sexta-feira, 30 de abril de 2010

Avanços e Retrocessos


Nesta semana, soube duas notícias contrárias a respeito dos direitos homossexuais. De um lado, o avanço: um casal de mulheres de Bagé conquistou o direito de adotar, como casal, duas crianças. Até então era comum entre casais gays a adoção em nome de apenas um deles. Com a possibilidade de o casal adotar, ampliam os direitos da criança, em caso de morte de um deles ou separação, por exemplo. Abriu-se finalmente, o espaço para que casais homossexuais tenham o direito de ter seus filhos, legitimar sua família.

Já o retrocesso, testemunhei no Fantástico. No continente africano, muitos países condenam severamente quem é homossexual. A reportagem falou em Uganda, país que já postula como crime a homossexualidade, mas a prisão só ocorre se houver flagrante. Agora o que está por ser votado é que basta uma denúncia para prender um homossexual. A prisão pode ser perpétua ou até a condenação à morte, se o “criminoso” seduzir um menor do mesmo sexo (atenção que aqui não está sendo tratado caso de pedofilia em si!). A maioria da população de Uganda, pasmem, aprova as decisões do governo.

Um ex-bispo da Igreja Anglicana, em Uganda, saiu em defesa dos gays. Disse ele: “não podemos condenar o amor, porque esse amor é diferente. Não podemos compará-lo a crimes. É difícil aceitar e entender o que eles propõem”. A Igreja Anglicana decidiu afastar o bispo, pasmem mais uma vez.

Vários líderes mundiais, entre eles o presidente Obama, se manifestaram contra a posição de Uganda, porém em vão. O governo ugandês está inflexível. Na entrevista concedida ao repórter do Fantástico, um político, não lembro se foi o deputado autor do projeto ou um ministro do governo, disse que a homossexualidade pode ser boa no Brasil, por exemplo, mas não lá. Um dos argumentos para este projeto virar lei é o HIV, que acomete um milhão de ugandeses, sendo a população de 28 milhões. O governo diz que combater a homossexualidade é combater a AIDS. Sem comentários!

Interessante frisar que na África do Sul, é permitido, já há alguns anos, o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mesmo entre tantos países intolerantes com as sexualidades diversas, a África do Sul conseguiu se atualizar e legitimar as diferentes formas de amar.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

A Cadeira

Liudmila Sundikova 123RF


De vez em quando é bom não dizer quase nada. É melhor fazer perguntas, fazer o outro pensar com a gente. Quando é você quem questiona, suas respostas podem ficar apenas com você. Você ouve as palavras do outro, pensa nas suas e é isso. O outro pode perguntar, quem sabe, sua opinião, o que você responderia, mas talvez esteja tão envolvido em sua reflexão que apenas responda. Acho que não é bem um diálogo, apenas um parto de ideias, um olhar atento para algo que pode estar bem distraído. As questões podem ser polêmicas, subjetivas, afetivas, objetivas, enfim, o que importa é compartilhar com o outro o que você está pensando, seja com a sua resposta ou com a sua pergunta.

Aqui, no blog, não apenas as minhas respostas podem ser silenciosas para o leitor, mas também as dele para mim. O que importa, neste momento, é ouvir você mesmo, as suas próprias respostas. Às vezes estamos tão atrelados às pessoas em nossa volta, com tanta fome de informação, dúvidas, sugestões, apenas um bom papo etc., que nos esquecemos de ouvir o que temos a dizer para nós mesmos.



Com isso, pergunto: essa cadeira acima que você vê, quem você gostaria que a ocupasse? Com esta pessoa sentada nela, o que vocês conversariam, fariam? Por qual razão você escolheu esta pessoa? Com quem você quer estar, agora?

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Morrer com dignidade

Foto de Ramón Sampedro


A revista Veja desta semana traz na capa uma matéria acerca das condutas médicas frente a pacientes que desejam morrer para dar fim aos sofrimentos dos males que os abatem. O tema é polêmico, sem dúvida, não há uma opinião absoluta.

Ao ler as páginas sobre o assunto, lembrei do emocionante filme “Mar Adentro” em que retrata a luta de Ramón Sampedro pelo direito de pôr fim a sua própria vida. Ramón ficou tetraplégico após um acidente, quando tinha 26 anos, e passou quase três décadas em cima de uma cama. Sua luta na justiça espanhola durou cinco anos. Não lhe foi concedido o direito à eutanásia. Assim, ele planejou sua morte de uma forma que não incriminasse nenhum de seus amigos e familiares. Em janeiro de 1998, Ramón foi encontrado morto, consequência de ingestão de veneno.

Não há como ser simplesmente contra ou a favor de um paciente decidir pelo fim de sua vida. Há casos e casos. Há pessoas que estão em depressão ou apenas cansadas, mas que há perspectivas de viver mais e quem sabe, muito bem. Há outras que chegaram ao fim da linha, que nenhuma intervenção médica ou farmacológica trará a cura. Reconhecer entre um caso e outro não é para qualquer um.

Dogmas, ignorância e dúvidas podem confundir e não levar a lugar nenhum. Reconhecer a finitude humana é o primeiro passo. O segundo é valorizar a vida com dignidade, não apenas a vida em si. De acordo com o contexto, a participação familiar, a perspectiva de viver bem, a vontade do paciente, sua consciência e discernimento a respeito de seu desejo, morrer pode não ser a pior coisa. Respeitar a vontade do paciente, quando ele quer apenas “dormir”, como fala uma mãe, na revista, sobre sua filha de 12 anos que não aguentava mais os seis anos de luta contra a leucemia que acabou por invadir os demais órgãos e, assim, a menina pediu à mãe que a deixasse “dormir”, faz pensar que mesmo que muito dolorosa a partida e a saudade, morrer com dignidade é um direito de todos nós.



Para quem quer saber mais:

Livro “Cartas do Inferno” – Ramón Sampedro.

Filme “Mar Adentro”, direção de Alejandro Amenábar.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Propaganda

Studio Porto Sabbia 123RF

Jamais poderia ser publicitária. Não tenho criatividade para tanto. Sou fã desses profissionais. Fico comovida com a capacidade criativa que os bons profissionais dessa área têm. Todavia, sou daquelas que, na maioria das vezes, baixa o volume da televisão na hora do comercial. Faço isso porque, infelizmente, não há tantos publicitários competentes e muitas campanhas são apenas apelativas e de pouco bom gosto.

Claro que sei que alguns produtos são mais fáceis que outros para vender em alguns minutos. Por exemplo, pasta de dente. Diga-me uma propaganda superlegal de uma pasta dental? Não conheço nenhuma! Quase sempre é um dentista (é de verdade mesmo?) falando sobre pesquisas feitas com tal pasta etc. Enfim, tudo sem graça e repetitivo. Reconheço: vender pasta de dente não é fácil.

Aliás, há repetição de ideias em diversas campanhas. Por exemplo: propaganda de carro, geralmente, traz a cena de um homem dirigindo seu carro veloz e potente. Há exceções, felizmente. Vi, dia desses uma com animais e com o carro que parecia de brinquedo, achei uma graça.

O mesmo para vale para cerveja, sempre machista, com mulheres seminuas. Porém, algumas conseguem sair da mesmice e nos fazer rir. Até algumas alicerçadas em clichês podem nos capturar. Rendi-me àquela do “ão”, sabem?

2010 é ano de Copa do Mundo. Então você já viu, literalmente, que as propagandas começaram a entrar no clima. Daqui a pouco não verei a hora dos jogos começarem não apenas porque curto futebol, mas para dar fim às propagandas “canarinho”.

As de supermercado são desinteressantes, mesmo as que não mostram apenas os preços, mas clientes sorridentes entre os corredores me fazem corar. Quem sorri no super com os preços que vemos nas prateleiras?

Sei que é um desafio vender, eta tarefa difícil! Parabéns para aqueles que conseguem com sucesso vender com criatividade. Nós, telespectadores, agradecemos quando vale a pena deixar o volume alto na hora do intervalo.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Distrito 9

O filme “Distrito 9” não é para todo mundo. Principalmente por causa da violência. O enredo é o seguinte: em Joanesburgo, África do Sul, uma gigantesca nave estaciona sobre parte da cidade. As autoridades descobrem que dentro dela estão milhões de alienígenas desnutridos, doentes, em sofrimento. A nave estragou e eles não conseguem voltar para seu planeta. Desta maneira, na cidade é criada uma área destinada para eles, é cercada a fim de evitar, sem sucesso, a mistura entre humanos e alienígenas. Nesta “favela”, muitos crimes ocorrem, a desordem impera e o governo resolve transferir os extraterrestres para outro local. Não continuo para não perder a graça de quem ainda não viu e quer assistir.

O filme é um impacto pela violência, porém não só por ela, mas predominantemente pela precariedade humana dos ditos humanos.

Os “ETs” são “os outros”, os estranhos, os “do mal”, mas o filme denuncia que essa separação não existe, e que os ETs estão certos e errados, dependendo do contexto. Aliás, a gente “torce” para os alienígenas, são eles os que nos causam empatia, apesar da aparência um tanto repugnante. Os seres humanos, em “Distrito 9”, são os preconceituosos, os que discriminam, os que não se colocam no lugar do outro, os que não compreendem a diferença do outro.

No fim das contas, não estamos falando de seres de outros planetas, estamos falando de negros, índios, homossexuais, judeus, palestinos, enfim, grupos que uma vez e outra se sentem segregados por parte da sociedade que não consegue lidar com o diferente e compreendê-lo. Os alienígenas de “Distrito 9” são tão gente como você e eu: a metáfora é clara.

Como mencionei no início do texto, não é filme para todo mundo, mas para quem se sentir atraído pela sinopse, afirmo: vale a pena.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Denis and Yulia Pogostins 123RF

Sumi. Estou de mudança. Literalmente. Mudar de casa exige tempo. Tempo para empacotar, desempacotar e, além disso, tempo afetivo de desconstruir o lar anterior e assumir o novo. Tempo para dar toque pessoal ao novo ambiente. Tempo para se habituar com o lugar das coisas. Tempo para várias decisões. Tempo para ser prática sem perder o charme. Entrega quase total ao novo ninho.

Espero que nos próximos dias consiga ter condições de escrever, pensar e escrever. Estou com saudades.
Um beijo!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Stanko Mravljak 123RF

"As pessoas, em sua maioria, ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas, quando na verdade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas. "
Norman Mailer  

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Fazendo história

Daniil Kirillov

Com pouco tempo e muita vontade de escrever, decidi como pauta de hoje descobrir o que aconteceu neste dia (15 de abril) em tempos passados. Registro a seguir alguns dos acontecimentos:

Em 15 de abril de...

1452 nasceu Leonardo da Vinci

1865 faleceu Abrahan Lincoln, presidente norte-americano

1912 ocorreu o naufrágio do Titanic

1918 aconteceu o primeiro voo sobre a Cordilheira dos Andes

1980 morreu Jean-Paul Sartre

1990 morreu Greta Garbo

Essa seleção que fiz assinala o quanto nascimentos e mortes marcam as épocas, além disso, as descobertas ou as novidades, como o primeiro voo feito nas Cordilheiras. Outros fatos que aqui não coloquei têm a ver com a política, outra temática importante para a história.

Sabe aquela briga que você teve com seu irmão ou com seu namorado? Sabe aquele dia em que tudo parecia dar errado? E aquele outro que você teve dores de barriga de tão nervoso por causa de um trabalho? E, para acabar, aquele dia em que você bateu o carro de raspão? Talvez você nem se lembre justamente porque todos esses dias não vão marcar a sua história. Eles passaram como os problemas diários que os acompanharam.

Faça sua própria história lembrando que o que fica são os momentos fortes. Nem tudo é importante, muita coisa vai embora para o ralo, mas o que fica pode fazer e muito viver valer a pena.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

The Pacific


No domingo, ocorreu a primeira parte da série “The Pacific” (na HBO, às 22h) produzida por Steven Spielberg e Tom Hanks, os mesmos de “Band of Brothers”, outra minissérie com a mesma temática: a segunda guerra mundial.

Em “The Pacific” o cenário, como o nome sugere, é o Pacífico, e os inimigos não são nem os alemães nem os italianos, mas os japoneses. À primeira vista, a série, em minha leiga opinião, agradou.

O que causa mais impacto, claro, é a própria guerra. Mesmo que vejamos centenas de produções do gênero, não há como não se sensibilizar com homens lutando, principalmente, contra seus próprios medos. A marca humana, a racionalidade, característica que nos difere dos macacos, se torna completamente enfraquecida e distorcida.

Não estou querendo dizer que os americanos, assim como os russos, por exemplo, não deveriam ter participado da Segunda Grande Guerra. Eles foram fundamentais para acabar com a “maluquice” começada por Hitler. Sei claramente de que lado estou; porém, isso não faz diminuir a percepção de quão violenta, burra e cruel uma guerra é.

Há uma cena no primeiro episódio muito forte: um soldado japonês está prestes a morrer, após fogo cruzado, ele está em pé e com gritos enfrenta o exército inimigo. Balas atingem seu corpo em órgãos não fatais, um certo “sadismo”, digamos assim, de alguns soldados americanos que desejam a morte lenta do rival. Até que um dos fuzileiros, apenas espectador do acontecimento, finalizou a agonia do japonês ao atirar contra um órgão vital.

Interpreta-se a cena como o momento em que o soldado americano percebe que o inimigo é igual a ele, que não é nenhum monstro, apenas um homem servindo ao seu país. Após esta cena, o mesmo soldado olha os pertences na mochila do japonês. Uma foto, talvez dos pais do soldado nipônico, uma bonequinha típica do Japão, provavelmente um presente de despedida, enfim, o americano vê o inimigo não como simplesmente um alvo, mas como um ser humano. Aquele homem, seu inimigo, é igual a ele. Isso é o mais triste e difícil nas histórias de guerras.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

“Ser diferente é normal”

Denis and Yulia Pogostins 123RF


Viver não é fácil. Somos todos diferentes, mesmo que sejamos da mesma espécie, Homo Sapiens Sapiens. No decorrer do processo social, a normatização e a normalização do comportamento humano construíram preconceitos, discriminações e estigmas à medida que regras eram ditadas classificando o que estava certo e o que estava errado. A ideia era unir os “iguais” e deixar à margem os que eram diferentes, os “outros”. Isso começou há séculos e não terminou.

A sociedade, sim nós!, reproduzimos leis sociais que tentam padronizar todas as criaturas. Deste jeito, o sujeito modelo é: homem, branco, heterossexual, ocidental. Mulheres, Negros, Índios, Intersex, Travestis, Trans/Homo/Bissexuais e Orientais precisam de um reforço na mochila para lidar com o preconceito e com a discriminação. Cada vez menores, é verdade, e ainda bem (claro que há outros grupos que são alvo de preconceito, aqui tomei as características mais gerais).

Não compreendo como alguém pode definir o outro como inferior pelo gênero, pela cor de sua pele, por quem a pessoa leva para a cama e para qual lado do planeta a pessoa nasceu (tudo não parece ridículo?). Nada disso faz sentido.

Lógico que a história, Michel Foucault, a filosofia, a psicologia, as ciências sociais, a educação, enfim, as várias ciências explicam direitinho esse esquema. Compreender alguns destes pensamentos ajuda a ter paciência e argumentos na luta contra a burrice, ops!, contra o preconceito.

No fim das contas, é tudo gente, varia a educação, o lugar onde se vive, o modo de ver a vida; mas todos têm cabeça, cabelo, mãos e pés. Somos iguais sendo diferentes. Sei bem que isso é querer simplificar as coisas, mas, de vez em quando, simplificar faz bem. Se cada um pensasse um pouquinho que as diferenças existem para dar mais liberdade a você querer ser o que quiser, o preconceito perderia força.

Viver não é fácil, sendo “rotulado” como “diferente”, de forma pejorativa, é ainda menos fácil. Se você se acha tão dentro das “normas”, cuidado! Logo você vai descobrir a diferença em você e, quem sabe, se surpreender positivamente com isso.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Corre-Corre

mayamaya 123RF


Já estamos no quarto mês do ano. Quarto! Não parece que o tempo voou? Não parece que foi ontem o primeiro do ano? Cada vez mais, temos a sensação de o tempo correr. Como se estivéssemos em uma esteira que não para nunca. Estamos frequentemente olhando o velocímetro ou o relógio. Sempre atentos para não haver atraso ou esquecimento.

“Correria” é uma palavra usualmente empregada para caracterizarmos nosso cotidiano. Estamos correndo, então não conseguimos dar conta dos prazeres e deveres que assumimos. Renunciamos ora a um ora a outro. Ainda recordamos de como antigamente tudo era mais lento, melhor, tudo era mais tranquilo.

Atualmente, temos tecnologias que nos fazem adotar ainda mais compromissos. Por causa das facilidades dos celulares, dos laptops passamos a ter menos tempo conosco e mais tempo com a agenda. O que poderia facilmente ser deixado, sem qualquer grave consequência, para amanhã é realizado hoje. Apressadamente.

Nossa relação com o tempo está mudando, ou já mudou mesmo. Vivemos o ócio com culpa, nos cobramos por qualquer coisa, como se estivéssemos nos introjetado uma ampulheta em que o prazo estivesse terminando.

Frequentemente podemos acabar o dia pensando em várias coisas que não foram feitas, escrevemos lembretes, anotamos na agenda coisas que não podemos esquecer. Tempo curto para tantas coisas.

Penso que é isso aí, não poderemos desacelerar a velocidade do mundo. Nosso desafio é buscar a saúde no meio de tanto corre-corre. Buscarmos momentos de lazer para respiramos. Procurarmos todos os dias selecionar o que é possível fazer e o que é desejável postergar. Aliviar a culpa por não ser super-herói. Manter em equilíbrio a responsabilidade e a sensatez. Sabedoria e paciência para lidar com o trânsito cada vez mais doido, pessoas cada vez mais ocupadas e com o tempo que parece cada vez menor. Necessitamos encontrar um jeito de viver o tempo sem se queixar de seu tamanho.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Eduardo Kac

Kac regando florEdunia

Uma exposição no Rio de Janeiro, no Oi Futuro, marcou a comemoração dos trinta anos de carreira do artista plástico Eduardo Kac. Carioca da gema, Kac mora há vários nos Estados Unidos. Sua obra mais famosa e polêmica foi “GFP Bunny”, de 2000. Tratava-se de uma coelhinha que, com os meios da Engenharia Genética, se tornou fluorescente. Melhor, uma coelhinha com GFP (Green Fluorescent Protein). A Coelha Alba foi criada com um gene encontrado na água-viva; dessa forma, quando uma luz azul é incidida sobre ela, seu corpo fica verde.

Estando no Rio, decidi ir ao Flamengo e ver a exposição intitulada “Eduardo Kac: Lagoglifos, Biotopos e Obras Transgênicas”. Estava disposta a viver uma experiência nova e que mobilizaria bastante estranhamento, ainda mais que não sou do campo da arte.

Vivi o que mais ou menos havia imaginado. O que vemos em uma exposição como estas não são quadros como os de Picasso, Veermer, ou esculturas de Claudel, Rodin. O que vemos são coisas que não estamos acostumados, como a florEdunia, onde há uma mistura genética do DNA da petúnia e do DNA do artista. Kac é pioneiro da bioarte e da arte transgênica.

Mesmo que o estranhamento ainda permaneça, foi muito interessante a visita. Entregar-se ao desconhecido ou ao que não estamos habituados é uma experimentação difícil para colocar em palavras, pois está mais na ordem do sentir. O que se pode dizer é que vale a pena.

Vivemos em tempos que urgimos de explicações, resultados, produtividade que o encontro com a arte nos chama para a vida real, para a criatividade e as possibilidades de existir. Kac é fenomenal, como tantos outros, em nos mover para fora de nossa rotina-bolha.

Para saber mais: http://www.ekac.org/

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Vamos tirar a pedra do caminho?


Hoje é o Dia Mundial da Saúde. O que falar a respeito? Das inúmeras pesquisas que nos presenteiam com descobertas importantes e medicações cada vez mais eficazes? Comentar que mesmo que o SUS não seja perfeito, mas permite que qualquer pessoa neste país seja atendida ou tenha ao menos este direito? Falar sobre a dengue, a gripe suína?

Em uma reportagem da rede Globo, uma psiquiatra me sensibilizou ao dizer que a sociedade se une, por exemplo, na luta contra a dengue, mas contra o crack nada ou pouco se faz. A matéria jornalística em questão era sobre uma zona de Brasília tomada por usuários da droga.

A RBS, mais uma vez, lançou a já conhecida campanha “Crack, nem pensar”. A empresa convida ao debate, junto de seus colaboradores sobre essa epidemia que vemos silenciosamente, ou nem tanto, avançar entre as mais diversas camadas sociais.

Os dependentes renunciam a suas próprias vidas pela dependência. Pelas particularidades do crack, seu alto poder viciante, os usuários se perdem de seus caminhos e vivem apenas para o “cachimbo”. Isso não é apenas um problema dele ou de sua família. É um problema de saúde pública. É um sintoma de uma sociedade doente, vulnerável para a vida.

Sem moralismos. Nada de ficar apontando o dedo em tom de acusação. Precisamos parar, observar e analisar de que forma governos e a sociedade podem colaborar para que essa epidemia não cresça. Estimular e ajudar a manter atividades que efetivamente ajudam muitos dependentes a viver sem a droga. Alertar famílias para que busquem o tratamento adequado e que também elas se cuidem, porque não é apenas o usuário de drogas que adoece nesse contexto. Todos sofrem: familiares, amigos e o próprio dependente, é claro.

Precisamos estar juntos nessa luta, assumirmos que é uma questão social, por isso de todos nós. A campanha da RBS dá o pontapé nessa batalha que sabemos que é longa, mas nem por isso devemos desistir dela.

Crack, nem pensar.

Para saber mais:


terça-feira, 6 de abril de 2010

Sem Anestesia

mayamaya 123RF

“Eu não sei o que dizer”. Há momentos que reagimos desse jeito, não? Coisas que nos pegam de surpresa, que nos desconcertam, que nos exigem tempo para digerir e pensar a respeito. Às vezes são coisas que acontecem no nosso mundo particular, uma briga, uma traição, uma falha; outras, no mundo coletivo mesmo, um crime, um desatino, uma tragédia.

Não estamos sempre preparados para os enfrentamentos. Nem sempre estamos aptos a lidar imediatamente com algum fato, com alguma coisa. Somos mobilizados, tocados. Isso dá medo. E o medo ainda é maior para quem tem suas “ferramentas” mais frágeis do que o desejado.

Assim, a anestesia acaba sendo uma opção fácil e parece evitar a dor e a frustração. Anestesiar significa não se deixar tocar pelo que acontece. Como se a pele impedisse a entrada do que é doloroso e que pode mexer na homeostase, isto é, no equilíbrio.

Dessa forma, estas pessoas podem parecer mais zumbis que gente. Robôs nada ou pouco suscetíveis à dor sentida pelos de carne e osso. O uso de drogas, por exemplo, é um jeito encontrado para anestesiar, insensibilizar. A "viagem" ocupa o lugar da realidade.

Não é fácil mesmo ficar calado, sem saber o que dizer, pensar e apenas sentir, sentir, sentir. Abdicar disso pode ser feito inconscientemente com o intuito de se proteger. A ideia é tentar sair da casca, enfrentar a vida e suas dores, lembrando que há também muitas coisas maravilhosas no meio dos espinhos.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Homem



Ele tem uma vida difícil. Tem 35 anos. Deixou sua esposa, suas duas filhas, sua casa em função do alcoolismo. Vive nas ruas, especificamente na mesma esquina, há dez anos. É guardador de carros, isto é, vive de esmolas disfarçadas por este pseudo trabalho. Perto da páscoa, resolveu visitar suas filhas, quem sabe com alguns chocolates. Depois, foi ao Estádio Olímpico, ver seu time, o Grêmio, jogar. Para finalizar a noite, comprou uma bebida e comemorou com ela a chegada do feriadão. Dormiu no lugar de sempre.

Quando acordou, este homem não se reconheceu. Estava diferente. Talvez ainda meio tonto da ressaca, poderia ter pensado que aquilo era um sonho. Até perceber que não, algo havia acontecido.

Enquanto este morador de rua dormia, uma pessoa ou um grupo resolveu “quebrar a rotina”, “variar”, “aumentar a adrenalina”, sei lá o que se passou nesta(s) cabeça(s), enfim decidiu(ram) pintar de prateado o homem que dormia ao relento. Mais tarde, duas pessoas pararam o carro, viram aquele homem prateado e resolveram dar um “acabamento” na “obra”. Um deles fez xixi em suas pernas. O homem continuava dormindo o sono embriagado. O que faz com que a diversão de uns necessariamente esteja ligada à violência, à humilhação de outrem?

O morador das ruas de Porto Alegre ganhou espaço nos telejornais, na sexta-feira, com sua triste história. Ele foi vítima da covardia, da maldade, da falta de respeito, da insensibilidade de criaturas que se julgam de outra espécie. Talvez compreendam o homem sem casa como não indivíduo, como não dotado de direitos, de sentimentos, como se ele fosse um ser inanimado. Uma barbárie.

Não apenas Vanderlei, este é o nome da vítima, foi humilhado, mas todos nós. Buscamos uma redenção, talvez, pela punição destes marginais, isso pode ser uma esperança de que nenhum ato de maldade ficará impune e o melhor, que não mais aconteça.



“Tenho certeza que foi uma pessoa que não tem coração” (Vanderlei)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Dia da Mentira

Hoje é primeiro de abril. Desde pequenos, na escola, entre colegas, aprendemos o que significa esta data. Brincadeiras, mentiras inocentes, o objetivo era sempre “homenagear” o dia. A desconfiança permanecia até o anoitecer. Um telefonema poderia ser trote, uma notícia; uma farra.

São muitas as explicações sobre esta data. Podemos optar por compreendê-la como um número do calendário em que usamos a mentira tão mal-falada, tão criticada e tão indesejada para se divertir. Claro que com bom senso!

Neste dia, o espírito é ter bom humor frente à mentira que às vezes nos aparece. Mesmo que a odiemos, uma vez na vida nos rendemos a ela! Mais. Sejamos francos, quem um dia não disse uma mentirinha? Inocente, mas uma mentira?

Ela faz parte da sociedade e dizem uns, necessária, para uma certa ordem. Essa seria a mentira do bem. A do mal é aquela que fere, que destrói, que é desleal. A “mentira branca”, chamemos assim, é inocente, chegando a ser tola.

O filme comédia e meio bobo, “O Mentiroso”, com Jim Carrey, poderia ser uma lição de como algumas pessoas, como o personagem principal, adotam a mentira como um pano de fundo. Claro que não desejamos isso para nós nem para quem está conosco; porém, esse mesmo filme, também mostra que se dizer mentira incomoda, dizer a verdade, muitas vezes, também. Mas isso já é assunto para outro texto...