domingo, 19 de setembro de 2010

À espera de investigações


Sergey Sundikov 123RF


Eu tento, juro que tento, ficar calma, mas os escândalos de Brasília me tiram do sério. Sei que não estou sozinha. Por mais que estude o comportamento humano, por mais que a psicanálise me mostre os meandros do inconsciente e do consciente, mesmo que os livros de psicopatologia e a experiência clínica sejam fontes de aprendizagem de sintomas, me permito ficar impactada com a desonestidade de pessoas que estão no poder do nosso país.

Sou cautelosa, compreendo que é necessária uma investigação muito séria, não podemos julgar sem investigar. O que me deixa preocupada são dois aspectos pontuais: primeiro, o órgão que investigará está ligado àquele que é palco do crime; segundo, provavelmente, as mesmas pessoas ligadas ao tráfico de influência, direta e indiretamente ligadas, estarão pelo menos mais quatro anos em Brasília. Assim como o pessoal do mensalão.

Eu fico muito preocupada, muito. Tento me desligar, pensar que as coisas podem não ser tão ruins. Aí descubro hoje que mais um escândalo estourou e dos fortes de novo. E o eleitor? Há aquele que segue iludido, achando que o corrupto é o outro. Há um que não acredita mesmo, acha que é um movimento eleitoreiro (e o mensalão que não foi em época de eleição, o que dizer?). Há aquele que fica estupefato, considera as informações dos escândalos e lembra o caso mensalão. Há aquele que nem quer saber de nada, o que importa é o que ganha nisso tudo. Pode existir o que fica contra tudo, sem nem ter argumentos. Por fim, há o que reconhece todas essas coisas, mas ainda acha que é melhor deixar com está.

Dizem que política e religião não devem ser discutidas. Discordo. Acredito que nós podemos debater com quem pensa diferente, desde que haja respeito mútuo. É importante percebermos que muitas brigas entre eleitores, por exemplo, se dão porque há uma confusão entre a pessoa que defende tal candidato e o próprio candidato. Há razões explícitas e implícitas nas escolhas que fazemos no dia da eleição. Procuro me guiar nisso e consigo aceitar e conviver com pessoas que têm postura completamente contrária a minha. Isso não me deixa brava. Mesmo. O que me tira do sério é a desonestidade.

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