quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Feliz Ano Novo !




RECEITA DE ANO NOVO
                    
(Carlos Drummond de Andrade)

Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
novo 
até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, 
não precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? 
passa telegramas?) 

Não precisa 
fazer lista de boas intenções 
para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido 
pelas besteiras consumadas 
nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança 
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver. 

Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.



sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

E os cachorros...

Os gatos também entram no clima...

Feliz Natal




Às vezes, no meio da correria entre lojas, pacotes e sacolas, podemos esquecer a principal ideia do Natal. Independente do credo, em minha opinião, o Natal é um momento do ano em que paramos e brindamos, pela paz, saúde, amor e o que mais tenhamos e desejamos.
Nessa noite, entre familiares e amigos, nos reunimos e oficializamos a alegria que é estarmos entre as pessoas que gostamos. Além disso, também é uma hora em que pensamos e podemos contatar aquelas que estão longe, mas moram no nosso coração.
A magia do Natal é acreditarmos genuinamente que todas as pessoas estão em paz e nos querem bem. Lógico que as coisas não são bem assim, porém por um período vivemos essa ilusão e provavelmente essa esperança nos faz bem, é saudável.
A noite de Natal é de colheita e também semeadura. Colhemos as boas energias, plantamos outras e reconhecemos nossos presentes, me refiro àqueles que são impossíveis de serem embrulhados. E essa é a grande tirada dessa noite: o brinde a nós, a quem amamos e à gratidão de estarmos bem.
Que todos nós tenhamos ótimos momentos, que a esperança se renove e que nos sintamos felizes na noite mágica do Natal.


 Feliz Natal !!!!



terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Generosidade e Gratidão


 Sempre fico comovida quando necessito de um favor e alguém responde a ele. Da mesma forma, me emociono quando sou testemunha dessa generosidade. E por fim, também é bacana quando sou essa pessoa generosa e vejo no olhar do outro a gratidão que muitas vezes me visita.
Nunca tive qualquer dificuldade em sentir gratidão, em reconhecer o que o outro fez por mim, valorizar o gesto dele.
Não falo dos favores interesseiros que podemos notar, daquelas pessoas que cobram depois ou têm segundas intenções. Falo daquele sincero e gratuito.
Com o fim do ano, quero aqui registrar todas as pessoas que foram especiais comigo, na ajuda que deram, no apoio que ofereceram, nas palavras carinhosas, nos gestos positivos, enfim toda a generosidade recebida neste ano: agradeço!
Aos meus amigos, familiares, seguidores desse blog, todos aqueles que foram generosos: obrigada!

P.S.: E eis que nas últimas semanas do último mês do ano ainda recebo como presente de natal uma ajuda valiosa! Obrigada, Ju!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Compras no bolso



 Sair às comprar para uns é o paraíso e para outros é o inferno. Decidir qual é o melhor presente, avaliar custo/benefício, aguentar o calor, as pessoas te batendo, umas pedindo licença (ainda bem que para várias, a boa educação não se perde em meio a altas temperaturas), pisões no pé e ver aquilo que você queria, mas com o valor aburdamente impossível de pagar, são os males da época.
Por outro lado, comprar os presentes de Natal também pode ser uma operação em que você materializa um sentimento. Claro que a gente sabe das questões do consumismo, o interesse do comércio, porém também temos direito de fantasiar a realidade, dentro do bom senso, de vez em quando.
O que me deixa preocupada é o valor das dívidas do Natal, para quê? Qual a razão de você comprar um presente de 150,00 quando poderia comprar um bem legal por 50,00? Por que comprar para 35 pessoas, quando poderia se justificar ou simplificar e comprar para 20? Eu sei que às vezes não é nada fácil fazer isso, mas se der para a gente adaptar os presentes ao bolso, entraremos no ano que vem com menos problemas.
Entrar com 2011 no vermelho ou com dezenas de prestações para quase 2012 pode não valer a pena. O maior presente mesmo que podemos dar para aqueles que gostamos é o sorriso, o bom humor, uma conversa legal.
 Materialmente, uma lembrancinha especial já pode fazer bonito para o presenteado e para o seu bolso.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Foi pro saco



Estava na minha casa, à noite, sozinha. Precisei ligar a luz para procurar uma coisa e encontrei algo inesperado. Com susto,  percebi aquela coisa marrom, com anteninhas e grande, grande demais para quem tem medo dela. Era uma barata.
Eu, como um montão de gente, tenho asco a esse bicho. Nojo total, desde a infância. Naquele dia, já adulta, na minha própria casa, o medo infantil veio, mas a racionalidade venceu. Era ela ou eu.
Se eu não a matasse, como iria andar pela casa com tranquilidade? Precisava ser corajosa. Sem tempo para pegar inseticida ou vassoura, ela já havia notado minha presença e também meu terror. Peguei meu chinelinho e fui com tudo.
Gente, quem já matou barata sabe, ela não se entrega. Custa a morrer. Não fui apenas assassina, fui uma torturadora da barata! Uma cena patética, eu sei.
Estava eu lá, quase 22h de uma sexta-feira, batendo, batendo o chinelo contra a pobre coitada. Ou a pobre coitada era eu que estava tremendo de nojo e medo daquele inseto marrom?
Curei-me do trauma, mesmo que ainda esteja com olhos atentos procurando uma amiga, quem sabe uma familiar atrás da desaparecida. Aqui em casa, nesse sentido, não há negociação, me transformo em uma policial do BOPE e não adianta elas pedirem para sair. Acabam no saco!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Texto fora de contexto

Andrey Khritin 123RF


Vários fatos ruins da semana me tiraram o chão: 1.babá que torturava bebês gêmeos, que estavam sob seus cuidados; 2.o preço que custa cada deputado federal e senador por mês (o prejuízo pode chegar a 130 mil para deputado e 170 mil para senador, não é apenas salário, 13º, 14º, 15º, são ajudas de custo absurdas!) 3.o fato de não haver, há 15 anos, atualização das taxas do imposto de renda de acordo com a inflação, se isso ocorre diminuiria em muito o que pagamos para o Leão.
A sensação de impacto e/ou de impotência quando lemos as notícias nos jornais nos fazem mal, nos perguntamos o que houve com a humanidade, em quem podemos confiar, o quanto nossa sociedade, a brasileira especificamente, é apática com as questões políticas, econômicas, sociais. Pagamos altos impostos, somos o 14º com maior pagamento, e estamos em 14º nos quesitos educação, saúde, habitação, saneamento, etc, etc? Não, infelizmente não. Estamos muito, mas muito distante de alcançar tal qualidade.
Saindo do público para o privado: como precisamos estar atentos quando contratamos alguém para cuidar de nossos filhos. Uma entrevista é pouco para conhecer alguém totalmente desconhecido. Talvez pessoas que já trabalharam com amigos, indicações mais confiáveis seja uma forma de nos sentirmos mais seguros quando entregamos nossos bebês a uma cuidadora. Há muita gente perversa por aí e que encontra na inocência infantil seu “objeto de prazer”, e dor para a criança, para a família e para nós que mesmo distantes nos sentimos mobilizados.
Eu sei, estamos perto do natal, da virada do ano e podia pegar menos pesado. Escrever um texto mais light. Esse é um texto fora do contexto, eu sei. Mas como não compartilhar as dores que não cessam, mesmo sendo época de Papai Noel?

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Frase de Segunda-Feira

Daniil Kirillov 123RF

"Não temas o progresso lento, receie apenas ficar parado."

Provérbio Chinês

domingo, 12 de dezembro de 2010

Frase de Domingo

Robert Pasti 123RF

"Se você obedece a todas as regras, perde toda a diversão."

(Katharine Hepburn)

sábado, 11 de dezembro de 2010

João de Deus

Foto retirada do site oficial do médium João de Deus, cujo endereço está no final do texto.


Era um sábado à tarde. Mesmo tendo um milhão de coisas para ler, estava em frente da televisão, mudando os canais aleatoriamente, tentando disfarçar meus compromissos de estudo. Eis que paro no canal GNT, especificamente no programa da americana Oprah, e ouço “John of God”. Como? Estão falando do João de Deus, daqui, do Brasil?
Sim, estavam. Conheci por ouvir falar, nunca estive com ele, mas já escutei muitas coisas interessantes a respeito. Mesmo que bastante cética, há uma parte minha sempre aberta para as dúvidas.
Este homem, hoje chamado João de Deus, é procurado por milhares de pessoas do Brasil e do mundo por uma cura, seja ela física ou espiritual. Sem cobrar um tostão, ele atende os interessados, vestidos de brancos, na cidade de Abadiânia, perto de Brasília.
Vez e outra ele viaja para outras regiões brasileiras, atraindo mais tantos milhares de fieis.
Ele é categórico em afirmar para todos que os cuidados e as prescrições médicos devem ser obedecidos. Ele não nega a medicina, apenas tentar complementar, digamos assim, seu efeito.
No programa estavam uma jornalista e um médico que vieram até o Brasil, sendo todos, os participantes da discussão, americanos. Depois duas pessoas que tentaram curar seus tumores, a primeira não teve sucesso, não houve cirurgia, ele fez uma intervenção mais simples. Diferentemente, o segundo  teve seu tumor retirado e foi curado. Sim, ele faz cirurgia sem anestesia, sem nenhum recurso das tecnologias atuais!
A jornalista e o médico concordam em não saber explicar racionalmente o que acontece em Abadiânia. Disseram que é algo muito forte, que foge do nosso entendimento. Cada paciente lá tem um tratamento particular. A mesma doença não tem o mesmo procedimento. Há vários momentos de oração e meditação.
Os quatro tiveram, cada um a sua maneira, mudanças significativas após a visita à Casa, como é chamado o local que João de Deus atende. Claro que há um efeito psicológico, mas igualmente há mistério nisso tudo, inclusive o médico salientou o quanto é preciso estudar mais isso, tentar compreender o que se passa lá.
A paciente que ainda luta contra um câncer em grau avançado afirmou algo que destaco: que após o encontro com “John of God”, ela parou de se punir, que se tratava mal de vez em quando.
Destaquei essa fala que ficou retida na minha memória porque quantas vezes somos tão exigentes e impacientes conosco? Podemos nos tratar melhor, mesmo que tenhamos o desejo de aprimoramento, devemos ser mais compreensivos e cordiais não somente com os outros, também com a gente mesmo. Ou teremos de viver uma experiência como essa da Abadiânia para isso?

Para saber mais:

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Cross-dressing

O cartunista Laerte Coutinho posa em sua casa, em São Paulo, durante entrevista ao iG
Foto: Augusto Gomes (IG São Paulo)


 Desde que o cartunista Laerte decidiu assumir que é um cross-dresser, isto é, pessoa que gosta de usar roupas e acessórios do gênero oposto, o termo em inglês passou a ocupar mais espaço na mídia. Apesar de ser sinônimo de travesti, empregar o termo cross-dresser é uma tentativa de fugir do estigma atrelado ao termo travesti.
O cross-dressing não é um hábito da contemporaneidade. A revista Veja dessa semana traz uma reportagem a respeito e nela há informação de quem seria o primeiro cross-dresser: Monsieur d’Eon, um espadachim e espião do rei Luís XV.
O que eleva a incompreensão de muitas pessoas é o fato de um cross-dresser não ter qualquer desejo em trocar de sexo, fazer uma cirurgia. Ele deseja apenas se vestir conforme o outro gênero.
Socialmente entende-se a sexualidade como algo fixo e objetivo. Então, o fato de, por exemplo, um homem, com seus aspectos biológicos e heterossexual, querer se vestir de mulher não é compreendido por bastante gente.
O que facilmente pode acabar em preconceito, infelizmente. Afinal, este é consequência de desconhecimento e do apego a verdades absolutas.
Se algumas pessoas conseguissem entender que a sexualidade é algo muito mais delicado e complexo do que separar em uma linha imaginária “homens” de um lado e “mulheres” de outro, não haveria tanta intolerância aos ditos “diferentes”. E crimes homofóbicos, por exemplo, como esses que ocorreram, na Avenida Paulista, nos últimos meses, deixariam de existir.

Entrevista com Laerte:


P.S.:
Quando li entrevistas de Laerte, me lembrei de um filme bem interessante que vi há anos, com Tom Wilkinson e Jessica Lange, intitulado “Normal”. O enredo é o seguinte: depois de décadas de casamento o personagem de Wilkinson decide expressar sua vontade de se vestir como mulher, e diferentemente dos cross-dressers, fazer cirurgia para a troca de sexo, o que causa um choque no seu casamento. Ele não deseja divórcio, ele quer permanecer com sua esposa, porém como mulher. O filme mostra o quanto o campo da sexualidade pode ser desafiador.

Sobre Cross-dressing:


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Um Presente Especial

Daniil Kirillov 123RF

Já estamos próximos do Natal e imagino que você tenha ficado surpresa como eu com a passagem tão rápida deste ano. Dizem que essa sensação acontece porque fazemos cada vez mais coisas em pouco tempo, assim não conseguimos “digerir” nossas ações.
Temos o hábito de viver o último mês de ano como um balanço dos meses anteriores. Talvez seja uma necessidade nossa de virar o ano com as contas em dia.
Aproveitando esses dias de reflexão, que tal escolhermos um “presente” para nós? Não falo de nada possível de ser comprado no comércio, falo de coisas que podemos fazer por nós mesmos: termos mais paciência com nossos erros, aprendermos que excesso de preocupação não resolverá qualquer problema, confiarmos mais no futuro, assumirmos que não precisamos ter todas as respostas, encontrarmos uma maneira de diminuir os medos de cada dia. Enfim, que possamos nas próximas semanas além de refletirmos sobre o ano que termina, semearmos em nós boas energias para o ano que tão logo virá.


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Frase para começar a semana

elvinphoto 123RF

"Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento. Mergulhe no que você não conhece."
(Clarice Lispector)

domingo, 5 de dezembro de 2010

Coisas do universo feminino

Tetyana Kulikova 123RF


A peça “Amores, perdas e meus vestidos” recebe elogios pela interpretação das quatro atrizes – Arlete Salles, Carolina Ferraz, Taís Araújo e Ivone Hoffmann, algumas partes do texto são bem boas, mas confesso que esperava mais.
Identifiquei-me com três aspectos comuns do universo feminino representado no palco: a bolsa que nada se acha de tantos objetos, o dilema entre a elegância do salto e o conforto do sapato baixo e a sensação de não encontrar nenhuma peça de roupa adequada no armário.
Suspeito que uma ponta do meu desapontamento com a peça foi por que há uma certa intolerância minha com algumas coisas ditas como típicas do feminino. Se você conversar comigo sobre as últimas tendências da moda ou se perguntar como se chama um determinado tipo de calça, farei cara de paisagem. Não entendo bulufas do mundo fashion!
Da mesma forma me desagrada esses programas de televisão centrados no visual. Sou daquelas que lendo uma revista, chega na parte de moda, passo logo. Interesse praticamente zero.
Em vários momentos já quis ser diferente, mais “estilosa”, ter perspicácia para combinar acessórios, mas essa não é minha praia. Tenho várias amigas superchiques e as admiro muito por isso. Para terminar, preciso dizer o que já afirmei em texto anteriores: acho chato sair às compras. Adoro fazer isso com minha mãe ou uma amiga, faz passar mais rápido esse momento de indecisão, que com tantas opções fico perdida. Meu sonho de consumo? Ter uma personal stylist, só para pensar por mim que roupa vestir.
Sobre os três aspectos que me identifiquei na peça, pensei em escrever um texto só sobre elas. Quem sabe não estimulo esse meu lado feminino um pouco atrofiado?


sábado, 4 de dezembro de 2010

Cinema em Pelotas: algumas considerações



Se há vários aspectos positivos em viver em uma cidade de médio porte, há também, claro, o lado negativo. Morar em uma cidade de aproximadamente 300 mil habitantes pode ser vantajoso porque a violência não é tão terrível, dependendo do que você faz é bem possível almoçar em casa, não há longos engarrafamentos e o custo de vida é mais baixo, comparando com grandes cidades.
Por outro lado, há as desvantagens. As opções em diversos setores são menores, inclusive nos programas culturais. Ultimamente em Pelotas vários shows e algumas peças de teatro têm estado na cidade fazendo de nós, os moradores, mais saciados.
Infelizmente, o cinema nem sempre corresponde às expectativas. Há semanas os mesmos filmes em cartaz, voltados para o público teen e infantil. Filme de qualidade para nós, adultos, sobra apenas o já visto “Tropa de Elite II”.
Uma produção menos comercial nem pensar. Leio no jornal a seleção de filmes em cartaz em Porto Alegre com olhos que misturam inveja e melancolia. O mesmo acontece quando vou ao cinema. Sala de qualidade? Não, ainda não há aqui. Infelizmente.
Juro que faço essa crítica com medo: já pensou se as três salas de cinema existentes aqui fecham suas portas? Morrerei de tristeza. Enquanto elas estão lá continuo com minha esperança de encontrar uma sala limpa, com ar-condicionado adequado e um excelente lançamento na grande tela.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O Bilhete



Em uma visita a casa da minha sobrinha (5 anos), peguei um caderno da “Moranguinho” e folheei até encontrar o que parecia ser um bilhete e pela letra bem maior do que as linhas do caderno, percebi em um segundo que era de autoria da minha sobrinha.
No bilhete dizia “Te amo e te adoro, mas não me “covide” para nada. Me “descupe”. Um beijo” Perguntei a ela do que se tratava e ela me explicou.
Era uma comunicação de sacada para sacada. De vidro para vidro, ela e sua vizinha, também amiga, de 7 anos, se comunicavam. Como minha sobrinha havia chegado da escola e ia tomar banho, não podia brincar naquele momento e estava expressando tal mensagem pela escrita do bilhete.
Sou coruja, eu sei, mas não é uma graça tudo isso?
Fazer parte disso é algo único, impossível de mensurar o ganho.


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Encontrando as palavras



 Minha sobrinha de 5 anos está começando a ler e me emociono em ser testemunha disso. O “nh” e o acento agudo, por exemplo, não são naturais para ela como é para nós, adultos.
A leitura é meio que tateada, feita com cuidado e desconfiança. Busca o olhar do outro para confirmar seus acertos ou o socorro aos seus erros. As palavras já familiarizadas são lidas com desenvoltura e servem de estímulo para continuar o desbravamento.
Esquecemos do quanto aprendemos, de quantos desafios precisamos enfrentar até chegar à alfabetização, ao conhecimento maior do mundo e de como as coisas funcionam.
Nas cabecinhas infantis a vida é simples muitas vezes, seu cotidiano é seu mundo, todavia em outras questões, tudo parece complexo demais. As crianças são invadidas por sentimentos e sensações que nem sempre sabem identificar, e talvez seja essa parte a maior complexidade.
Nesses confusos e “normais” sentimentos há o desejo de independência, de conhecer, de avançar em novos percursos e aí a aquisição da leitura acaba sendo um passo fascinante. A busca por interação, diversão e decodificação de mundo encontra eco na leitura.
Junto a esse processo de leitura está a escrita, que gera em nós, adultos que rodeiam os pequenos, instantes de riso e orgulho, que contarei em outro texto.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Frase do Dia



"A realidade é coisa delicada, de se pegar com as pontas dos dedos."

(Paulo Henriques Britto)
                                                                    
                                                                   

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Impunidade

Eduardo Sánchez 123RF


Sabem aquela cena que passou mais de uma vez nos canais de televisão que mostra dezenas de traficantes fugindo da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão? Pois então, nestes últimos dias ouvi várias pessoas favoráveis ao assassinato daqueles bandidos.
Tais pessoas comentavam “Por que a polícia não atirou?” Dependendo da falante e do contexto me coloquei contra, tentei uma discussão. Amigável, claro. Não me choquei com tal postura, ela é compreensível.
Acabamos enfrentando centenas de casos de impunidade, assim, muitos de nós já não toleram mais, não acreditam mais no sistema judiciário e nas equipes de segurança dos governos. Passam a crer que a morte seria a única solução eficiente.
Daí a importância do sucesso nessa operação das polícias no Rio e da sequência do processo: mais investigação, julgamento, prisão etc.
Houve mudança no comportamento da população carioca com os policiais, dizem. É um motivo para ficarmos felizes, claro. Necessitamos voltar a acreditar no Estado e na Lei.
Sem eles somos reféns da barbárie.


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Cólera


Olga Drozdova 123RF


Na manhã de sábado li o texto de Moacyr Scliar, publicado em Zero Hora, acerca do cólera. Atualmente quando se fala em cólera logo pensamos no Haiti.
O Haiti é um país que sofre há muito tempo com calamidades sociais, em janeiro deste ano um terremoto de escala destruidora, seguido de um conjunto de tremores de intensidade menor, fez de Porto Príncipe, uma capital em ruínas.
O que parecia não poder piorar, afinal já era um país pobre, atingido por uma tragédia da natureza que matou 300 mil pessoas, piorou.
 Uma epidemia de cólera assola parte do país, as autoridades tentam evitar que alcance a capital, com mais de um milhão de habitantes.
O cólera como bem aponta Sclyar é uma doença bastante antiga. Ela é causada por uma bactéria que se multiplica rapidamente no intestino, a toxina que resulta desta operação causa no paciente diarréias frequentes.
Por causa da desidratação rápida pode causar a morte, como já ocorreu no Haiti nesta epidemia. Mais de duzentos haitianos sucumbiram ao vibrião colérico.
Para citar o médico e escritor gaúcho mais uma vez, é uma vergonha que ainda exista a possibilidade, em pleno século XXI, de uma epidemia de cólera, porém existe. Nossas tecnologias parecem nos colocar no mundo dos Jetsons, porém muitas das condições de saúde de vários lugares do Brasil e do mundo está muito mais próximo dos Flinstones.

domingo, 28 de novembro de 2010

Boa Fé

Natalia Gesto 123RF


 Não podemos deixar de ter boa fé nessa vida, mas precisamos ficar de olho. Foi essa conclusão que cheguei após conversar com meu marido a respeito de uma chateação que tive.
Quando temos boa fé tendemos a estar muito abertos a abraçar projetos, aceitar demandas, participar de atividades, tendemos, enfim, a confiar nas pessoas que convivemos.
Confiar é bom, porém o pezinho atrás é imprescindível porque, infelizmente, nem todos têm a tal da boa fé. E aqueles que não a tem, fazem a festa quando se deparam com pessoas, como eu e você, que creem na palavra alheia.
O que não podemos permitir é que nossa boa fé seja esmagada pela decepção, daí a necessidade de estarmos mais atentos porque nem todos são como somos. Em vários momentos, as diferenças se somam, se complementam, enriquecem, todavia há aquelas diferenças que machucam, que ferem, que desrespeitam, e são essas que precisamos detectar antes de nos sentirmos enganados.


sábado, 27 de novembro de 2010

Rio 40º

Ônibus queimado por traficantes na bairo de Maria da Graça, Rio de Janeiro – 26/11/2010
Foto: Marcelo Sayão



Na última quinta-feira, Luiz Eduardo Soares, em seu blog, escreveu um texto bastante interessante para compreender melhor o que ocorreu nesta última semana na zona norte do Rio de Janeiro.
Comparando a violência do tráfico com um corpo doente em um hospital, fica claro o quanto precisamos ficar ligados não somente nas ações policiais, midiáticas e civis durante a crise, como foram esses últimos dias, mas também no que vai ser feito depois.
Quando um paciente, por exemplo, entra em um pronto-socorro com infarto, não há tempo para pensar em como os cardiologistas estão sendo formados, na falta dos equipamentos necessários, nos salários pagos aos médicos com atraso. Não há espaço para tais reflexões.
O paciente precisa do atendimento rápido e eficaz. Foi isso que a segurança do Rio de Janeiro fez. Assumiu um território até então dominado pelos traficantes expulsos das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), tentou ao máximo controlar os ataques de terror e assegurar o bem-estar da população civil carioca.
Mesmo sem ser especialista na área, arrisco a dizer que o maior desafio vem a seguir, quando a atenção ao fato diminuir, quando não houver mais nenhum ataque, tudo voltar à rotina. Como diz Soares, somos ótimos em eventos, assim os Jogos Olímpicos e a Copa serão um sucesso, provavelmente. A coisa complica na rotina. No cotidiano não conseguimos ter tanto sucesso.
Neste momento, são urgentes diversos assuntos relacionados ao que ocorreu no Rio. Como mudaremos o sistema penitenciário para dar conta de tantos presos e como impedir que muitos deles continuem a ser chefes das quadrilhas, de dentro dos presídios?
Quais estratégias as polícias que cuidam as fronteiras usarão para impedir entrada de armas e drogas?
Como será possível aumentar salários dos policiais e eliminar da folha de pagamento aqueles corruptos?
Essas são algumas das tantas perguntas que devem ser respondidas com ações.
Enfim, esta guerra existente há décadas, mas oficializada nesta semana, não pode ser pensada como bem-sucedida porque um território foi resgatado das mãos dos bandidos, pelo Estado. Ela só terá sucesso quando o espiral que a envolve for levado efetivamente a sério pelos governos, pelos comandos de segurança e pela sociedade.

Para ler Luiz Eduardo Soares:


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Dona Flor e seus dois maridos



A peça “Dona Flor e seus dois maridos”, baseada, claro, na obra de Jorge Amado me colocou a pensar no que as mulheres querem. Não há uma única resposta e isso é óbvio, porém a obra contempla uma pelo menos.
Muitas mulheres querem Teodoro e Vadinho num homem só. Querem a fidelidade, segurança e respeito de Teodoro e a paixão, a emoção e o humor de Vadinho.
Dona Flor, quando casada com Vadinho amava em sofria em seus braços. As declarações de amor e desejo do marido a derretiam, por outro lado, o dinheiro perdido em jogo e apostas e a “vadiagem” lhe incomodavam por demais.
Após ficar viúva e casar com Teodoro, ela conquista estabilidade e regulação em seu relacionamento, porém Teodoro não era um amante à altura da temperatura de Dona Flor.
Quando Vadinho retorna do além, o conflito é resolvido. De dia com Teodoro, à noite com Vadinho. Dona Flor estava completa.
O ideal para mulheres como Dona Flor, tal como disse antes, é encontrar em seu parceiro os dois elementos: a paixão e o respeito.

Quem quiser ver o site da peça, que por sinal vale a pena assistir, está abaixo:

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Semana do Bebê




Como havia dito em texto anterior, esta semana, em nosso estado, é a Semana do Bebê.  Assim, nesses dias, em várias cidades há um movimento ao redor dos pequenos e de suas famílias. Além disso, muitas escolas promovem encontros com especialistas para discutir acerca do desenvolvimento infantil e os desafios atuais frente à educação.
Não tenho qualquer dúvida sobre a importância desta semana. A forma como vemos, lidamos e compreendemos nossos bebês determina como nossas crianças encontrarão o seu lugar na sociedade e quais os valores que os norteiam em seu comportamento.
Dia após dia somos informados, pelos veículos de comunicação, o quanto famílias e comunidade escolar estão com dificuldades em estabelecer limites e disciplina, o quanto estão confusos com a fronteira entre o permitir e o proibir e por fim, a incerteza em transmitir os valores fundamentais para a criança em formação se tornar um cidadão responsável e generoso.
Esse trabalho de formação não começa quando a criança está na primeira série. O início é dado quando ela nasce. A maneira como ela será acolhida em sua família, compreendida como sujeito que necessita de cuidados e afeto e respeitada pelas competências que possui define, em grande parte, a posição que ela ocupará, na escola, futuramente.
Da escola para vida são só alguns passos. Deste jeito, quando nos focamos na primeira infância estamos além de propiciar um desenvolvimento mais feliz para o bebê, estamos também trabalhando na prevenção de conflitos e construindo uma sociedade mais harmônica.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Dia do Bebê

www.annegeddes.com


Hoje, no Rio Grande do Sul, é o Dia Estadual do Bebê. Você sabia?
Em sua cidade, sendo gaúcha, claro, há atividades nesta semana, denominada Semana do Bebê?
Por fim, aproveitando a data, cabe a indagação: como estamos cuidando de nossos bebês, de nossas crianças?


domingo, 21 de novembro de 2010

Frase do Dia

Cristina Cazan 123RF


"A honra não consiste em não cair nunca, mas em levantar cada vez que se cai."

                                                                                                    Confúcio

sábado, 20 de novembro de 2010

Horário de Verão



 Sempre que o assunto horário de verão surgia na roda eu preferia me abster porque não tinha uma opinião formada. Demorei muitos anos para sair do muro. Eu não sentia o horário alterando minha rotina, se alterava não me chamava a atenção a ponto de se posicionar contra ou favor dele.
Pois bem, agora tenho opinião formada por completo. Gosto muito do horário de verão. É bom ir para casa quando ainda há restos de sol.
Minha relação com o tempo mudou neste ano e não sei bem identificar o motivo. Minha única suspeita tem a ver com a experiência de ter morado em solo inglês, tão castigado por um tempo hostil. Os ingleses não merecem tantas nuvens.
Sempre fui condescendente com o tempo nublado e chuvoso. Não sei dizer o porquê. Provavelmente coisas muito felizes me aconteceram na minha tenra infância em dias assim, todavia hoje adoro um sol e isso é novidade.
Continuo não adepta a banhos de sol, isso não mudou, mas um dia ensolarado mesmo que sempre valorizado, está mais adorado, sem dúvidas.
Então, esse verão mesmo que sofra com as temperaturas surreais, vou me permitir reverenciar o sol e a possibilidade de tê-lo na minha volta diária para casa.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Os livros e o tempo

mj007 123RF



O grande desafio de quem gosta de livros é encontrar tempo para lê-los. Meu desejo por ter cada livro que me captura é controlado (ainda bem!) pela realidade do meu bolso porque a linearidade do tempo, ignoro.

Como as coisas e as pessoas mudam o tempo inteiro, em grandes ou pequenas proporções, mudei também. De uns tempos para cá comecei a refletir sobre o quando o dito cujo seria lido, se teria espaço em minha escala de leituras necessárias e desnecessárias. Essa reflexão me fez economizar vários “tostões” e também curtas frustrações por ver o livro ainda “virgem”.

Não adianta, volta e meia venho com o assunto tempo. Para mim e para tantos outros, esse é o enigma do século. Como manejar o tempo que se tornou tão curto? Como nossa subjetividade atende a tantas demandas?

Reparei que para quase todo mundo acontece a seguinte operação: algumas coisas se arrastam, por exemplo, comprar um móvel para casa ou arrumar um armário; enquanto outras são resolvidas de forma rápida, por exemplo, comprar um móvel para casa ou arrumar um armário.

Não, não digitei errado. Não é pegadinha. Não há regra para o que é resolvido rápido ou lentamente. Depende de cada um de nós, de nossas dificuldades, como se diz: depende onde o sapato aperta.

O problema em si não é a velocidade em que as coisas são processadas, mas como nos comportamos frente ao processo, seja ele frustrado ou com sucesso. Além de aprendermos a lidar com 24 horas mais breves precisamos aprender a aceitar que não podemos fazer tudo. Não podemos ler todos os livros que nos interessam.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Esperar é respeitar

Ozkan Deligoz 123RF


Neste último feriadão estive em um congresso. Para ir até ele precisei pegar um ônibus e posteriormente um avião. Enfim estaria no meu destino final. Apesar do atraso do voo de ida em uma hora, tudo mais foi tranquilo. Temia afinal nossos aeroportos, como bem sabemos estão longe do ideal e sendo feriadão, a possibilidade de estresse não era tão distante da realidade.

Não foi para comemorar o sucesso de ida e vinda de viagem que escrevo, mas sim para fazer um comentário que acredito ainda não ter feito aqui. Há várias coisas que podem nos irritar, seja porque estamos na TPM ou em um mau dia, seja porque a coisa é chata mesmo. E é de uma delas que falo.

Você está no ônibus, a viagem dura 3h15min, você está perto da rodoviária, uns três ou quatro superansiosos começam a levantar, pegar sua bolsa de mão e ficam em pé, como se esse movimento fizesse o motorista pisar mais fundo no pedal.

Lógico que dentre tantos casos há aqueles legítimos, em que a pessoa está atrasada para uma consulta médica ou uma entrevista de emprego, mas na maioria das vezes é pura ansiedade que gera incômodo para quem ocupa as primeiras poltronas do veículo.

A mesma coisa acontece, pasmem, no avião. A viagem pode durar uma hora e pouco, não adianta, as criaturas se espremem no estreito corredor da aeronave.

A primeira vez que me deparei com essa “impaciência impulsiva” no avião foi até engraçado. Enquanto ficava pasma com as pessoas levantando das poltronas enquanto o aeroplano ainda manobrava na pista, após a aterrissagem, em um movimento do piloto, as pessoas em pé quase perderam o equilíbrio. Não caíram, ainda bem, minha crueldade não chega a esse ponto, porém confesso que ri discretamente daquele jogo de corpo buscando a posição ereta e quem sabe, se dando conta da falta de bom senso.

Para quê tanta pressa? Como disse, há casos em que a pressa é urgente sim, mas em outras é apenas uma pressa por hábito, quando o estar correndo serve de desculpa para não esperar a sua hora e respeitar a hora do outro.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Chá de Sumiço

Studio Porto Sabbia 123RF

Tomarei um chá de sumiço. Aliás, tomei uns goles quando não escrevi nem domingo nem ontem. Amanhã tomo novamente e só voltarei na semana que vem. Não estou doente. Não estou em férias. Estou tomando fôlego mesmo. Os últimos dias foram corridos e os próximos serão ainda mais.
Preciso abrir mão de algumas coisas, mesmo que prazerosas para poder dar conta dos deveres.
Não é assim que a gente faz? Malabarista, é o que somos, quando o tempo permanece tendo 24 horas, porém a demanda não é proporcional a este período.
Precisamos de flexibilidade e perdoar nossa incapacidade de perfeição. Somos seres imperfeitos. Ainda bem. Já pensou que chato a vida sem desafios?
Pois é, daqui uns dias volto mais inspirada, quem sabe, e tranquila para poder teclar inquietações, desatinos e questionamentos.

Um beijo!

sábado, 6 de novembro de 2010

Bom descanso!

Tetyana Kulikova 123RF

"(...) Mas na cultura da agitação, curtir uma fase para se entregar ao luxo de não fazer nada parece vergonhoso: ou estamos em atividade, ou temos de nos resignar a ficar num canto, quem sabe vestidos de palhaços numa peça de teatro infantil.

Merecido descanso, ócio criativo, quietude plena, não ocorre a quem, como tantos de nós, tem a alma musculosa e ossuda, cultivada numa esteira que corre para o nada.”


(Lya Luft – Múltipla Escolha)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Torturas e Tristezas




Maria do Carmo Serrano tem sessenta e dois anos, moradora de Goiânia, é proprietária de uma creche chamada “Bebê Feliz”. A coordenadora pedagógica do estabelecimento, orientada pela polícia, gravou cenas chocantes das agressões cometidas por Maria do Carmo às crianças que deveriam estar sob sua proteção.

Os pais ao tomarem conhecimento do fato, desesperados foram salvar seus filhos da “vovó”, como era chamada a dona da creche pelas crianças, porém mais caberia o termo “bruxa má”.

A polícia indiciou a mulher por tortura. A justiça negou prisão temporária. Seu advogado diz que logo ela se apresentará às autoridades.

As cenas da gravação são de cortar nosso coração. Qualquer ato violento nos mobiliza, mais ainda quando as vítimas são bebês e crianças, incapazes de se defender. Mais uma vez nos causa impacto a crueldade e o quanto nossas crianças podem estar desprotegidas.

Escrevo este texto não apenas despertada por este fato de Goiás, antes aconteceu aqui perto da minha cidade. Uma mãe de 19 anos e o padrasto de 18 foram presos por tortura ao filho/enteado de 2 anos. O menino está no hospital, se recuperando das fraturas. Como veem, essa semana foi marcada, pelos veículos de comunicação, por maus tratos a pequenos cidadãos brasileiros. Isso não é tudo. Temos ideia do quanto isso é mais frequente do que conseguimos saber e do que é chegado às autoridades competentes?


Para quem tem interesse e também estômago:

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Consumismo

Ozkan Deligoz 123RF


Antes de começar a campanha eleitoral, neste ano, Soninha Francine, vereadora paulistana do PPS, falou em rápidos comunicados sobre a ideia de que o quanto estamos consumindo não significa necessariamente a qualidade de vida que merecemos. Em uma época em que o ter vale mais que ser, devemos ficar atentos para remarmos contra a maré.

Não estou fazendo apologia ao fim das compras. Nada disso. Apenas desejo refletir acerca do quanto estamos consumindo vertiginosamente e questiono para onde tantas sacolas podem nos levar.

Como disse, não sou contra as pessoas comprarem objetos que seu bolso pode pagar. Não se trata disso. Trata-se da “filosofia” atual de que as pessoas são julgadas pelas suas aparências, que vão deste a marca do jeans ao celular que se atende.

Preocupo-me com o que estamos fazendo com a geração que nos substituirá ao passarmos para ela valores tão fugazes, onde o tipo de carro parado na sinaleira vale mais que a obediência ao sinal vermelho.

Exagero? Não sei. Quantas regras vemos quebradas no nosso cotidiano?

Não sou filiada ao PPS, assim não tenho nenhum objetivo partidário nesse texto, porém a fala de Soninha me marcou bastante porque me identifiquei completamente com ela. Educação, saúde física e mental, trabalho, segurança. São estas as verdadeiras medidas de qualidade de vida.

O vídeo da Soninha está no endereço abaixo:


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Recomendações às mulheres de ontem

Tetyana Kulikova 123RF


Ontem na página Almanaque Gaúcho, de Olyr Zavaschi, do jornal Zero Hora, li frases que decidi reproduzir aqui. Elas foram retiradas de duas fontes, entre as décadas de 1940-60, e nos fazem pensar no papel feminino da época. E de quebra, fazer um paralelo com a atualidade.

“Não se deve irritar o homem com ciúme e dúvidas.” (Jornal das Moças, 1957)

“Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afeto.” (Revista Claudia, 1962)

“A desordem em um banheiro desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa.” (Jornal das Moças, 1945)

“A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas, nada de incomodá-lo com serviços domésticos.” (Jornal das Moças, 1959)

“A esposa deve vestir-se depois de casada com a mesma elegância de solteira, pois é preciso lembrar-se de que a caça já foi feita, mas é preciso mantê-la bem presa.” (Jornal das Moças, 1955)

Apesar de não lermos em revista nenhuma nos dias de hoje coisas como essas, podemos pensar se ainda há resquícios de tais ideias, se elas são ditas sutilmente, consideradas ainda como “verdades”. Será?

De qualquer maneira, precisamos fazer um agradecimento silencioso e respeitoso às mulheres que lutaram por nossos direitos, tanto os políticos como os privados, nos livrando assim, de “recomendações” como essas citadas acima. Se ainda há restos, acredito que a desconstrução começada com o movimento feminista continua.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Feira do Livro

Tatyana Ogryzko 123RF


Temos muitas perguntas sobre o sentido das coisas, necessidades de compreender o que se passa conosco, desejo de conhecer o mundo e as pessoas. As experiências que temos no cotidiano nos ajudam a preencher as lacunas, todavia a literatura é, para mim, uma especial maneira de sentir e pensar a vida que vivemos. Pelas mãos dos personagens vivemos suas histórias e voltamos para a nossa própria. Nesse movimento, às vezes sutil, às vezes brutal, fazemos ressignificações.

A feira do livro é uma festa. Mais rica em Porto Alegre, sem dúvida. Mesmo assim, a de Pelotas merece nossa homenagem. Todos os olhares para os títulos, as mãos percorrem as páginas e as sacolas prometem uma aventura não apenas no enredo contado pelo autor, mas também no encontro com o nosso próprio íntimo.

Até o dia 15 de novembro, ambas as feiras estarão de braços abertos para nós, viajantes incansáveis, que temos a literatura como um aliado para viver melhor.

Site da 56ª feira de POA:

domingo, 31 de outubro de 2010

sábado, 30 de outubro de 2010

Partos




Tenho uma amiga, também psicóloga, que trabalha com gestantes. Em um bom papo nessa semana, descobri com ela algo que já deveria saber, mas não sabia.

As cesarianas alcançam números altos no Brasil, sendo na maioria das vezes sem indicação real para isto. Dentre os partos normais feitos, uma minoria é humanizado.

O parto ideal seria aquele em que o bebê comanda, isto é, quando ele está pronto envia “sinais” de que a hora do nascimento chegou. Quando há razões para a cesariana, a técnica é excelente, porém ela foi banalizada, ou melhor, naturalizada, e vista como a “melhor” maneira de ganhar um filho. Assim, não é incomum que o bebê nasça antes do tempo, antes de ele “querer” nascer porque o que acarretou seu nascimento não foram seus sinais e sim um cálculo em um consultório médico.

O parto normal deveria ser sem indução, sem massagens na barriga, sem dores dilacerantes, porém a fim de apressar o nascimento, muitos hospitais usam como regra geral a indução, isto é, medicamentos colocados no soro para “agilizar” o processo, o que causa muitas dores à parturiente. Além disso, é comum haver um corte que poderia ser desnecessário.

O que eu deveria saber e não sabia? Que a maioria dos partos normais feitos no Brasil ocorre sob indução, fazendo com que muitas mulheres vivam esse momento que deveria ser tão feliz, com um sofrimento desnecessário. A pressa cotidiana está influenciando também os nascimentos de nossos bebês.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Máquina do Tempo

Ruslan Zalivan 123RF



Na crônica de ontem, do jornal Zero Hora, Martha Medeiros escreveu sobre um livro que começou a ler e depois de muito interessada perdeu a vontade de seguir a leitura. Ela parou no momento em que surge uma máquina do tempo, e daí ela reflete sobre o seu desinteresse em ir para o passado e para o futuro. Identifiquei-me completamente.

Apesar de estranhar minha aparência que não tem mais o viço dos 20 anos, não voltava de jeito nenhum para a adolescência, por exemplo, e muito menos gostaria de me ver aos setenta, se lá chegar. Gosto do tempo presente, hoje. No máximo o ontem e o amanhã, mas décadas para trás e para frente, nem pensar!

Lógico que poderia fazer algumas coisas diferentes, me tranqüilizar em relação a inquietações e preocupações infrutíferas que tive anos atrás ou que tenho agora e, estando no futuro, saberia se faz sentido ou não os medos que posso sentir. Mesmo com estas “vantagens”, passo adiante a passagem.

Quase sinto um interesse por uma máquina do tempo para ser uma paciente de Freud, por exemplo, assistir uma aula de Foucault, estar em um show do Queen, conhecer culturas passadas. Notem, não tem qualquer relação com minha vida em si, mas com momentos e personagens históricos. Juro que pela impossibilidade real disso, não ganha qualquer importância na minha mente uma viagem como essa.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Frase de Betinho - em clima eleitoral


"Quando vou votar, penso na história do candidato, nas suas alianças e programas, mas principalmente na história política dele: o que faz e que partidos, cargos e experiências concretas já teve".
(Herbert de Souza)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Segunda-feira

Kuang Ying-Chou 123RF



Segunda-feira começa e junto com ela duas coisas podem acontecer: nós pensarmos ansiosamente se daremos conta das duzentas tarefas da semana ou pensarmos em como curtiremos melhor as atividades dos próximos dias.

Não temos dúvida de quanto o rolo compressor atual nos impele para sermos cada vez mais “dinâmicos”, ou diria, mais estressados. Aí é urgente a necessidade de nos impormos.

Lógico que há coisas não negociáveis, porém as flexíveis vão nos ajudar a mudarmos nossas velas segundo o vento e a nossa própria vontade de destino.

Entramos no funil da correria sutilmente, quando vemos já faz parte de nossa rotina e, com isso, corremos o risco de o lado poético da vida não ter espaço para existir.

Que a segunda-feira não seja apenas, para muitos de nós, o primeiro dia de trabalho da semana, mas que também seja a chance de desacelerarmos um pouquinho para apreciarmos a paisagem.

domingo, 24 de outubro de 2010

Frase de domingo

Ionut Dan Popescu 123RF


"Sentir tudo de todas as maneiras, viver tudo de todos os lados, ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo..."

(Fernando Pessoa)

sábado, 23 de outubro de 2010

Cela 211




O filme “Cela 211”, de Daniel Monzón, conta a história de Juan Oliver, um carcereiro que um dia antes de assumir seu posto decide fazer uma visita ao seu local de trabalho. No momento em que dois colegas apresentam o presídio a ele, acontece uma rebelião e Juan, sem conseguir fugir, finge ser o preso da cela 211. Em um contexto de tensão, ação e angústia, o filme de produção espanhola e francesa se passa.

A violência é um dos personagens principais do filme. Ela não é um mero meio de apresentar a história, é mais. A agressividade aqui perpassa todos os personagens. As idiossincrasias humanas são expostas, e neste cenário não há lugar para a simplificação bons versus maus. Os personagens tais como as pessoas da vida real são muito mais complexos que esta tentativa simplificadora de julgamento. O filme sai do lugar-comum por esta razão.

“Cela 211” venceu com méritos os prêmios Goya de melhor filme, melhor direção, roteiro adaptado (o filme é baseado no livro homônimo de Francisco Perez Gandul), ator (Luis Tosar, que faz o Malamadre), ator revelação (Alberto Ammann, que interpreta Juan Oliver), atriz coadjuvante (Marta Etura, por Elena, esposa de Juan), som e montagem.

Confira o trailer: