sábado, 24 de julho de 2010

O Lugar da Tristeza

Daniil Kirillov 123RF

Estar triste nos dias de hoje não é fácil. Não falo do próprio sentimento que pode ser bastante doloroso. Falo da “quase culpa” e da “quase acusação” existentes naquele que confessa seus sentimentos tristes.

Vivemos em um contexto em que estar triste é estar doente. O número expressivo de antidepressivos consumido nos indaga o que está acontecendo conosco. Estaremos todos deprimidos? Ou será que o avanço farmacológico nos empurra para um atalho na resolução de nossos conflitos?

Não estou, de maneira, alguma, inferindo que não exista depressão e mais, que ela não seja um dos males do século. Depressão existe e é um grande problema de saúde pública, que afasta as pessoas de seu trabalho, de sua família, de sua rotina. O que coloco aqui é outra coisa: é o lugar da tristeza que está desaparecendo, pegando carona na onda Prozac.

O triste não tem vez em nossa sociedade. Está triste? Vá para o shopping! Está triste? Use uma droga! Enfim, faça qualquer coisa, mas suma com isso. Esta é a mensagem oculta em várias palavras de “apoio”.

Claro que não se quer ruminar a tristeza, ficar cultivando-a, de maneira alguma! Porém, há momentos em que a tristeza deve ser ouvida, ganhar espaço para que ela se vá.

Enquanto não se olha para ela, vai permanecer escamoteada, mas continuará ali, à espera de um instante para surgir e com mais força.

A tristeza não deve ser temida e sim ouvida atentamente. Por fim, compreender qual é a sua função e obedecer ou ressignificar suas demandas para que siga o caminho da saída.

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