sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Coisas do amor: o que resiste em nós


Bojana Ilic 123RF

Facilmente constatamos as mudanças contemporâneas no âmbito dos relacionamentos afetivos. Sabemos disso de olhos fechados. A questão não é essa, mas sim o que permanece em nós em meio a tantas mudanças.

Observamos pessoas se relacionando com a agilidade do clique de um mouse ou de botões do controle remoto; porém, há um elemento que sobrevive. Que sobrevivente é esse? O desejo do encontro. Exceções existem. Há aqueles que dizem que não querem ninguém para valer, só por uma noite já está legal, o que não deixa ainda de ser um encontro! No entanto, não é deste tipo de ligação afetiva que estou aqui a falar.

Quero falar de um verdadeiro “encontro”. Com direito ou não ao romantismo. Pode ser uma companheira para as férias ou um companheiro para o cinema. Tanto faz a justificativa. Por trás dela, está um sincero desejo de estar junto com alguém. Há uma parte de um poema do psicodramatista Jacob L. Moreno que diz:

“Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face.

E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos:

e colocá-lo-eis no lugar dos meus;

E arrancarei meus olhos

para colocá-los no lugar dos teus;

Então ver-te-ei com os teus olhos

E tu ver-me-ás com os meus.”

Este poema fala sobre qualquer encontro, nas mais variadas circunstâncias, portanto, não exclusivamente o amoroso. O que há de bonito nele é a possibilidade de uma entrega total, de olhar o outro com os olhos do outro e vice-versa. A oportunidade de se desnudar para o outro e aceitar o seu desnudamento.

Ouve-se falar que tudo está mais banal e superficial. Muitas coisas sim estão dessa forma. Todavia, não há só isso. A herança romântica sobrevive em nós. Entre muitos amores frugais, regados com os impulsos do momento, sobrevivem ainda aqueles que são pensados, desejados, planejados com os detalhes que esses sentimentos exigem.

Os valentes seguram firme a sua vontade de viver uma história de amor e tentam resistir a esse ritmo frenético em que parece que tal história está fora de moda. Dialogam com o poeta Vinícius, acreditando que o sentimento pelo outro pode ser chama, portanto não eterna, mas é infinito o desejo de amar.

2 comentários:

  1. De onde tiras tantos assuntos? Está cada vez melhor.Tens que fazer um livro.Bjs

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  2. Amei! E a poesia do Moreno... que eu nem sabia que sentia saudades!

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