quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Crianças de novo


Tetyana Kulikova 123RF


Minha sobrinha de vez em quando tapa seus ouvidos quando estão falando para ela palavras que ela não se interessa. Leia-se: sermões, explicações sobre um comportamento inadequado etc. Quando está em um dia menos tolerante, além de tapar com seus dedinhos os ouvidos, ela fecha os olhos e, em dias menos condescendentes ainda, canta um lá-lá-lá. Durma com esse barulho.

Como este texto não é a respeito de educação infantil, nem tocarei nesse assunto. A questão é que a criança, no caso dela de quatro anos, possui estes recursos para se proteger de algo não prazeroso.

Nós, adultos, perdemos a legitimidade de usá-los ou você se imagina fazendo isso em frente ao seu chefe? Ou quando sua namorada começa com um blá-blá-blá sem fundamento? Não podemos. Conseguimos divagar, pensar na lista do super, olhar para uma vitrine, prestar atenção em qualquer outra coisa que não a baboseira dita.

Cá para nós, há momentos em que seria muito útil ainda ter direito a tais meios. Já pensou, como seria mais divertido ouvir a conversa fiada de corruptos tapando os ouvidos, fechando os olhos e cantarolando? Talvez esta barreira fosse mais eficiente e assim não sentíssemos nas vísceras a indignação. Não apenas quanto aos corruptos, mas quanto a outras espécies de gente: pessoas que tentam inferiorizar os outros, que só têm veneno na língua, que mentem na maior “cara dura”, enfim, a gente sabe bem o que nos faz embravecer.

Então tá, combinado, da próxima vez que você ouvir aquele colega da academia falando um monte de mentiras, contando vantagem: lá-lá-lá.

Um comentário:

  1. Ah, fazia tempos que eu não vinha aqui.
    Adorei este texto do Lá-lá-lá. Ri um bocado.
    :)

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