pode não ter o trabalho com o mais alto salário ou com a mais bela sala. Mesmo assim, nós temos aquela sensação, a certeza de que a gente está fazendo o melhor possível dentro das nossas crenças, que não estamos nos traindo em prol dos valores alheios.
Podemos não querer entrar no ritmo da dança capitalista, em que a riqueza serve para desfilar em roupas de grifes famosas ou em carros recém-lançados. A busca por este status pode não ser a sua, o que não significa que não queiramos ou possamos vestir peças legais e ter um charmoso carro.
Há aqueles em que os bens materiais ou os hobbies vêm como consequência do estilo de vida e das crenças que têm e não como os principais objetivos. Já há aqueles em que a meta é ter o carro do ano, a viagem do ano, a roupa do ano etc. Tanto faz a nossa escolha, desde que estejamos certos que estamos em equilíbrio com a nossa consciência, que não estamos nos agredindo para sermos “melhor” vistos por outrem.
Havia dois Dorians. Um, dos salões, das conquistas sedutoras, das risadas alimentadas pelo álcool. Outro, materializando-se em um sótão escuro, local destinado ao que não se quer ver, ao que se coloca de lado, como se não existisse. A representação de si, simulada pela aparência, escondia o que ocorria por dentro de Dorian. Como os sentimentos, atos e pensamentos repercutiam em seus órgãos e em sua fisionomia. Quantos Dorians há por aí?
Cedo ou tarde quase todos nós percebemos se entramos em uma armadilha ou não. Cedo ou tarde podemos dar as costas e começar de novo. Cedo ou tarde podemos ir atrás do que acreditamos. Cedo ou tarde podemos renunciar às infidelidades. Cedo ou tarde. Dorian soube as verdades de suas escolhas e não fugiu de suas consequências: as aceitou como seu destino.
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