sábado, 29 de maio de 2010

O outro lado da educação

Karam Miri 123RF

Com certa regularidade tenho contato com professores. Estou assustada com o baixo preparo dos nossos educadores. No Zero Hora de domingo (30/05), uma reportagem especial deu atenção a esta classe. Não falarei disso. Apenas comentarei o que tenho visto nos últimos tempos.

Antes de qualquer coisa, preciso esclarecer que há professores muito competentes que não merecem qualquer crítica. Meu assunto se dedica àqueles que precisariam de uma reciclagem ou de um preparo prévio mais qualificado.

Não podemos deixar de lado o baixo salário “professoral” e o baixo status da profissão. São fatos que influenciam negativamente a classe. Tal profissão, para a maioria, infelizmente, não é escolha, é “o que deu para fazer”. Mais uma vez afirmo: há educadores por vocação sim. Falo de outra parte.

Sendo então não por opção, mas “o que deu”, muitos estudantes de pedagogia se tornam profissionais poucos identificados com a rotina escolar: estudo e alunos.

Além disso, há questão séria de baixo nível cultural entre tais estudantes/profissionais. Não estou falando de dinheiro, nada disso, me refiro às pessoas que têm pouco conhecimento acerca de história, cultura, arte, dos acontecimentos atuais, da língua portuguesa e, por fim, com pouca capacidade crítica de se posicionar frente a uma discussão.

Percebo muitos educadores patinando no discurso da mesmice, exigindo melhores salários, com razão, mas com pouca bagagem profissional. Educadores medíocres são deles que falo e não daqueles que orgulham esta porção tão fundamental de nossa sociedade: a educação.

Gostaria de poder sugerir uma receita para colocar tudo em ordem. Não sei. O que tenho certeza é que precisamos, todos nós, olhar com mais exigência e seriedade a situação de muitos dos nossos professores que escrevem errado, que não fazem uma pós-graduação competente, enfim, que estão tão paralisados e defasados como seus salários.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

A Vida Alheia



Sou suspeita. Tudo que já testemunhei de Miguel Falabella, gostei. Acho um cara inteligente, ousado, de vanguarda e com um humor sutil, o que é difícil de encontrar por aí.

Com o programa de quinta, “A Vida Alheia”, não foi diferente. Humor inteligente, história bem construída e elenco de primeira o fazem ser um dos programas mais bacanas do canal aberto, em minha opinião.

Trata-se de uma redação de uma revista de “celebridades”, em que jornalistas e fotógrafos buscam a todo preço uma capa escandalosa e furos de notícia do meio dos “famosos”.

O slogan da revista é: “A vida alheia é mais interessante que a sua.” Vai direto ao voyeurismo, característica humana e exagerada em muitos de nós. O diferencial da série é que não pega tanto o lado do leitor, mas o lado das “celebridades” que sofrem ou vibram com as reportagens sensacionalistas.

Alberta Peçanha, personagem da maravilhosa Claudia Jimenez, é a redatora chefe e quem tem mais do que todo mundo o olhar certeiro do “sucesso”. Catarina Faissol, personagem da não menos competente Marília Pêra, é a dona da revista, é aquela que fala sorrindo, mesmo que suas palavras não combinem com a simpatia do riso.

Danielle Winits, no papel de Manuela, uma jornalista ambiciosa que sabe fazer bem o que faz. Para fechar o quarteto principal, Paulinho Vilhena, que vive Lírio, talvez o mais sensível dos profissionais da revista no que diz respeito aos dramas humanos.

Se você ainda não viu, sugiro. Depende de cada gosto, é claro. O horário não ajuda, depois de “A Grande Família”, mas que vale a pena dormir mais tarde pelo programa, vale mesmo.

Não garanto que a vida alheia é mais interessante que a sua, mas aposto que “A Vida Alheia” é mais interessante que muitos programas que rondam por aí.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Ausência de pai

Robert Ellferich 123RF


Não escreverei sobre os milhares de lares em que o chefe da família é uma mulher. Não escreverei sobre pessoas que não têm mais seus pais vivos. Escrevo sobre a ideia de pai.

Na psicanálise, ideia de pai quer dizer ideia de autoridade, de limite, enfim, do superego.

Hoje, constatamos rapidamente pelas notícias do jornal, pelo que testemunhamos ou que nos contam que há ausência de pai.

Pessoas sem limites, sem respeito às regras e ao próximo. Entes perdidos em seu caminho, sem saber o que fazer e para onde ir. Arriscam-se no trânsito, nas baladas, nas relações. Uma forma de saber existir, de testar não apenas os limites colocados pela sociedade, mas limites de si próprio, de seu corpo.

Pouco amor e apego à vida, como se não houvesse o porquê de um cuidado, da prudência. Respeito ralo ao que é certo. O dever sendo esmagado pelos direitos, ao invés de ambos terem o mesmo peso.

Ausência de pai é confusão entre o que pode e o que não pode. Significa linhas falhas que delimitam o seu território e, consequentemente, o do outro. A ausência, como já dito, não é física, corporal, mas imaginária, pano de fundo de uma sociedade organizada e respeitosa.

Lógico que há para muitos, ainda bem, presença de pai. Pessoas que olham para os lados, que se importam com o coletivo e com o correto das coisas. São estes sujeitos que seguram as pontas para que não haja ausência de sociedade.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Bebê Brother? Nem pensar!


Li numa revista ou num jornal, não lembro ao certo, que a novidade de algumas maternidades dos grandes centros é o fato de viabilizarem o parto pela internet. Isto é, a futura mãe terá seu rebento frente a câmeras que levarão imagens aos familiares. Para ter acesso, é dada uma senha para tios, avós que estão longe do hospital.

Há alguns “cuidados”: não são mostradas cenas de cortes e os partos de risco não se enquadram nesta nova modalidade.

Na reportagem, familiares felizes acompanhando de longe toda a intimidade de pais e filho. Só eu, talvez, que não fiquei lá muito contente. Bastante estranho um momento tão íntimo, tão privado ser desse modo compartilhado.

Nada contra dividir com os entes queridos tal fato, mas estes instantes, na minha opinião, são exclusivos. Nem tudo que diz ao nosso respeito deve ter carta branca para as pessoas, mesmo aquelas que muito amamos.

Além do parto em vídeo, há também a possibilidade, em algumas maternidades, de haver câmeras que registrem todos os instantes do bebê, ele no bercinho bocejando, mexendo as mãozinhas, enfim, tudo registrado! Tal novidade é chama de baby brother, coisa assim, referindo-se, claro, ao programa Big Brother.

Por trás de tantas novidades há a competição por clientes/pacientes. Afinal de contas, com mais inovações, quem sabe, não seriam maiores as chances de ter mais clientes/hóspedes? Afinal, cada vez mais os grandes hospitais tentam se parecer com hotéis.

Há profissionais que são contra tais “ofertas”, ainda bem. Não podemos fincar os pés no chão, fechando os olhos para toda a novidade que surge e aceitando-a somente pelo fato de ser “o novo”. Precisamos estar com o bom senso bem atualizado para distinguir o novo que acrescenta daquele que invade e expõe.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A Faxina

Studio Porto Sabbia 123RF
O que é uma faxina? À primeira vista, pensamos em faxina de uma casa. Tira-se o pó, passa-se aspirador, um pano, limpam-se os banheiros, varre-se o pátio, lava-se e passa-se roupas. Basicamente é isso. Ainda tem a louça de cozinha e a arrumação da cama. Pronto. Tudo feito.

Dá um trabalho, cansa, sem dúvidas. Porém, nada se compara ao desgaste psíquico de se fazer uma faxina no mundo pessoal. Isto é, jogar fora sentimentos e pensamentos que não servem mais. Varrer da rotina os medos de crescer e de ousar. Tirar o pó dos desejos esquecidos. Deixar a água levar as mágoas e os erros do passado. Limpar os bons amigos e mantê-los por perto.

Não se usa detergente, esponja, vassoura, pano, sabão em pó. Na faxina da alma, se exige disponibilidade afetiva para encarar o que comumente se coloca debaixo do tapete. Requer um esforço psíquico para atualizar o que se passa por dentro. Precisa-se abrir mão de algumas coisas em nome de outras. Necessita-se olhar para si e reconhecer o que quer ser, o que pode ser, prestando atenção aos limites, mas sem ficar paralisada por causa deles.

É preciso flexibilidade e bom senso para “faxinar” com sucesso. A leveza vem, com certeza, sem sucatas emocionais, sem tanta “poeira”. Renovamos-nos e visualizamos com outros olhos onde estamos e para onde queremos ir.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Quereres

Anton Malcev 123RF

Quero colecionar boas histórias. Quero aprender com as dores. Quero gargalhar nas conquistas. Quero o direito de me entristecer com as coisas ruins para que logo elas passem. Quero poder jogar para o lado a culpa que nada vale. Quero aprender com a culpa que sinto. Quero aprender com as indignações que tenho. Quero mover o mundo com minhas perguntas e aquietar o meu coração. Quero sorrir enquanto durmo. Quero um ombro para me apoiar em um momento frágil. Quero dar o meu ombro quando me sinto mais forte. Quero aprender com as quedas e também com os pulos. Quero experimentar o que nunca fiz. Quero experimentar o que também já fiz. Quero adquirir sabedoria para levar a vida com mais leveza. Quero aprender a viver melhor. Quero aprender. Esse é o grande verbo da vida. Viver. Aprender.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Previsão do Tempo



oleksiy 123RF

Não consigo imaginar como era a vida antes da previsão do tempo. Olhava-se para o céu, escutava-se uma avó que tinha dor na perna sempre que estava por chover ou se buscava saber pelo comportamento de um animal. Enfim, não era hábito buscar as respostas da meteorologia. Isso simplesmente não existia como agora.

Hoje em dia, não arrumo uma mala sem fazer antes uma pesquisa do tempo na internet. Dependência, eu sei. Mesmo que exista uma margem de erro, a previsão do tempo facilita nosso dia-a-dia. Levo ou não levo o guarda-chuva? Pego o casaco? Deixo o casaco? São decisões práticas que tomamos depois de uma “consultinha básica” no tempo.

Como seria funcional também se pudéssemos, de vez em quando pelo menos, consultar algo, não para saber que roupas colocar na mala, mas para termos de tomar outras decisões. Escolher se faço aquele curso ou não. Resolver se troco de namorado ou não. Decidir se deixo a cidade em que moro ou não. Enfim, resoluções que precisamos tomar ao longo da vida e que podemos ter dúvidas ou receios.

Não existe esta possibilidade, eu sei. Nossa única possível é tomamos as decisões com as quais nos deparamos. Bem ou mal, decidimos. Quando a gente pensa o quanto somos hábeis a optar sem muitas garantias, fica fácil arrumar qualquer mala.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Novela

bedolaga 123RF


Viver a Vida terminou e, em minha opinião, não deixará saudade. Eta novelinha chata! Tudo bem, ela teve alguns pontos altos. Porém, os baixos foram mais frequentes e os primeiros que vêm à nossa mente! Não a acompanhei de ficar sentada no sofá. Mas sabia o que se passava com ela e tive meus momentos de telespectadora.

Passione chega prometendo ser “novelão”, vamos ver. Mais uma novela com sotaque italiano... Nada de pré-conceito, vou deixar acontecer. Questiono-me a razão de acompanhar uma novela. Já tive momentos em que não fazia isso, e, em outros, em que eu não atendia sequer o telefone se a história estava no ar.

Uma das coisas que me faz ficar atenta às novelas é a lembrança que elas me dão da minha infância. É uma forma de continuar a fazer algo que sempre esteve presente, que é muito familiar. Além também do fato de sempre se ter um assunto na ponta da língua para conversar, por exemplo, com algum estranho numa sala de espera de um consultório (ou você nunca comentou com alguém que você nem sempre conversa ou nunca conversou sobre alguma coisa da novela?).

Acho que com nossas demandas atuais ficar “escrava” da novela está bem mais difícil, mas pode ser uma boa ideia algumas noites da semana em que você mal consegue piscar os olhos, entrar numa ficção e curtir o que há de bom.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Lya



Na segunda-feira, Lya Luft autografou seu novo livro, “Múltipla Escolha”, na livraria Cultura, em Porto Alegre. Não fui. Não fui, porque não moro em Porto Alegre. Se morasse, estaria lá com olhos de admiradora.

Desde quando descobri a escrita de Lya, virei sua fã. O primeiro livro que li foi “O Rio do Meio” e este mora num lugar especial na minha estante. Uma vez o emprestei e nunca mais voltou. Coisas que acontecem. Ganhei outro exemplar. Este não empresto. Aliás, emprestar livros não é fácil para mim. Sobre isso, escrevo outro dia.

Voltando à Lya. Dos textos que li sobre mães, comum no mês de maio, destaco o da Lya na revista Veja (edição 12 de maio).

O texto é de uma sensibilidade enorme. Não fala de supermãe, de cobranças, mágoas. Fala de aceitação, de boas lembranças, de amor. Fala de mãe e filhos de carne e osso. Com seus erros, acertos e a sabedoria de dar maior valor aos últimos.

Sabedoria. É a mensagem do texto. Sabedoria de viver, de reconhecer cada momento como intrínseco aos caminhos da vida. Fala de amor e de carinho. Entre duas pessoas, entre mãe e filho.

Sem sentimento de posse e invasão, por parte de mãe. Sem ressentimento e culpa, por parte de filho. Uma relação verdadeira, de encontro entre duas pessoas, em que há especificidade de uma ter gerado em seu ventre a outra.

Lya, mais uma vez, consegue exprimir o que é ser mãe, sem o que mídia vende, sem fantasias, sem peso. “A Canção de qualquer mãe”, título do texto, é uma canção para ler, cantar e ouvir.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Todos contra Dante

O trabalho me levou até “Todos contra Dante”, um livro sobre adolescentes e o bullying. Desde a primeira a página, fica-se curioso para saber da história, que já se sabe ser trágica. O livro é baseado em um fato real, o que deixa a leitura ainda mais tensa e triste. Muito triste.

Aliás, este é um dos comentários que o autor, Luís Dill, faz no post-scriptum sobre o que lhe marcou durante a elaboração da obra: “Que tristeza”. São as palavras mais fieis ao sentimento do leitor.

Luís Augusto Campello Dill é porto-alegrense, jornalista e escritor. O autor conseguiu com sucesso captar a linguagem comum dos jovens na internet. Este campo tão útil para informar, aproximar pessoas, trabalhar, mas que pode se tornar uma ferramenta cruel. Como no caso de Dante. Anônimos, sem rostos, sem nome insultaram dia após dia um colega de escola, sem dó nem piedade.

Dante é um aluno da oitava série que é alvo de chacota em seu colégio. O bullying ultrapassou os muros da escola quando foi criada uma comunidade chamada “Eu sacaneio o Dante” e ali diversas ofensas são escritas. O que para aqueles jovens é brincadeira é, na verdade, crueldade, crime, enfim, algo que não deveria acontecer. Ainda mais quando o lugar original das humilhações a Dante, a escola, é uma instituição de ensino, portanto, educação é o mínimo que se espera.

Sabemos o quanto o bullying existe em nossas escolas, há tempos, e em outros contextos de relacionamentos (condomínios, escolas de futebol etc.). Há algumas décadas, se tornou alvo de pesquisas de estudiosos e, com isso, já são sabidos os males psicológicos das vítimas e o perfil do agressor. Nem todas as escolas e nem todos os educadores estão preparados para lidar com tal violência. Porém, cada vez mais é urgente tal preparo.

Não é fácil ler o que acontece. Ler os xingamentos que jovens se fazem uns aos outros. Não é fácil ler a omissão escolar e familiar. Não é fácil perceber o silêncio das vítimas e a indiferença com o outro que os agressores têm. Não é fácil enxergar tão claramente como uma instituição escolar pode estar tão doente, com alunos tão confusos em relação aos seus valores. Não é fácil atestar que o livro de Dill não é uma ficção, é vida real.

O site do autor é: http://www.luisdill.com.br/

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A Seleção



Ontem saiu a convocação da seleção brasileira para a Copa do Mundo, na África do Sul, feita pelo técnico Dunga. Confesso que estava tão cansada que nem pensei em dar palpite. Sempre gostei muito do Ronaldinho Gaúcho, mas se está na lista de espera, minha cabeça cansada confia que Dunga deve saber o que está fazendo.

No que consegui pensar foi no Kaká, o principal jogador da seleção. Visto como o “criador”, muitas expectativas estão sendo depositadas nele.

Deve ser muito legal ser convocado, ter o reconhecimento do talento, ser uma aposta da torcida verde e amarela. Mas como quase tudo na vida, há “o outro lado”. Tem noção do que significa ser “o cara” numa torcida de 190 milhões de brasileiros, cada um se achando “o entendido” do esquema tático? Nada fácil.

Ok, você irá me dizer que o gorducho salário compensa. Meu assunto aqui não tem nada a ver com dinheiro, com time que atua nem país que vive. Tem a ver com a pressão psicológica. Provavelmente muitos de nossos jogadores (quem sabe todos?) possuem um preparo e apoio especializado para lidar com tal pressão.

Identifiquei o Kaká, porque foi o citado com mais ênfase pelo telejornal que assisti. Poderia ser Júlio César com a complicada função de goleiro ou Gilberto Silva que mais uma vez vestirá a camisa canarinho ou Grafite que, mesmo com curta experiência na seleção, foi convocado. Enfim, qualquer um pode sentir o peso nos ombros da esperança de um país inteiro.

Como disse, são 190 milhões de torcedores atentos ao Dunga e aos seus garotos. Haja presença de espírito, força psíquica e garra para deixar de lado toda a simbologia que a seleção tem em nosso país para poder jogar com a espontaneidade e a leveza de uma pelada de um final de semana.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Abacavir

aliola 123RF


Abacavir é um antirretroviral utilizado por muitos pacientes, crianças e adultos, com HIV/AIDS. Comumente, estes pacientes usam um coquetel, isto é, uma combinação de remédios que tem a função de controlar o vírus no organismo, deixando, assim, o sistema imunológico menos vulnerável às doenças oportunistas, como pneumonia, toxoplasmose etc. O abacavir pode fazer parte deste combinado.

Fazer dar certo o coquetel nem sempre é fácil, porque há muitos efeitos colaterais, e, às vezes, é na segunda ou na terceira tentativa que o paciente se sente bem e seu organismo responde adequadamente ao fármaco.

Imaginemos, desta forma, que uma pessoa toma um coquetel com o abacavir e está muito bem, sem hospitalizações, sem doenças oportunistas, tudo conforme o desejado: o vírus está indetectável. Aí surge um problema, externo a ela: a falta do abacavir!

O governo deixou de abastecer os Serviços de Assistência Especializada (SAEs) com este remédio. Quem não é do meio pode pensar que basta substituir, mas nem sempre isso é possível.

A composição do coquetel para cada paciente é feita meticulosamente. Não é simples, nem um pouco. Então, pacientes que estão muito bem podem ficar doentes, pacientes que aderiram ao tratamento podem ter uma recaída com a tentativa da substituição.

Lembro de conversas que me envolvi quando fazia o mestrado, cujo tema foi mulheres com HIV/AIDS, que esta era uma preocupação: a possibilidade da falta de um medicamento. Elas se perguntavam o que iriam fazer caso isso acontecesse. Como é um tratamento bastante caro e, felizmente, subsidiado pelo governo federal, desde os tempos do Fernando Henrique, faltar um remédio é um caos. Não se pode comprar nenhum deles em farmácia comum, mesmo que houvesse dinheiro para tal compra.

Dá para imaginar a preocupação destes pacientes e seus familiares com essa falta.

Em alguns estados, há pouco, a medicação voltou a ser distribuída pelo Ministério da Saúde. Ainda não no Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Alagoas, mas quem sabe é só uma questão de tempo. Fiquemos de olho.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Roleta russa no trânsito

Studio Porto Sabbia 123RF

Roleta russa é um “jogo” que sempre me deixou tensa. Nunca estive em um ambiente cujo jogo estivesse acontecendo, ainda bem! Minha experiência é como espectadora e, mesmo assim, já me deixa bastante aflita. Vejo esta atividade como uma guerra de nervos, um nível altíssimo de adrenalina, que pessoalmente dispenso.

Falo na roleta russa, porque é o que me faz lembrar o comportamento de muitos motoristas, principalmente na estrada. Ontem testemunhei algo parecido. Havia três caminhões na colada um do outro, portanto ultrapassá-los exigia uma visão longa e espaço igualmente amplo para dar tudo certo. Perdi a conta de quantos carros ultrapassaram sem saber o que os esperavam.

A estrada estava movimentada e, assim, não apenas percebi nesse caso, mas também em outros trechos. Acredito que ninguém está livre de uma falha, erros acontecem e fazem parte da vida, porém falo aqui de imprudência, o que é bem diferente.

Imprudência é aquela ação tomada pelo motorista, sem lógica, sem saber racionalmente qual será sua ação seguinte. Ele conta com a sorte, isto é, ele não sabe se vai ter um carro logo ali na pista contrária, ele simplesmente vai.

Não parece roleta russa? Da mesma forma, o sujeito conta com a sorte. Pensa que como há apenas uma chance (uma bala) de as coisas darem erradas, puxa o gatilho. O motorista pode até imaginar que pode dar de frente com um carro logo ali adiante, mas prefere ser otimista e esperançoso. Pode até dar certo, mas e se der errado?

Não fiz uma pesquisa formal, mas imagino que motoristas sobreviventes de acidentes nunca pensaram que iria acontecer com eles. Contavam com a sorte. Como disse, ninguém está livre de um acidente. O que devemos ter em mente é que sorte combina com prudência. Já a roleta russa combina com suicídio.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Nem todo médico é de verdade



Desde o dia 13 de abril, um novo código médico de ética começou a vigorar. Esta mudança me fez pensar a profissão médica, melhor dizendo, a complexidade envolvida nas tarefas daqueles que assumem este ofício.

Alguns podem afirmar que ser médico é dominar a tecnologia, a teoria das patologias e seus tratamentos, conhecer os procedimentos necessários. Concordo em parte com isso. Isto porque ser médico é muito mais do que ter competência para tratar um pós-infarto ou realizar uma cirurgia, por exemplo. A técnica é uma parte importante do caminho; a outra parte, de mesma importância, afirmo que é muito difícil para um número significativo de “doutores”.

Esta porção da lida médica exige muito mais que qualquer universidade possa ensinar, muito mais do que qualquer professor possa transmitir: a disponibilidade afetiva de lidar com as pessoas, isto é, com os pacientes.

Percebo muitos médicos orgulhosos de sua linguagem técnica e medrosos frente ao doente. Impotente frente às demandas da vida e, claro, da morte. Há um despreparo de muitos profissionais para o contato humano. Podem ser grosseiros, indiferentes, são aqueles médicos que não acolhem os pacientes e seus familiares.

Por sorte, há médicos de carne e osso que não temem a palavra, que não têm medo de escutar o que outro irá dizer. Compreendem a fragilidade humana frente à debilidade do corpo, entendem o medo e as vicissitudes de quem está doente e seus familiares. Estes sim são médicos de verdade, os outros pseudomédicos, são pessoas que podem ter diploma, vestir jaleco, mas não são médicos de verdade.

Falta a muitos destes profissionais a leitura da alma humana, não apenas as constatações a partir do exame do corpo. Felizmente, em minha vida, convivi e convivo com médicos que orgulham a categoria, sofrem, é verdade, porque são mobilizados pela dor do outro e dão dignidade a essa classe; porém, recebem afeto e aprendem muito com seus pacientes. Aqueles os quais me referi anteriormente são uma vergonha, podem ter ganho o diploma mas não o merecem, não são médicos de verdade.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Um Crime Cruel




Assisti agora o telejornal. São 20h20min, terça-feira. A notícia que me fez vir ao teclado e compartilhar meu impacto diz respeito à menina adotada por uma procuradora aposentada do Rio de Janeiro que sofreu maus tratos por esta.

Na reportagem, apareceu uma gravação em que a mulher é bastante estúpida com a menina de apenas dois anos. Além disso, fotos mostram os olhos roxos e inchados da pequena e testa também machucada. Um horror.

O encontro entre a menina e uma equipe psicológica não ocorreu hoje, porque a criança chorou muito ao tentarem afastá-la dos funcionários do abrigo em que ela está. Com medo e pavor, quer ficar com quem tem pelo menos um pouco mais de intimidade. Esta menina, como todas as crianças, quer e merece proteção e segurança.

Uma estagiária do Conselho Tutelar acredita que a senhora de cabelos louros e moradora da “cidade maravilhosa” faça parte de uma seita em que a menina seria parte de uma oferenda futura. Não parece um filme de terror?

Quem dera. É a realidade, bem estampada para nós. Esta mulher é doente, sem dúvidas, tem alguma coisa errada com seu psiquismo. Dela só me importo em saber sua punição.

Quem me interessa é a menina. Como esta garotinha de apenas dois anos vai lidar com tamanho sofrimento? Enganam-se quem pensa que ela por ser pequena irá esquecer e superar logo tudo isso. Não, provavelmente, e infelizmente, não.

A infância tem valor ímpar no desenvolvimento do aparelho psíquico, dos afetos, da relação com o outro. Adultos que foram crianças sofridas, muitas vezes, sentem suas consequências, mesmo depois de atingirem a maioridade. Então, a infância deveria ser bem cuidada e protegida. Às vezes, não é. Cabe a nós, pais, educadores, profissionais da saúde, Estado remediarmos o que não foi prevenido.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Michael Douglas e Bastardos Inglórios

Ionut Dan Popescu 123RF

Na sexta-feira, peguei um filme com Michael Douglas na locadora. Quando cheguei em casa, contei ao meu marido, e ele: “Michael Douglas?”, querendo dizer que provavelmente o filme seria ruim. Começamos a ver. O filme já começava parecendo ruim. A imagem não era de primeira, sabe?

Eu pensei em desistir de assisti-lo. Meu marido, mais persistente, disse para irmos até o final, quem sabe não nos surpreenderíamos? Não nos surpreendemos. O filme foi muito ruim, dizer assim é eufemismo. O filme foi uma porcaria.

Meu marido então me perguntou: “me diga um filme bom com Michael Douglas?” Pensei em “Atração Fatal”, “Instinto Selvagem”, “Sentinela”, “A Sombra e a Escuridão”, mas nenhum é um grande filme, vamos combinar. Aí resolvi pesquisar. Concluí que vou pensar duas vezes antes de pegar outro filme com Douglas.

Nenhum ator está livre de fazer um filme ruim. Faz parte. O problema é quando se torna recorrente e acaba por marcar o ator.

No sábado, vimos “Bastardos Inglórios”, foi a redenção. Ainda bem. Filme violento, não tanto quanto outros de Tarantino, mas um filme bem construído, com personagens bem trabalhados e elenco de primeira. Lembro que a imprensa inglesa foi bastante crítica ao filme, logo após seu lançamento nos cinemas. Li na primeira página do The Guardian críticas fortes contra “Bastardos”.

Pelo jeito, críticos e Douglas nem sempre acertam, pelo menos comigo.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Bullying



O programa Altas Horas tem como projeto iniciar uma campanha contra o bullying. Tudo começou quando este era o assunto do programa e um rapaz da plateia resolveu dar seu depoimento de vítima. Logo, foi feita uma entrevista com ele e mais detalhes foram conhecidos. Neste último sábado, o tema voltou com uma entrevista de uma angustiada mãe cuja filha foi alvo de agressões e humilhações.

Em um texto mais antigo aqui do blog, estava ainda na Inglaterra, falei a respeito, tratava-se do filme “Deixa ela entrar”. Volto ao tema, porque o bullying está frequente demais. Um crime correndo risco de se tornar banal.

Os pais, quem sabe, temerosos, despreparados para lidar com o assunto, tentam colocar panos quentes, desqualificando o sofrimento de seu próprio filho, se este é a vítima, ou de quem foi vítima de seu próprio filho. Claro que há pais mal intencionados sim, em que não estão nem aí para a prole, mas muitos estão confusos e tentam amenizar, como se esta fosse a melhor atitude. Não é. Assim como há pais em alerta para o bullying e tomam logo as medidas necessárias.

Como fez a mãe na entrevista com Serginho Groisman, mostrada no dia 01 de maio, a conduta deve ser muito séria e atenta às leis. Esta mãe procurou os pais da menina que agredia sua filha, logo foi à escola e à delegacia. Tudo muito difícil, mas extremamente necessário. A vítima precisa saber que alguém, no caso, a mãe, está se movimentando em sua defesa, para que ela seja protegida, conforme os ditames das leis.

O jornal Zero Hora, também na semana passada, deu espaço a uma mãe gaúcha, cujo filho é vítima de bullying. Um dia depois, mais uma reportagem, de pais, principalmente, que conseguiram livrar seus filhos desse mal, dando apoio a esta mãe.

O que ocorreu com estas crianças foi um crime. Bullying é crime. As escolas, os pais, as crianças, nós devemos estar conscientizados e preparados para lidar com essa onda criminosa que tenta se mascarar como se fossem coisas de crianças ou de adolescentes. Não são. Não são brincadeiras de mau gosto. São crimes e devem ser tratados desta forma.

Para saber mais:


segunda-feira, 3 de maio de 2010

A Vocação

Ionut Dan Popescu 123RF

A palavra vocação, no dicionário, significa ato de chamar, predestinação, tendência, talento e aptidão. Era muito comum, em tempos passados, falar sobre a vocação quando se pensava na profissão a seguir. Hoje, até se usa a palavra, mas com menos força. Se nos atentarmos a compreender a sociedade atual, entenderemos facilmente que o enfraquecimento de seu uso está em concordância com a falta de tempo e de condições que temos hoje de olhar para dentro de nós. Isto é, ouvir o que se passa em nossos pensamentos e sentimentos.

Na era da internet e do ipod, parar e refletir não são tarefas fáceis. Desta maneira, a escolha de uma profissão nem sempre é feita com sucesso. Vemos, com frequência, jovens trocando várias vezes de faculdade ou em dúvida se fizeram a escolha certa. Da mesma forma, observamos muitos adultos irritados, mal-humorados, fatigados em suas rotinas no trabalho. Não era aquilo que queriam e agora parece tarde demais para provocar alguma mudança. Tudo isso é muito sério e triste.

Daí a importância de colaborar com os adolescentes para que amadureçam suas ideias em relação à escolha profissional. Considerar todas as partes que compõem a profissão, não apenas a questão salarial ou de status. O mais importante de tudo é a identificação que o jovem terá com o ofício. É isto que determinará, em grande parte, sua satisfação com a rotina adulta de trabalho.

Lógico que o reconhecimento social e econômico é considerável, mas em se tratando de Brasil e de suas desigualdades, infelizmente, é um tanto limitador ir por este caminho. Por exemplo, uma profissão fundamental como a de professor não é valorizada na sociedade brasileira.

O trabalho ocupa muitas horas de nossos dias. Dependendo do trabalho se passa mais tempo com os colegas do que com sua própria família. Imaginou que tortura você fazer algo que não gosta?

Mesmo que o trabalho rime muito com deveres, também deve rimar com realização. É uma faceta importante de nossas vidas que nos fazem ser mais ou menos felizes. Influencia nossa relação com a família, com os amigos, com a vida. Estar identificado e satisfeito com a lida diária faz toda a diferença nesse estresse crônico contemporâneo que vivemos.