segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Homem



Ele tem uma vida difícil. Tem 35 anos. Deixou sua esposa, suas duas filhas, sua casa em função do alcoolismo. Vive nas ruas, especificamente na mesma esquina, há dez anos. É guardador de carros, isto é, vive de esmolas disfarçadas por este pseudo trabalho. Perto da páscoa, resolveu visitar suas filhas, quem sabe com alguns chocolates. Depois, foi ao Estádio Olímpico, ver seu time, o Grêmio, jogar. Para finalizar a noite, comprou uma bebida e comemorou com ela a chegada do feriadão. Dormiu no lugar de sempre.

Quando acordou, este homem não se reconheceu. Estava diferente. Talvez ainda meio tonto da ressaca, poderia ter pensado que aquilo era um sonho. Até perceber que não, algo havia acontecido.

Enquanto este morador de rua dormia, uma pessoa ou um grupo resolveu “quebrar a rotina”, “variar”, “aumentar a adrenalina”, sei lá o que se passou nesta(s) cabeça(s), enfim decidiu(ram) pintar de prateado o homem que dormia ao relento. Mais tarde, duas pessoas pararam o carro, viram aquele homem prateado e resolveram dar um “acabamento” na “obra”. Um deles fez xixi em suas pernas. O homem continuava dormindo o sono embriagado. O que faz com que a diversão de uns necessariamente esteja ligada à violência, à humilhação de outrem?

O morador das ruas de Porto Alegre ganhou espaço nos telejornais, na sexta-feira, com sua triste história. Ele foi vítima da covardia, da maldade, da falta de respeito, da insensibilidade de criaturas que se julgam de outra espécie. Talvez compreendam o homem sem casa como não indivíduo, como não dotado de direitos, de sentimentos, como se ele fosse um ser inanimado. Uma barbárie.

Não apenas Vanderlei, este é o nome da vítima, foi humilhado, mas todos nós. Buscamos uma redenção, talvez, pela punição destes marginais, isso pode ser uma esperança de que nenhum ato de maldade ficará impune e o melhor, que não mais aconteça.



“Tenho certeza que foi uma pessoa que não tem coração” (Vanderlei)

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