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Em meu bairro há diversas lixeiras coletivas, um pequeno contêiner cinza com tampa laranja. Nelas as pessoas colocam os lixos do cotidiano. Um caminhão apropriado regularmente coleta o material descartado.
Levei um susto da primeira vez em que vi uma pessoa saindo dela. Afinal, ela é funda e se corre risco nesta “aventura”. Que lugar é este em que vivemos que pessoas saem do lixo? A conhecida desigualdade, a conhecida ignorância, a conhecida falta de educação, a conhecida miséria que enriquece muitos bolsos de políticos neste país.
Já vi a cena do homem no lixo diversas vezes. Em uma delas, a pessoa colocou uma garrafa de plástico para não deixar a tampa cair. Ainda havia um cão, sempre fiel como é característica da espécie, ao lado da lixeira esperando seu amado dono.
Eu sei que pode parecer conversa de gente que se intitula sensível e de classe média. Não quero ser dessa maneira rotulada, quis escrever para pensar alto, pensar a impotência que às vezes nos toma por não conseguirmos lidar com a pobreza alheia.
Não conseguir aceitar que há gente que passa fome, que toma chuva e sente frio. O que nos parece básico, é luxo para o outro. Isso é triste demais. Não há como não me chocar, a cena não consegue ser banal para mim.
Talvez para muitos ver gente catando lixo e dormindo na rua já se tornou rotina. Isso é muito triste e me pergunto ao mesmo tempo em que divido com você: o que é possível fazer para mudar esta situação?
Concluo com o genial Manuel Bandeira, em um poema intitulado “O Bicho”:
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
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