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O cardiologista francês Olivier Ameisen foi alcoólico por vários anos. Médico bem conceituado em Nova Iorque precisou renunciar ao seu ofício para lidar com o alcoolismo. Por diversas vezes foi internado em clínicas de reabilitação, se tratou com psicólogos e psiquiatras, frequentou reuniões do AA, tudo sem sucesso. A compulsão pela bebida e a fissura por ela lhe impediam de ter a sua vida de volta.
Além do sofrimento de lidar com a doença, ele precisava manejar com a dura realidade do preconceito. O “xis” da questão é que quase sempre o alcoolismo não é visto como uma doença, e sim como uma falha de caráter. Como se o alcoólico fosse uma pessoa fraca que não consegue dizer não para a garrafa de uísque que lhe sorri. A família, cansada e triste com a situação nem sempre consegue oferecer suporte, porque também ela fica doente. Assim, o alcoólico fica ainda mais vulnerável à dependência.
Ameisen sofreu muito durante anos e fez sofrer sua mãe, seus irmãos, namoradas e amigos. Mesmo com o apoio oferecido por todos, ele se sentia sozinho e refém de uma ansiedade fortíssima que o empurrava para o álcool porque este amenizava os sintomas ansiosos.
Após várias tentativas de diferentes manejos terapêuticos, Ameisen descobriu o baclofeno, um relaxante muscular que atua nos receptores GABA (ácido gama-aminobutírico, importante neurotransmissor ligado ao processo da ansiedade) e que ajudava a eliminar a vontade de usar o álcool. O remédio não era indicado, conforme sua bula, para fins terapêuticos em pacientes alcoólicos, mesmo assim fazia um papel revolucionário na luta contra a dependência.
Usando-se como cobaia e com resultado positivo, Ameisen escreveu um artigo científico sobre o benefício do uso do baclofeno na dependência do álcool. Nenhum ansiolítico, por exemplo, foi tão eficiente na ansiedade que o médico-paciente sentia, como o baclofeno. Com o desaparecimento da ansiedade e o fim da fissura, Ameisen enfim teve sua vida de volta.
A consequência final de tudo isso foi um livro intitulado “O Fim do Meu Vício”, editado este ano no Brasil. Com uma narrativa interessante, o autor compartilha sua experiência, divulga os resultados do baclofeno e assim tenta ajudar outros dependentes do álcool.
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