quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O lugar que o homem não devia estar


mettus 123RF


Em meu bairro há diversas lixeiras coletivas, um pequeno contêiner cinza com tampa laranja. Nelas as pessoas colocam os lixos do cotidiano. Um caminhão apropriado regularmente coleta o material descartado.

Levei um susto da primeira vez em que vi uma pessoa saindo dela. Afinal, ela é funda e se corre risco nesta “aventura”. Que lugar é este em que vivemos que pessoas saem do lixo? A conhecida desigualdade, a conhecida ignorância, a conhecida falta de educação, a conhecida miséria que enriquece muitos bolsos de políticos neste país.

Já vi a cena do homem no lixo diversas vezes. Em uma delas, a pessoa colocou uma garrafa de plástico para não deixar a tampa cair. Ainda havia um cão, sempre fiel como é característica da espécie, ao lado da lixeira esperando seu amado dono.

Eu sei que pode parecer conversa de gente que se intitula sensível e de classe média. Não quero ser dessa maneira rotulada, quis escrever para pensar alto, pensar a impotência que às vezes nos toma por não conseguirmos lidar com a pobreza alheia.

Não conseguir aceitar que há gente que passa fome, que toma chuva e sente frio. O que nos parece básico, é luxo para o outro. Isso é triste demais. Não há como não me chocar, a cena não consegue ser banal para mim.

Talvez para muitos ver gente catando lixo e dormindo na rua já se tornou rotina. Isso é muito triste e me pergunto ao mesmo tempo em que divido com você: o que é possível fazer para mudar esta situação?

Concluo com o genial Manuel Bandeira, em um poema intitulado “O Bicho”:

Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

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