terça-feira, 31 de agosto de 2010

Um pouco de Mário Quintana


Castelo de Colchester


Jardim Interior


Todos os jardins deviam ser fechados,
com altos muros de um cinza muito pálido,
onde uma fonte
pudesse cantar
sozinha
entre o vermelho dos cravos.
O que mata um jardim não é mesmo
alguma ausência
nem o abandono...
O que mata um jardim é esse olhar vazio
de quem por eles passa indiferente.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Mortes no asfalto


Ruslan Zalivan 123RF



A imprensa gaúcha tem nos chamado a atenção para os acidentes nas estradas e nas cidades gaúchas. Somente neste final de semana, foram 24 mortes, sendo que 56% das vítimas estão na faixa dos 16 aos 24 anos. Jovens demais para morrer.

Perguntamos-nos constantemente a causa de tantas mortes. Primeiramente vamos considerar alguns significados da palavra “acidente”, segundo o Aurélio: 1.acontecimento casual, imprevisto. 2. Acontecimento infeliz, casual ou não, de que resulta ferimento, dano, etc. Temos, então, que um acidente de trânsito pode ser algo infeliz e não esperado ou infeliz e imaginado.

A gente pode imaginar a possibilidade de um acidente se um motorista estiver a 180 km/h após tomar várias cervejas. A gente também pode imaginar que um motorista cuidadoso esteja a 90 km/h, atropela um cavalo na pista e se acidenta. Com que objetivo escrevo isso? Para dizer o óbvio. Na verdade, podemos sofrer um acidente a qualquer momento, porém há facilitadores também.

Dirigir embriagado, em alta velocidade, em um carro sem revisão, em uma estrada muito sinuosa, se deparar com um motorista perigosamente irresponsável, atropelar um animal, o pneu estourar, enfim, são diversas formas que podem nos levar a um acidente ou morte no asfalto.

O que está ao nosso alcance dentre as circunstâncias acima? Educar os motoristas, quanto à forma de dirigir e como cuidar do veículo que dirige. Todavia, há algo que foge das campanhas que vemos por aí: a questão psíquica.

O psicanalista e escritor David Zimerman afirma que a forma com que dirigimos o carro expressa o nosso psiquismo. Impulsos de amor e de ódio se mostram na maneira com que conduzimos nossos veículos. Assim, podemos supor que tantas mortes no trânsito indicam que os nossos psiquismos individual e “social”, digamos assim, estão precisando de atenção.

Ao dirigir com agressividade, muitos motoristas tentam compensar suas dores emocionais. Ao beber e dirigir, muitos buscam a adrenalina do risco de morrer para sentir que estão vivos, que existem. Ao desrespeitar o motorista ao lado, muitos tentam impor sua força quando se sentem demasiado fracos.

Desta maneira, não apenas questões técnicas devem ser revisadas e ensinadas, mas também os aspectos psicológicos devem ser considerados. A patologia do vazio, atualmente muito comum em consultórios psis, denuncia o pouco sentido que muitos têm dado à vida, justamente porque para estas pessoas, não há sentido algum. Se não há, a vida vale muito pouco e não há nada a temer.



Observação importante: de forma alguma penso e não tenho intenção de generalizar quando falo dos motoristas, tanto que tento usar a palavra “muitos”.

domingo, 29 de agosto de 2010

À Procura de Eric




O filme “À Procura de Eric” mostra Eric, o personagem principal, sendo atropelado pelos problemas que parecem vir de todas as partes. Fã de futebol, tem Eric Cantona como ídolo. E é a “presença” do jogador que faz Eric tomar as rédeas de sua vida. Um encanto.

O bacana de muitos filmes europeus, como este, é o não querer fazer de seu personagem principal uma peça de glamour. Eric poderia ser qualquer um.

Ele é um cara que viu sua vida passar e não fez aquela “faxina” necessária, isto é, não resolveu várias questões do passado e se viu como vítima de seu destino. Precisou da quase-loucura para reparar o quanto estava passivo frente ao cotidiano.

Mediante suas conversas com Eric Cantona e a companhia de seus amigos “reais”, Eric resgata dentro de si modos de viver mais autênticos e ativos. Modifica sua postura derrotada e consegue captar as alegrias que estão por aí, esperando um olhar mais atento. Somos “Eric” quando nos enredamos em nossos conflitos, sem conseguir sair do lugar e também somos “Eric” quando encontramos uma saída dos novelos de nossas angústias.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O livro de Eli, os seus e os meus livros

Robert Pasti 123RF



O filme “O Livro de Eli” não me seduziu de primeira. Confesso que peguei meio desconfiada o DVD na locadora. Até que valeu a pena.

Percebam que o “até” da frase anterior indica que gostei do filme, mas não de forma entusiasmada. Diria que é uma história bastante interessante.

Denzel Washington é Eli, um andarilho em um mundo pós-apocalíptico. Em sua mochila, há um livro que pode fazer a diferença na reconstrução das futuras sociedades humanas. No seu caminho, há um bandido que também deseja tal objeto por ser conhecedor de seu poder. Dessa maneira, o filme se desenrola: Eli tentando chegar ao seu destino e os “homens maus” tentando impedi-lo.

Esse filme mostra claramente o poder que os livros têm. Não falo de um em especial, falo da boa literatura, em geral. Livros que nos tiram do chão, que nos sensibilizam, que nos emocionam, que nos fazem rir. Livros que consolam, que ensinam, que apresentam personagens que muito de nós pode haver, que mostram histórias que nos identificamos, que nos interessam. Enfim, são linhas de fuga de uma realidade, às vezes, tão perversa.

Nada se compara à literatura, em minha opinião. Livro pode ser, conforme os padrões, um objeto inanimado, mas, cá para nós, você já viu um objeto mais vivo que esse?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Momento-Neblina




Quando estamos dirigindo em uma forte neblina, na estrada, o que fazemos? Diminuímos a velocidade, dependendo ficamos a 30km/h, porque não enxergamos nada na nossa frente e podemos ser surpreendidos por um carro com farol desligado ou que se atrapalhou e está na nossa pista. Ficamos em alerta máximo até que uma segurança razoável se estabeleça.

Igualmente acontece quando chegamos a um momento na vida de não saber qual caminho é o melhor. Talvez porque as opções sejam variadas, talvez porque não vejamos nenhuma saída, talvez porque não saibamos exatamente o que queremos.

Então, uma "neblina emocional" se instala e até que a visibilidade seja possível, esperamos, angustiadas ou pacientes, até que possamos enxergar o que está por vir.

Na estrada ou na nossa história pessoal, o cuidado é imprescindível para sairmos ilesos de uma neblina passageira e termos certeza de onde estamos e para onde vamos.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Casamentos

Marek Slusarczyk 123RF


A capa da revista Veja desta semana traz uma reportagem sobre os benefícios do casamento, inclusive com dicas de Liz Gilbert, a autora do famoso livro que não li, mas sei dos comentários, “Comer, Rezar, Amar”. Não falarei da reportagem aqui, mas a partir dela faço comentários.

Um dos conselhos de Liz é fazer uma investigação a respeito do futuro cônjuge. Há muita gente, conforme a escritora, que se casa sem conhecer devidamente o seu companheiro. Consequentemente, essas pessoas acabam levando maior susto de como são as criaturas com que se casaram!

Apesar de todo ser humano poder surpreender, conhecer bem quem escolhemos para compartilhar a vida é uma medida em favor do nosso bem-estar.

Todos nós temos defeitos e sabemos disso. O segredo está em analisar qual é o nosso nível de tolerância e quais aspectos negativos do outro que podemos suportar. Há pessoas que não se importam se o companheiro é corrupto, por exemplo; já, para outras, a corrupção seria motivo de divórcio.

Esses dias a televisão na minha casa estava ligada na novela das 19h, da Globo. Uma personagem que não sei o nome estava animadíssima com seu casamento. Não lembro exatamente como era o diálogo, mas ficou claro que o noivo era um mero detalhe da megafesta que ela queria promover. Nesse caso, fica fácil imaginar a probabilidade do rumo dos pombinhos, não?

Conhecer o outro não é um exercício fácil, muito menos rápido. Os instrumentos podem ajudar, como intuição, perguntas, percepção do comportamento do outro em diferentes situações, as coisas que ele afirma e as que ele cumpre, como lida com os seus erros e com os dos outros, a relação que ele tem com a família, amigos e trabalho. Enfim, se a gente arregalar os olhos e afinar os ouvidos se consegue captar várias coisas interessantes de quem está ao nosso lado. Sobre as desinteressantes, vale a pergunta: isso eu conseguirei tolerar?

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Politicamente Correto

Olga Drozdova 123RF


De uns tempos para cá, o politicamente correto tem dominado ou quase dominado partes do lazer de nossa sociedade. Filmes, novelas, propagandas, piadas etc têm aderido à ideia do politicamente correto. Os que escapam são muitas vezes perseguidos.

Nós sabemos o quanto a mídia exerce influência sobre nosso comportamento, leia-se a mídia como as atividades citadas no parágrafo anterior. Nem as canções infantis, como a “Atirei o pau no gato”, conseguem passar incólumes a este filtro.

O grande problema, em minha opinião, que o politicamente correto possui é querer se estender por todas as áreas.

Quando falo dos que escapam, não estou me referindo a coisas de mau gosto e vulgar, mas daqueles que tentam retratar a vida como ela é, cheia de incoerências e instabilidades.

Chamou-me atenção no seriado “A Cura” que o personagem principal, Dimas, fuma e aparece em várias cenas com cigarro. Reconheço todos os males do tabaco e não sou tabagista, mas mostrar um personagem assim sai da linha “chatonilda” que tem de ser tudo certinho, mostrar exemplos na televisão.

Um dos autores desse seriado é João Emanuel Carneiro, o mesmo que fez “A Favorita”, marcada não apenas como uma história bem feita, mas também por se negar a fazer da dramaturgia uma bandeira social.

Prefiro o meio termo. Por exemplo, passe livre para Dimas, porém cartão vermelho para propagandas de cerveja em que aparecem mulheres consideradas “gostosas” ou craques do futebol, associando prazer ou esporte ao hábito da cerveja. Você reparou que não há, faz tempo, propagandas de cigarros? Por que há de bebidas alcoólicas?

Então, ao invés de adotarmos o politicamente correto, adotamos o bom senso, é necessário flexibilidade para que não nos tornemos caçadores de bruxas ou permissivos com o que supostamente nos faz mal.

sábado, 21 de agosto de 2010

Eleições II


 
No texto anterior, assumi uma vontade de escolher com cuidado meus candidatos. Confesso que quando escrevi aquele texto ainda não havia visto o horário eleitoral. Após assistir, tive ainda mais certeza da necessidade de decidir com cautela os números que digitarei em outubro.

Como em eleições passadas, em alguns momentos, o horário eleitoral se confunde com programa de comédia, nos arrancando risadas; em outros, se parece com filme de terror pelo susto que nos causa.

É como procurar agulha em um palheiro descobrir qual candidato merece nossa confiança. Ainda bem que temos tempo para fazer esta escolha, cuja consequência durará pelo menos quatro anos.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Eleições




Frequentemente criticamos os políticos, aliás, os maus políticos. Com toda a razão. A onda de corrupção, mentiras e desonestidades nos fez ficarmos bastante céticos frente às promessas eleitoreiras.

Eu ainda não tenho os cinco candidatos definidos – deputado estadual, deputado federal, governador, senador e presidente. Acredito que minhas decisões serão tomadas mediante os programas eleitorais e pesquisas sobre os candidatos. Será que estaria perdendo meu tempo fazendo isso? Penso que não, pois creio ser esse o meio mais eficaz de determinar quem receberá meu voto.

Há diversas propagandas sobre a importância de votar consciente etc. Sabemos disso. O problema é que frequentemente não temos estímulo para a adoção de um comportamento mais ativo: avaliar programas, analisar passados políticos, prestar atenção nos discursos.

Aí você pode me dizer que pouco adianta nós fazermos isso se milhões não estão nem aí, o candidato tal participou do “mensalão” ou qualquer outro escândalo do gênero; as pessoas votam e pronto. Respondo que é verdade, afinal quantos se elegeram após ridículas exposições de suborno e mentiras? Mas se nós fizermos esse movimento de resistência, ou seja, não acatarmos à máxima de que o povo não tem memória, quem sabe conseguimos uma mudança? Eu quero apostar nessa ideia.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Um pouco de poesia

Stanko Mravljak 123RF


Canção em campo vasto
Lya Luft

Deixa-me amar-te com ternura, tanto
que nossas solidões se unam
e cada um falando em sua margem
possa escutar o próprio canto.

Deixa-me amar-te com loucura, ambos
cavalgando mares impossíveis
em frágeis barcos e insuficientes velas
pois disso se fará a nossa voz.

Deixa-me amar-te sem receio, pois
a solidão é um campo muito vasto
que não se deve atravessar a sós.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A Origem



Assisti ao filme “A Origem” que tem mobilizado diversas discussões. Grosso modo, o filme conta a história de Cobb, papel de Leonardo Di Caprio, que é especialista em roubar pensamentos de pessoas enquanto elas sonham. Ele e sua equipe habilidosa assumem um trabalho ainda mais arriscado, o de colocar uma ideia na mente de uma pessoa, enquanto ela sonha.

Selecionei comentar dois aspectos que fazem parte do enredo, mas sem me deter na obra de Christopher Nolan, o mesmo diretor de “Amnésia” e “O Grande Truque”.

Primeiro: Um aspecto pode existir em qualquer um de nós: não deixar algo ir embora.

Determinados acontecimentos ou pessoas que não deixamos seguir o seu caminho. Os retemos em lembrança, obsessivamente, necessitados de sua presença. Tudo tem seu tempo, sabemos disso. Então, nada mais compreensível que deixemos a porta de saída aberta. A grande questão é que nem sempre queremos esta despedida. Mesmo que soframos com isto, desejamos essa recordação sombria por variadas razões.

Segundo: como você sabe que a realidade que você está vivendo é mesmo a realidade? Esta pergunta é uma dos debates a respeito do filme. Não irei tão longe, mas questiono: não há momentos em que você não parece estar na realidade? Não é papo de “maluco”, não. Nem me refiro à questão onírica. Falo daqueles instantes em que você parece desconectado, que o chão não está mais ali. Verdade que não é recorrente, do contrário, deveríamos nos preocupar. Especificamente, quando você se depara com algo ou alguma notícia que provoca uma tremenda sensação de estranhamento, de que o mundo, o seu, está despencando.

No primeiro caso, devemos estar atentos à porta de saída. No segundo, atentos à de entrada: o hall da realidade que mesmo árida é o berço de nossos sonhos.



Sobre o filme mesmo, Isabela Boscov:


sábado, 14 de agosto de 2010

Óculos



Eu uso óculos desde 1993. Tenho miopia e astigmatismo em graus mais ou menos elevados. Muitas vezes até esqueço que uso. Nunca esquecerei a primeira vez que os coloquei. Na frente da minha casa da infância, eu conseguia enxergar quem estava na outra calçada. Com nitidez.

Há pessoas que já quiseram usar óculos, mesmo sem precisar. Achavam charmoso o acessório ou acreditavam que davam um ar mais intelectual. Nunca pensei nada disso. Aliás, nunca quis ser dependente de lentes, mas sou.

Há diversos contras em usar o dito, entre eles, chorar com óculos. É uma enorme chatice. Não estou dizendo que vivo chorando, entendam bem. Mas quando choro, sejam algumas lágrimas no cinema, é um estorvo.

Eu não tiro lenços apenas para secar as lágrimas, também preciso deles para secar os óculos. Além disso, eles embaçam, por segundos você pode perder uma fala do filme, por exemplo, e se não tiver sorte, perderá, quem sabe, a cena mais bacana! Detalhando: tiro os óculos, seco o rosto, pego outro lenço, limpo os óculos, coloco, eles embaçam, tiro de novo, passo um lenço novamente e enfim torço para que agora dê certo. É ou não é uma megaoperação?

Apesar de haver queixas, sou bastante grata a este objeto. Graças a ele consigo ver o mundo com nitidez, mesmo que isso não signifique que sempre compreenda o que vejo e percebo, mas a parte dele, ele faz.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Acontecimentos Infelizes



Um time de futebol sem qualquer tradição sofre a maior goleada da Copa do Mundo, logo é eliminado da competição. Quando o time e a equipe técnica voltam ao seu país são humilhados publicamente e o técnico além de demitido é mandado para a construção civil, como pedreiro.

Isso parece parte de um roteiro de um filme de comédia, não acha? Foi a primeira coisa que me veio à cabeça quando li a notícia. Sim, isso não é ficção, é realidade, mais especificamente realidade da Coreia do Norte.

Nesses últimos dias tenho sofrido impactos como a condenação de uma mulher que supostamente teria cometido adultério, por apedrejamento no Irã, depois soube que uma jovem afegã, Bibi Aisha, ganhou capa na famosa Time por ter sido mutilada, seu nariz foi amputado, assim como suas orelhas, pelos talibãs, sendo um deles seu próprio marido, após fugir dos maus tratos cometidos pela família do esposo, com quem morava. E por fim, essa história nortecoreana.

Sem comentários!


A propósito, visite e assine:


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Crianças Desaparecidas

Ionut Dan Popescu 123RF


Sabemos que muitos problemas povoam nosso cotidiano. Não conseguimos pensar em todos eles ao mesmo tempo. Por isso, é comum a gente se preocupar com algo, depois outra coisa passa a nos chamar a atenção, posteriormente voltamos a uma aflição anterior. É um permanente vaivém de dedicação que damos às questões sociais que nos tocam.

Despreocupada, lia uma revista até parar em uma reportagem sobre crianças desaparecidas. Neste momento, passei de uma leitura quase fútil a uma preocupação palpitante.

Na matéria, há depoimentos de mães de crianças desaparecidas. Imagina o desespero? Alguém tão importante para você, seu filho, some! Sem saber como está, onde está, o que está vivendo. Um horror. Um pesadelo que faz querer acordar imediatamente.

Por ano, milhares de brasileiros somem. E milhares são crianças! Quase todos os casos de desaparecimento têm a ver com raptos. As crianças podem ser vítimas de pedofilia, prostituição, adoção ilegal, cultos, magia negra etc.

Infelizmente, são poucos os casos com um desfecho feliz, isto é, ter de volta o seu bem mais precioso. Alguns finais são tristes, como descobrir que o filho foi assassinado após o rapto, todavia a maioria dos desaparecimentos de crianças fica sem solução, não há um fim e os pais vivem em uma eterna busca pelo filho que se foi. Não há sepultura para renovar as flores ou uma cama de hospital para fazer uma visita. Não há qualquer resposta. Apenas o vazio.

Atualmente, não existe contagem oficial de quantas pessoas desaparecidas há no Brasil. A polícia, de modo geral, não possui especialistas e agentes treinados para lidar com os desaparecimentos, além de estar sobrecarregada com tantos crimes que ocorrem em nosso país. Há demora em iniciar as investigações, falta de verbas e problemas de gestão. Dessa maneira, muitos casos viram pilhas de papeis nos arquivos da polícia.

O Paraná é o estado que se destaca pelo sucesso nas resoluções dos problemas. São delegados, agentes, investigadores e atendentes que têm como prioridade as crianças desparecidas. http://www.sicride.pr.gov.br/

Em agosto de 2007, nasceu a Comissão Parlamentar de Inquérito das Crianças Desaparecidas, cuja presidente é a deputada federal Bel Mesquita (PMDB-PA) e relatora, a deputada federal Andreia Zito (PSDB-RJ). Mais 32 deputados compõem a comissão parlamentar. http://www.cpicriancasdesaparecidas.com.br/

O Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas, inaugurado há pouco tempo, é uma esperança para milhares de famílias angustiadas e desejosas de reencontrar seus filhos perdidos. Para este Cadastro ser eficaz é necessário alimentá-lo constantemente com informações a fim de mantê-lo atualizado. Além disso, é mais que necessário uma política efetiva voltada para as crianças desaparecidas.


Estamos em um período eleitoral, por isso cabe perguntar: o que pensam nossos candidatos sobre isso? Quais são suas propostas?

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Juliette

Tetyana Kulikova 123RF


A personagem Juliette da comédia francesa “Tudo por Prazer” se apaixona pelos caras errados, por pessoas que não gostam dela e tem dificuldade de reconhecer aqueles que verdadeiramente se interessam por ela. Esta afirmação não é insight meu: a personagem ouve de alguém em um determinado momento do filme.

Assim como Juliette, muita gente ama quem não demonstra qualquer sinal de reciprocidade. Os motivos são diversos. Um deles é o medo de viver uma relação.

Sabemos o quanto dá medo assumir um relacionamento, assumir os papeis, manter a harmonia, ajustar os desejos e administrar os conflitos. E, principalmente: gerir o medo de perder o outro.

Dessa maneira, quando se entra em uma “furada”, digamos assim, a pessoa está segura de que não vai precisar enfrentar todos os desafios citados acima. Ok, você me dirá que ela sofrerá muito mais nesse caminho, e provavelmente seja verdade; todavia devemos lembrar que, para muitos, esse sofrimento já é um velho conhecido, portanto, escolhido, pois não amedronta. Temos medo do desconhecido, certo?

Gostar de quem não gosta da gente ocorre por vários aspectos, um deles pode ser esse medo do instável equilíbrio de uma relação amorosa.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Quase

Ionut Dan Popescu 123RF

Quantos “quase” temos ao longo da vida? Quase conseguimos um trabalho, quase passamos na prova, quase sofremos um acidente, quase somos assaltados. Enfim, há “quase” para o bem e para o mal. O “quase” significa uma possibilidade que poderíamos ter vivido, mas por uma questão de sorte ou de azar (seriam somente por estes fatores?), não vivemos.

Fico me perguntando quantos “quase” enfrentamos sem nos darmos conta. Sem qualquer susto ou decepção. Esses são os “quase” invisíveis.

Os que vemos se tornam linhas pontilhadas, em que no espaço entre dois pontos, escapamos de um prejuízo ou perdemos uma grande chance.

Aos “quase” que nos protegeram, um agradecimento. Aos “quase” que significam impedimento da realização de um desejo, uma revanche.

sábado, 7 de agosto de 2010

Salvamento

Evgeny Dubinchuk 123RF

Em alguns dias somos salvos. Sem esperar, nosso salvamento chega. Estávamos com um problemão e alguém estende as mãos. Estávamos precisando de algo que não conseguíamos de jeito nenhum, eis que surge um ser para ter uma ideia bacana e oba, conseguimos o que queríamos tanto. Estávamos empacados no caminho, sem saber que direção ir, uma criatura amiga com seu dedo indicador aponta a melhor direção.

Quem são estas pessoas? Diversas. Os companheiros, os amigos, os familiares, os chefes, os colegas, enfim pessoas que iluminam com peculiaridade um instante da nossa vida.

A quem você é grato? A lista é grande? Lembro de uma amiga querida que me ajudou em um mal-estar que tive em uma viagem que seria só diversão. Isso aconteceu há anos. Agradeci a ela e comentei o quanto era difícil, para mim, receber. Ela riu e me disse que sua mãe também era assim. Recordo-me muito dessa conversa. Provavelmente ela nem lembre, afinal ela foi mais significativa afetivamente para mim. Percebi que não estava só nesse sentimento quase de culpa quando alguém me presta um grande favor.

Melhorei bastante, mas ainda fico constrangida, todavia bastante agradecida quando alguém me dá uma mão. Não estou falando de uma gentileza apenas, mas de algo bem maior. Aceitar as coisas boas nem sempre são fáceis.

O que me ajudou a lidar com minha timidez quanto a esta questão foi notar que eu também retribuía. Havia momentos em que era a minha mão a oferecida.

Salvar e ser salva acontece vez que outra nas curvas da vida. Da mesma forma, ocorre uma omissão de socorro, às vezes intencionalmente, outras porque não percebemos as mensagens de SOS ou estamos impedidos de ajudar.

Aos nossos salvadores, resta um agradecimento carinhoso e que tenhamos o privilégio de retribuir a eles nessa vida.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A neve vira notícia

Ionut Dan Popescu 123RF

Talvez seja uma falta de sensibilidade minha. Não sei. Eu não compreendo a grande atenção dada ao frio, especialmente à geada ou à neve. Por esta última não ser um fenômeno comum, acaba virando notícia. Esforço-me, porém continuo achando um tanto bobo as pessoas aparecerem na televisão rindo em meio aos “floquinhos”, tirando fotos etc.

Realmente o frio na região sul está, conforme o dito, de renguear cusco, mas não são necessários os comentários insistentes sobre esse tema nos meios de comunicação.

De um tempo para cá, a previsão do tempo passou a ser um assunto corriqueiro e uma parte em destaque na mídia, seja impressa ou via satélite. Pesquisamos a previsão na internet antes de uma viagem, por exemplo. Ganhamos muito com isso, já que nos possibilita programar o estilo de sair de casa ou de viajar. Ainda mais com essa variação do tempo nos dias de hoje.

Por outro lado, isso não significa que todas as notícias sobre o tempo sejam relevantes, minha queixa, afinal, tem mais a ver com a forma com que as reportagens são construídas que propriamente o fenômeno climático em questão.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Descartável

Denis and Yulia Pogostins 123RF

Nos dias em que quase tudo é descartável, não é fácil se manter. Antigamente, as coisas duravam bastante. Herdavam-se utensílios domésticos da avó, os discos do avô e cuidavam dos casacos com esmero que provavelmente o filho ou até o neto usariam.

Atualmente, a validade dos objetos é curta e, pasmem, a nossa, também. Precisamos ficar atentos para não cairmos no “lixão”.

O que me assusta não são tanto as tecnologias que nos fazem ficar obsoletos logo que saímos com o mais novo laptop, ou qualquer outro do gênero, da loja. O que me dá medo é essa ideia do descartável invadir outras áreas, aliás, acho que já invadiu.

Não nos apegamos ao que é descartável. Ele vai fora, sem rastros, mesmo que sua decomposição demore séculos. Pode ser substituído imediatamente por outro descartável que cumprirá a mesma missão e terá o mesmo destino.

E quando o assunto não é o copo de plástico, mas gente? Sim, há pessoas que veem as outras como descartáveis. As tiram de suas vidas com a mesma velocidade com que estas entraram, sem dar qualquer chance a um investimento afetivo, a uma experiência que mais se aproxime de um momento real de estar com o outro.

A tolerância à frustração está baixa, então não são muitas as pessoas que suportam o risco da rejeição, de ter de ajustar seus desejos ou expectativas. As pessoas, de um modo geral, querem as coisas ao seu modo e no tempo que elas mesmas estipulam.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Papo de tevê

TV Globo Alex Carvalho

 
Cada vez menos tenho assistido novelas. Há alguns anos certamente afirmaria ser uma noveleira. Hoje, passo os olhos de vez em quando e alguma que goste mais acompanho pelo jornal.
O problema é que tenho achado as novelas, de um modo geral, chatas. Aliás, eu e muita gente, conforme pesquisas da área. Talvez não tenhamos mais paciência para este formato. Eu prefiro seriados, por exemplo.

Li hoje uma matéria (o link está abaixo) sobre a série que na semana que vem começará na Globo, seu nome é “A Cura”, você já viu a propaganda? O Selton Mello é o personagem principal, cujo talento já é um atrativo para o seriado. Outro aspecto interessante é que um de seus autores é João Emanuel Carneiro que fez “A Favorita”, a telenovela que me fez lembrar meus tempos de noveleira.

Para quem quer ler a sinopse:


terça-feira, 3 de agosto de 2010

Agosto

Studio Porto Sabbia 123RF



Já chegou o oitavo mês do ano! Em seguida estamos no natal. Estas frases você já não ouviu ou disse antes? Pois é, temos sempre a sensação de estarmos estranhando o tempo. O carnaval parecia ontem! Certamente.

A receita que dou para a gente se sentir com mais controle sobre o calendário e o relógio é: prestarmos mais atenção ao que estamos fazendo agora, neste momento. Acontece, muitas vezes, de a gente fazer uma coisa já pensando na próxima, enfim, pouco nos permitimos pensar e escolher o que vamos fazer.

A pergunta é: você tem feito o que você quer fazer? Talvez, não tenho certeza, fazer mais o que se deseja, equilibrar isso com os deveres, ajude a gente a enfrentar os dias com menos estranheza ou com a sensação de que fomos roubados.

Então, o terceiro dia do mês de agosto está aí! Teremos pela frente mais 27, em horas significam 648! Acho que é bastante tempo para cumprirmos nossa agenda, ainda criarmos uma rotina, se não mais tranquila, mais original e nos sentirmos mais donas do nosso tempo.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sakineh


Sakineh Mohammadi Ashtiani, 43 anos, viúva e mãe de dois filhos, foi condenada, no Irã. Seu crime: adultério. Sua condenação: apedrejamento. Antes da condenação ela já havia recebido 99 chicotadas. O apedrejamento pode ser a pena para homens e mulheres que cometeram algum crime, conforme as leis iranianas. Nos casos masculinos, o réu é enterrado até a cintura; nos casos femininos, a ré é enterrada até o peito. Assim, os homens ainda conseguem usar os braços para se defender das pedras. Estas devem ser pequenas para que o sofrimento seja longo até a morte.

No caso de Sakineh, não há provas de adultério, os juízes que a condenaram seguiram sua intuição. E isso é permitido nos tribunais iranianos! Há possibilidade de testemunhas que provem o crime (não há no caso de Sakineh), neste caso, podem ser quatro homens justos afirmando a traição ou três homens justos e duas mulheres justas. Duas mulheres valem por um homem, entenderam?

Milhões de pessoas no mundo inteiro se uniram contra a morte de Sakineh. Por causa disso, o apedrejamento foi esquecido, o tribunal decidiu pela morte por enforcamento. Isso não foi o suficiente, óbvio. Continua um movimento a favor da libertação de Sakineh. Aqui no Brasil, foi lançada a campanha “Liga, Lula”, que solicita uma intervenção do nosso presidente, afinal ele mantém boa relação com Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã.

domingo, 1 de agosto de 2010

Curdistão


 
Assisti um filme muito bom, chamado “Testemunhas de Guerra”, sobre dois fotógrafos de zonas de conflito. A região onde muito a história se passa é o Curdistão.

O Curdistão não é um país, é uma região distribuída em terras de outros países, como Turquia e Iraque. Os curdos, então, não têm seu próprio Estado, tal como os palestinos.

Além disso, os curdos são mais numerosos do que qualquer outra etnia sem território próprio. O Curdistão luta pelo direito a um território, a ser independente, a sua língua e cultura.

Já comentei aqui e o faço de novo: quando convivi com um iraquiano, na Inglaterra, conversávamos sobre as guerras que ele havia testemunhado. Nós não sabemos como é isso. Mesmo que tenhamos uma guerra urbana, não sabemos como é um país estar em guerra com outro. Desconhecemos a rotina de uma população que se protege logo que toca uma sirene. Não vivemos a destruição de um vilarejo por mísseis do país inimigo. Enfim, é uma realidade que podemos estudar e analisar, mas não temos esta experiência.

Aliás, falando em Iraque, Saddam Hussein foi acusado da morte de pelo menos oito mil curdos, na década de 1980.

Sempre tive admiração por jornalistas e fotógrafos de guerra. São pessoas que fazem a ponte entre nós e aqueles que estão em zona de guerra. São eles que nos possibilitam testemunhar à distância (e muita) o que se passa. Apesar de não estarmos lá, podemos fazer o exercício de nos colocarmos no lugar do outro e compreendermos um pouquinho como é estar no Iraque ou no Curdistão, ou em qualquer outro lugar do planeta em guerra.