Eu arriscaria dizer que “O Mensageiro” faz parte do mesmo grupo de filmes que “Guerra ao Terror”. Ou seja, ambos são filmes que mostram facetas da guerra que não estamos habituados a assistir na grande tela. Contrariamente à maioria dos filmes de guerra, igualmente ambos não dão atenção aos grandes combates.
Contudo, são filmes, ao mesmo tempo, bem diferentes. Assim, enquanto “Guerra ao Terror” é sobre soldados que desarmam bombas, “O Mensageiro” conta a história de dois militares que possuem a difícil tarefa de informar as famílias acerca das mortes, ou de outros infortúnios, de soldados nas diversas missões militares que os Estados Unidos sustentam pelo mundo.
Dá para imaginar o quão difícil é para estes dois homens lidar com a dor da perda dos que recebem a triste notícia. Soma-se a isso, o fato de que ambos têm seus próprios problemas, suas próprias dores e suas próprias perdas.
O filme mesmo que, por alguns momentos, nos faça rir (o personagem de Woody Harrelson é particularmente muito engraçado, num tipo de humor politicamente nada correto), na verdade, ele nos entristece, porque denuncia muito como a vida é. Os personagens ali não têm glamour, tal qual na vida real. E as histórias são marcadas por acontecimentos que poderiam estar em qualquer lugar, entre quaisquer pessoas. Os eventos poderiam não ser uma experiência de guerra, mas qualquer outra com a mesma densidade afetiva.
O pano de fundo, claro, é a batalha, os confusos sentimentos que permeiam os que vão para a guerra e retornam, precisando reordenar suas escalas de valores e ações, tão caóticos em dias de luta.
Certa vez, assisti a um documentário, que agora me foge o nome, acerca do estresse pós-traumático vivido pelos soldados norte-americanos. É estarrecedor a dor que aqueles homens enfrentam após voltar para a rotina de paz. Após terem sofrido testes sistemáticos de sobrevivência, de risco de morrer a qualquer momento e necessitando matar, caso o contexto o obrigasse, estas pessoas não conseguem facilmente se readaptar à família, aos amigos, às cidades que viveram sempre. Os traumas não vão embora quando eles embarcam nos aviões de volta ao seu país natal.
“O Mensageiro” não suscita apenas isso, mas também trata disso. Fala da solidão, da sensação de estar perdido quando parece que nada mais faz sentido.
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