domingo, 31 de janeiro de 2010

Um Presente para Você


Daniil Kirillov 123RF



Imagine que você vai ganhar um presente. Apenas um. Todavia você pode escolher o que você quiser, desde que seja objetivo. Uma casa, uma viagem, um carro, um emprego, um amor, um talento, uma experiência. O que você escolheria?

Podemos ficar indecisos frente a tantas boas possibilidades. O sentimento de urgência falará mais alto. Isto é, se você está procurando emprego há um ano, será esse seu pedido, mas se está desejando companhia, um amor será mais oportuno.

Seria legal se uma vez na vida ganhássemos essa oportunidade. Como que encontrar o Gênio da Lâmpada, só que com direito a apenas um pedido. Ganhar rapidinho algo que até temos a chance de conquistar, de modo geral, após relativo esforço.

Enquanto não ocorre este encontro na vida, com o gênio de um pedido só, vamos angariando meios de fazer por nós mesmos o que desejamos tornar realidade, não com a pressa da ansiedade, mas com a solidez de quem quer de verdade.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Viver a vida


Olga Drozdova 123 RF


Há um tempo, quando ainda estava na Inglaterra, escrevi a respeito da novela de Manoel Carlos que está no ar. Havia dito que falava sem muita propriedade, afinal eu não a via, seguia apenas as pistas dadas por diversas fontes.

Agora, uma vez que outra a assisto. Não paro tudo para me pôr em frente à televisão, mas às vezes dá certo de eu querer ficar sem fazer nada e a televisão estar ligada em “Viver a Vida”. Acho muitas cenas chatinhas, com diálogos ralos e tudo meio manjado.

A parte alta da trama, para mim, é o diálogo entre mãe e filha, protagonizadas por Lília Cabral, sempre fantástica, e Alinne Moraes, que também está bem em seu dramático papel. Vejo com beleza as palavras de apoio e carinho recíprocas entre ambas.

A mãe oferecendo suporte à filha, que ficou recentemente tetraplégica. A filha, grata, servindo de mola propulsora para a mãe seguir a vida após o fim de seu casamento. Uma relação de amor e solidariedade entre mãe e filha.

Há núcleos menores, que não sabemos o que estão fazendo ali, mas, pelo menos, esta dupla acertou o tom. Outros personagens interessantes são os do núcleo médico e os gêmeos, vividos por Mateus Solano.

Criticamos, podemos desligar a televisão. Mesmo que não sejamos fãs de carteirinha, sempre sabemos alguma coisa das novelas por ser um elemento cultural nosso muito forte. Mesmo que ela não seja exatamente como a gente quer.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Antiquários


bedolaga 123RF


Alguns dias atrás visitei um antiquário. Foi uma experiência interessante, uma viagem no tempo pelo sentido da visão. Móveis antigos e padrões que marcaram épocas.

Cômodas, cristaleiras, armários, cadeiras, mesas que não apenas testemunharam o passado e vidas que não existem mais. Os desenhos das peças de mobílias não possuem relação somente com a arquitetura e decoração, mas também com os modos de vida.

Louças minuciosamente desenhadas, adornos, garrafas de licores, trincos, copos, cálices, enfim, objetos de uma época ganham destaque em lugares como os antiquários. Se eles ainda têm poeira ou algum defeitinho de uso se tornam ainda mais charmosos por mostrarem com clareza o tempo de vida que têm.

Diferentemente de briques, os antiquários são fascinantes. Os primeiros podem ser bastante úteis e até conter utensílios interessantes. Todavia são os segundos que têm em si a marca da passagem do tempo não como velharia ou sucata, mas como tesouros.

Tesouros que não sabemos a quem pertenceram, não têm nomes, nem ruas, nem a indicação das casas de onde aqueles objetos viveram. Apenas eles e suas misteriosas histórias. Sabem guardar os segredos de quem os escolheram para si e para o seu lar.

E, assim, a partir dos antiquários, o passado se renova. É reciclado para conviver com o presente e seguir no futuro. Ao ir para um novo lugar, a velha peça reconquista seu lugar como testemunha de vidas.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Tragédias


Andrey Surovyatkin 123RF


Uma criança, personagem de um conto de Lya Luft diz: “Os adultos precisam de certezas”. Ela está certa, somos tão necessitados do controle que queremos saber tudo, ter explicações para tudo, compreender o que nos acontece e o que ocorre em nossa volta.

Iludimo-nos acreditando nisso, em bengalas que adotamos para nos sentirmos menos frágeis e vulneráveis. Intimamente, sabemos o quão pó nós somos, mas como viver enxergando tão claramente, todos os dias?

Pelos nossos questionamentos existenciais sem respostas, nos acomodamos em nossas crenças e ideias sobre a vida que nos auxiliam a viver de forma menos dolorida. Acontece que em várias partes do nosso percurso nos defrontamos com o caos, em que todos os tijolos que construímos se desfazem.

A perda de um familiar, a perda de um emprego, uma grave doença são alguns dos eventos que tiram tudo do lugar. Nossa rotina é levada para outro local, como se um tornado ou sismo ali passasse. Temos destruídas as nossas certezas e tudo vira um ponto de interrogação.

A reconstrução pode ser feita, mas não rapidamente. É necessário um tempo para encontrar e se desfazer dos restos para assim uma nova ordem se constituir. Alimentar, mais uma vez, nossa escala de certezas para poder enfrentar as dificuldades e as sombras do caminho.

Estas certezas são esperanças de que amanhã o dia terá sol, que se estará vivo, que a nossa casa estará em pé, que a nossa mesa de trabalho estará nos esperando. O que aconteceu com o Haiti na semana passada é um caos elevado à potência máxima. Uma tragédia coletiva, que não apenas o mundo particular foi atingido, mas todo o lugar em que se vive.

Familiares e amigos mortos, casas destruídas, desemprego, fome, sede e doenças estão na rotina de Porto Príncipe, desde o terremoto. Tudo de uma só vez foi arrancado do cotidiano. Sem dó nem piedade. A tentativa de compreender ou de ter alguma certeza neste momento parece sem propósito. O impacto é tão grande que só resta o desespero do mundo das incertezas.

Terremotos não podem ser previstos. Apesar de toda a tecnologia de hoje, não há métodos completamente eficazes para avisar que um sismo está próximo. Assim como as tragédias pessoais de nossas vidas que chegam sem tocar a campainha.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O Amor e o Julgamento


bedolaga 123RF


Como sabemos o amor nem sempre significa felicidade e redenção. Um dos casos mais célebres de tragédia no contexto amoroso é o que envolve Euclides da Cunha, Ana e Dilermando de Assis.

Mary Del Priore é uma historiadora e escritora de dezenas de livros, entre eles “História das Mulheres no Brasil”. Chamou-me minha atenção ao ver uma de suas mais recentes obras “Matar para não Morrer – A morte de Euclides da Cunha e a noite sem fim de Dilermando de Assis”, pelo fato de a historiadora escrever pela perspectiva de Dilermando.

O casamento entre Ana e Euclides ocorreu em 1890. Como se sabe, no final do século XIX e início do XX, o patriarcado era a ordem familiar. Cabia à mulher a quietude da casa, o cuidado dos filhos e do marido. Ao homem era a responsabilidade de prover sua família e manter sua esposa sob suas “asas”.

O imortal da Academia Brasileira de Letras e autor de “Os sertões” era um homem difícil de conviver. Além disso, em função do trabalho, se ausentava por longos períodos, deixando sua esposa Ana da Cunha e seus filhos sozinhos sem a sua proteção.

Ana, se sentindo sozinha e frustrada, apaixonou-se pelo jovem e amoroso Dilermando. Ela com 33 anos e ele com 17. Se o adultério era julgado de forma ferrenha, imaginem com o agravante da diferença de idade entre os amantes.

O livro narra a trajetória de Dilermando a partir de seu encontro com dona Saninha, como Ana era chamada. O amor entre os dois rimou com morte e tragédia. Ambos sofreram muito e Dilermando foi julgado inúmeras vezes, pela justiça e pela mídia.

Del Priore mostra o sofrimento de Dilermando frente às acusações, não apenas da justiça, como já dito, mas da sociedade carioca. Um homem que tentou mais de uma vez reconstruir sua trajetória e fugir da máscara do mal, arquitetada por muitos jornalistas e formadores de opinião.

No dia 15 de agosto de 1909, Euclides da Cunha invadiu a casa do tenente Dilermando, no bairro Piedade, no Rio de Janeiro, com um revólver na mão, disposto a matar o amante de sua esposa. Foi morto pelo excelente atirador, Dilermando. Porém, não houve apenas a morte do escritor. Nascia, naquele momento, uma cascata de mortes e pequenas mortes nas vidas dos envolvidos direta e indiretamente. Por fim, selava a equivocada ideia, cultivada pela imprensa da época, de que Dilermando de Assis era o vilão da história.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Xeque-Mate





O xadrez nunca foi um jogo que me despertou interesse de aprender. Porém, acho espetacular as histórias de grandes enxadristas, como os russos Anatoly Karpov e Garry Kasparov e o americano Bobby Fischer. A capacidade desses gênios de antecipar jogadas e de fazer lances fantásticos são admiráveis.

Atualmente o jovem norueguês de 19 anos, Magnus Carlsen é o fenômeno entre os enxadristas e número um do ranking da Federação Internacional de Xadrez (FIDE). A diferença deste gênio para os anteriores é que ele é da geração de softwares de xadrez, assim os jogadores de hoje estão mais “cibernéticos” do que os de antigamente.

Tudo leva a crer que Carlsen é humano, apesar de sua memória parecer a de uma máquina: guarda meio milhão de jogadas possíveis. Além disso, ele consegue antever os vinte lances seguintes da partida, mediante suas jogadas iniciais e as do seu adversário. Simplesmente incrível!



Para saber mais:

http://veja.abril.com.br/270110/garoto-meio-milhao-jogadas-p-106.shtml

Livro: “A Máquina de Xadrez” – Robert Lohr (editora Record)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Clarice


Studio Porto Sabbia 123RF


Na edição do jornal Zero Hora de sábado (23/01), no caderno Cultura, há uma reportagem especial sobre Clarice Lispector. O mote é a biografia lançada recentemente sobre a escritora, cuja autoria é do americano Benjamin Moser. O interesse do jornalista e escritor nasceu quando, desistindo de aprender mandarim, foi para as aulas de português. Nestas ocorreu o encontro com a escritora ucraniana de nascimento e brasileira de vida. Desde então, ele não sossegou com a ideia de que a vida de Clarice e sua obra deveriam ser conhecidas fora do Brasil.

A escritora gaúcha Cíntia Moscovich escreveu um texto muito interessante nesta matéria sobre a obra de Clarice. Ela fala que mesmo para os leitores mais especializados, às vezes a linguagem de Clarice pode ser dura, difícil e com muitos sustos. A linguagem é uma ferramenta utilizada com maestria em seus textos. Assim, ela fala de disponibilidade intelectual para começar um livro da escritora intimista.

Iria além, não apenas disponibilidade intelectual seria necessária para segurar uma obra como a de Lispector. Também é fundamental ter disponibilidade afetiva, isto é, segurar as mobilizações que geram as palavras “lispectorianas”. Clarice mexe e se você está em um momento não propício à entrega, não conseguirá ir além das primeiras páginas.

Clarice, como gosto de dizer, te pega pela cintura. Convida-te para um universo comum, porém apresentado de maneira incomum. Com palavras e formas de narrativas intimistas que tocam forte em nosso psiquismo.

Solidão, medo, a busca por sentido, a loucura, o cotidiano são trabalhados em seus livros e nos identificamos claramente com sua proposta, o que não significa que isso seja fácil. Dói, porque Clarice, com sua límpida percepção da vida e do humano, nos coloca frente a frente com o que nem sempre conseguimos ver.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Do “amor” à tragédia


oleksiy 123RF


Nesta semana, vi uma cena chocante na televisão. Talvez vocês também tenham-na visto. Uma mulher de 32 anos, separada do marido de 30, foi à delegacia de polícia oito vezes por causa de ameaças de morte feitas pelo ex-companheiro.

Ela possuía um salão de beleza, com distância de 50 metros de onde trabalha o ex como borracheiro. A fim de mantê-lo longe e se sentir mais protegida, instalou uma câmera no salão.

O casamento de cinco anos acabou de forma trágica. Ele chegou ao trabalho da cabeleireira, com um revólver na mão e disparou, à queima roupa, sete vezes contra aquela que dizia amar e que não podia suportar a separação.

Não conheço o rapaz para falar sobre sua personalidade e não pretendo fazer uma especulação maior sobre sua história de vida e agressividade. Não tenho dados suficientes para fazer uma análise apurada sobre como foi o casamento deles e como ambos se relacionavam.

O que me fez pensar foi a violência contra a mulher. A violência doméstica, que comumente é surda-muda. Ninguém fala e ninguém quer ouvir. Principalmente nas classes média e alta. Por terem ampla condição de socorro, conseguem mascará-la com mais sucesso.

Vergonha, medo, dependência emocional ou econômica acompanham as dores físicas e psicológicas das mulheres que sofrem abusos de seus companheiros. A mulher, para estes homens, é uma posse, é um objeto que pertence a eles, a ninguém mais e nem à vida. Eles necessitam ter controle sobre elas tal é o déficit de seu desenvolvimento afetivo.

O machismo que alimenta a dominação masculina, inferiorizando as mulheres, e pasmem, muitas vezes quem segura a colher de “comida” é a própria, pode corroborar para que o sujeito levante a mão sem notar o quão errada está a sua posição.

Claro que não é um aspecto inteiramente cultural. Há também aqui elementos da personalidade. No entanto, a mulher ainda está situada em uma posição frágil. Menos vulnerável do que antigamente, ainda bem, mas a voz feminina ainda não está igualada à masculina.

E estes homens que se julgam donos de suas companheiras perseguem, torturam psicologicamente e podem chegar às vias de fato simplesmente por não conseguirem ver sua mulher, ver como pessoa e respeitá-la como tal. Veem um ser que está à sua disposição, como uma escrava sem direito a desejos e decisões. Tais homens são tão fracos que precisam usar a força da irracionalidade com aquelas que pensam amar.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Impostos


程 æ‰ 123RF

“É um convite para não pagar”, essa foi a frase que ouvi de um bancário quando fui pagar várias contas anuais que têm relação com a minha profissão. São impostos e pagamentos a conselhos e etc. Lógico que paguei, mas não é fácil.

Pior ainda é quando penso no imposto de renda. Percebo o quão pode ser triste ser honesto. Eu pago, não sonego, não enrolo. Mas dói.

Dói porque parece que nosso dinheiro vai direto para os bolsos errados. Não vejo a saúde e a educação, por exemplo, como deveriam ser e muitas outras áreas também. Sei que o que escrevo em nada é novo, mas não podemos desistir de reclamar.

Se desistirmos, o que será de nós? Assim, não posso deixar de pagar as minhas contas, sejam elas impostos ou de outra natureza. Mesmo não entendendo exatamente o porquê delas.

Lembro agora de uma escocesa muito próxima, quando morei na Inglaterra. Ela pagava vários impostos, alguns saíam direto de seu salário na universidade, onde era professora. Queixava-se disso. Mas quando penso nesse caso, lembro que na Inglaterra você tem a saúde de graça e de boa qualidade. Você chega ao posto, no qual você já tem prévio registro, perto da sua casa, chega lá e marca o atendimento que poderá ser, com facilidade, no mesmo dia.

Vivi esta experiência, e no meu caso, nem houve registro anterior. Nem foi pedido documento ou passaporte, nada, apenas o preenchimento de um formulário. Em uns vinte minutos, a médica apareceu.

Outro fator animador no caso dos altos impostos ingleses: não há praticamente pedágios nas estradas e todas estão em perfeito estado e sempre em manutenção para assim permanecerem. Não andei por toda a Inglaterra, mas conheci vários lugares e passei por apenas uma cancela.

Sei que nem tudo são flores, mesmo lá. Por exemplo, as universidades são todas pagas, não há gratuitas. Você precisa de um planejamento desde as fraldas para custear os anos universitários. Mas vale a pena pagar impostos onde as coisas de fato funcionam.

São coisas do “primeiro mundo”, eu sei, mas é compreensível eu querer que cheguemos lá, não? Sem tanta espera nos hospitais, em que pessoas morrem porque seu número na fila não chegou.

Sempre quando chega o momento de pagar as contas, principalmente os impostos, que ainda faltam uns meses para serem pagos, sinto indignação por contribuir e pouco ver bons frutos dele.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Um sensato milionário


Robert Elfferich 123RF

O taxista George Sturt, 76 anos, ganhou mais de 75 milhões de reais na loteria, na Grã-Bretanha, juntamente com seus três filhos. Além de comprar imóveis e demais produtos, doar parte para instituições de caridade, o pai ganhador foi maduro: decidiu não deixar de trabalhar.

Grande parte das pessoas, se questionadas sobre o que fariam com uma soma milionária, afirmam que iriam investir em variados empreendimentos e deixariam seu ofício. Isto é, não seriam mais o que sempre foram.

Provavelmente há alguns ganhadores que dão certo nesta nova empreitada. Porém, há diversos casos comprovados de ganhadores que perdem tudo, justamente porque se perderam de si. É necessário um período de latência até que a pessoa se acostume com a nova conta bancária, para não cair em contos do vigário, para não dar um salto maior do que a perna e para continuar lúcida sem se perder nos sonhos milionários.

A vida inteira a pessoa ou tem sido secretária, ou trabalhadora rural, ou comerciante etc e, de uma hora para outra, muda radicalmente. Isso pode sugerir um fracasso. Não pode ser tão rápida esta mudança na identidade. Por isso, o britânico está certo.

Continuará com sua rotina até que ele possa decidir com mais calma o que fazer com seu montante de Pounds. Meu pai sempre dizia um ditado conhecido, que nem na euforia nem no desespero devemos tomar decisões importantes. Vê-se que George é adepto do mesmo dito.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O mal que vem para o bem



Ruslan Zalivan 123RF


Ele chega sem aviso. Ao se instalar, vemos tudo em cor pastel. Nada é interessante. Busca-se por algo que não se sabe bem o quê. Tenta-se uma coisa, se tenta a segunda e parece uma boca faminta de monstro que nunca se satisfaz. É ele, o tédio.

Nem sempre sabemos o porquê de sua existência. Podemos estar na nossa sempre faceira rotina e ele faz uma visita. Talvez justamente por causa da rotina. A necessidade de mudar, de balançar vem em forma de chateação.

Às vezes uma atividade o quebra, você vai ao cinema, lê um livro, sai com uma amiga, vai ao super, fala ao telefone, passeia com o cachorro, enfim, faz alguma coisa, mexe o corpinho e o tédio vai embora.

Porém, de vez em quando, nada que se faz é suficiente. O teimoso permanece ali até que ele faça o que tem de fazer. Quem sabe você precisa dar uma guinada, quem sabe uma manobrinha na relação ou no trabalho, ou ainda uma alteração na forma de ver a vida.

Assim que o fastio cumpre seu dever, se vai, e logo é esquecido. Ele surge para nos mostrar o quanto não podemos nos acomodar para ver a cor que a vida tem. A gente paga um preço ... sentir tédio é muito chato, mas quando ele vai embora é tudo de bom.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O “Gringo” mais divertido do Brasil




Carlos Henrique Iotti criou um dos personagens mais divertidos que existem no jornalismo brasileiro. Todos os dias, no Segundo Caderno de Zero Hora, lá estão o colono italiano com sua esposa, Genoveva, seu filho Guilhermino e o Nono.

Radicci nasceu em 1983 no jornal Pioneiro e desde então faz muito sucesso. Ele deu tão certo que tem site próprio e boa vendagem de seus vários livros. Ele está sempre com a barba por fazer, não é chegado ao trabalho nem aos cuidados higiênicos. Gosta de vinho e de boa comida, como um legítimo italiano.

Mesmo que sejam diferentes em vários aspectos, consigo ver semelhanças entre o Radicci e o Homer Simpson, outro personagem que me leva a gargalhadas. Tal similitude tem a ver com o não politicamente correto. Ambos são pais questionáveis, chegados ao ócio, a uma frágil responsabilidade, à comida e à bebida, cada um com seus gostos, é claro.

Caia na risada em: http://www.radicci.com.br.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O Casamento de Rachel




O filme “O Casamento de Rachel” não é genial, porém não passa despercebido por de quem o assiste. O enredo é o seguinte: Rachel vai se casar, o que é óbvio pelo título, e por essa razão, Kim, sua irmã, sai da clínica de reabilitação para participar do evento.

A volta de Kim ao seio familiar gera constrangimentos constantes, principalmente porque está no ar o não dito, isto é, se percebe que as rusgas veem de momentos da família que o espectador ainda desconhece.

Trata-se, como se vê, de um drama e, em minha opinião, muito interessante. Contudo, senti falta de mais diálogos, fiquei com vontade de saber mais sobre os personagens. Provavelmente, essa falta que me queixo seja, ao mesmo tempo, um elemento atraente, fazendo com que o espectador seja mobilizado a pensar sobre.

Além disso, as discussões inacabadas produzem ainda mais veracidade à dinâmica daquela família, em que as conversas suscitam muitas mágoas do passado, difíceis de processar.

O pai é um sujeito preocupado, tentando abafar a dor que carrega. A mãe, completamente distante e fria, parece renunciar ao papel materno. Rachel é a imagem mais “inteira” do grupo e precisa carregar esse “fardo”. E, por fim, Kim é a que exterioriza os conflitos existentes entre todos, denunciando um problema que eles fingem não ver.

Os amigos que estão presentes nas comemorações possuem o papel de fazer contrapeso ao caos que é a família de Rachel. Eles parecem ser a parte “porto seguro” dos personagens.

Toda família possui seus silêncios e seus segredos. Em “O Casamento de Rachel” somos convidados a conhecer este drama, apresentado sem clichês e outros elementos comuns aos filmes, principalmente os americanos. Ele poderia ser classificado de “a vida como ela é”.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

2010


Anton Malcev 123RF


Um texto do Tony Bellotto, do dia 11 de janeiro, está muito interessante. Certamente não farão sentido para nós todas as palavras escritas, todavia provavelmente muitas das promessas para 2010 listadas por ele concordaremos. Dá uma olhada em: http://veja.abril.com.br/blog/cenas-urbanas/.

Na Veja de duas semanas atrás, Lya Luft, em sua coluna quinzenal, fala que uma boa ideia para 2010 seria pensar. Segundo a escritora, seria legal deixarmos de lado nossos pedidos e nossas promessas em nome de uma coisa só: pensar.

Isso mesmo, para 2010, poderíamos querer apenas isso: pensar. Dentre os argumentos de Lya, está que atualmente estamos com tempo escasso, poucas disposição e habilidade para esta tarefa aparentemente simples. Ela fala em pensar sem se desmontar.

Gostei muito dessa imagem: pensar sem se perder, sem se desfazer. Em tempos loucos, estressantes e que tudo anda a 100 por hora, cá para nós, muitos não pensam justamente por causa desse medo.

Desejos pessoais para 2010 e desejo de “apenas” pensar são ideias de atualizar o fôlego e a vida para um ano que está começando, em meio a coisas que já estão em nós há muito tempo.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Haiti


Studio Porto Sabbia 123RF


O terremoto ocorrido, nesta semana, no Haiti nos faz pensar o quanto somos frágeis e como podemos ser pegos de surpresa. Terremotos não podem ser previstos, assim como quase tudo na vida. Podemos planejar, imaginar, testar, mas na hora “H” tudo pode mudar e não acontecer como o esperado.

Naquele dia 12 as pessoas estavam seguindo sua rotina de miséria em um país castigado, com altos índices de desemprego, de analfabetismo, de más condições de higiene, de violência etc. Com a ajuda da ONU, os militares brasileiros realizam um importante papel, o país estava melhorando sua condição, que ainda assim estava longe de ser a ideal.

O que acontece? Um sismo com 7 graus na escala Richter, classificado como “grande”, destrói boa parte da já então precária situação da capital do país, Porto Príncipe. Como vimos em fotos e pelos telejornais, a cena parecia de filme: tudo destruído, concreto por todos os lados, pessoas vagando sem destino, sangue e cheiro da morte, isto é, cheiro de corpos em putrefação.

Todos os sentidos parecem invadir os haitianos e estrangeiros que lá estão: pela visão, a destruição, pelo olfato, o odor fétido das vítimas, pela audição, os choros, pelo paladar, a sede e a fome e, finalmente, o tato, em que há poucas coisas inteiras para tocar.

Mesmo que nos esforcemos e consigamos imaginar tal caos, não saberemos exatamente como é viver esta experiência, porque ela é tão limite que não conseguimos alcançá-la em sua plenitude. As pessoas perderam suas casas, suas vias já restritas de subsistência, familiares e amigos. Além disso, com a sede e a fome, tudo se agrava.

Tal evento me fez lembrar o livro “Ensaio sobre a Cegueira”, de Saramago. Um caos, uma terra sem leis, um período de crise extrema e que infelizmente não é fruto da imaginação de um escritor. Aconteceu, perto de nós, em nosso continente, sem aviso e deixando escombros por todos os lados, não apenas de tijolos e de corpos, mas também de almas.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Jogando Limpo



Konstantin Kamenetskiy 123RF

O psicanalista Contardo Calligaris certa vez escreveu que o casamento propicia que apareça um elemento caracteristicamente humano e interessante: acusar o outro pela não realização de nossos sonhos. Não sou tão “radical” como Calligaris. Penso que em muitas uniões isso pode não acontecer. Porém, pensando nos casais médios, faz sentido. Explico.

Conforme a ideia do psicanalista, homens e mulheres lidam com suas frustrações existenciais atribuindo ao (à) parceiro (a), a responsabilidade. Assim, o marido não se tornou um aventureiro como Indiana Jones porque casou e teve sua família. Do mesmo modo, a esposa não se tornou uma cientista reconhecida pelo mesmo motivo.

Como bem alerta Calligaris, isto não é motivo de divórcio, pelo contrário. Acusar o par pelas não concretizações de planos alivia a sua própria responsabilidade em não realizar o que se almejava. Pode não dar separação, mas concordemos que é um tanto melancólico ver marmanjos se comportando como crianças que apontam o dedo para o outro.

Penso ser um tanto triste muitos de nós sermos incapazes de lidar com nossos limites, aceitar as escolhas que fizemos e por fim, aceitar os nossos fracassos. Muitos necessitam de um bode expiatório para enfrentar a sua listinha de “querer ser” e “querer fazer” com itens não riscados.

Assumir nossas fragilidades, nossos medos e nossas incapacidades de fazer algo na vida é um ato de maturidade. Renunciamos à aventura para criarmos raízes ou optamos pela solidão para desbravar o mundo. Ambas as escolhas incluem ganhos e perdas. Neste caso, ser maduro é não culparmos “nosso irmão” por um vaso quebrado, mas sim dizer em alto e bom tom que não se pode ser tudo que se quis e que não foi possível fazer tudo que se imaginou. Contudo, somos e fazemos o que é possível dentro das oportunidades reais de vida. Isso, definitivamente, é jogar limpo com quem dividimos uma história.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Descobertas que podem cansar


Sergii Salivon


Esqueça por um momento que você compreende o quanto o conhecimento está sempre em movimento e dificilmente há “conhecimento pronto”, isto é, várias descobertas sobre quase tudo são feitas regularmente. Esqueça isso.

Agora, me responda: não tem um momento em que você cansa das descobertas de saúde, particularmente as relacionadas com a alimentação? Uma hora o café faz bem, depois faz mal, o ovo já foi crucificado, depois caiu em redenção, só para exemplificar, pois se fosse para listar os itens que lembro, faltaria espaço!

Muitas vezes quando estou lendo uma notícia deste tipo, já fico meio descrente e lembro que a receita é: nada de exageros! Porque em seguida vai aparecer outro cientista para dizer que aquilo que você comia achando saudável, não é bem assim.

Como disse acima, entendo perfeitamente as mudanças que resultam de diferentes pesquisas. Sempre há um pouco mais para investigar, novas maneiras de testar, combinar resultados anteriores etc. Mas há momentos em que se cansa de notícias sensacionalistas sobre o “grão do momento”, sobre o alimento que vai salvar sua vida.

Comecei esse texto assim que li o título de uma reportagem sobre a descoberta de um alimento que previne sei lá o quê. Cansei, não quero mais isso. Quero um pouco de tudo, sem exageros nem promessas.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Mudanças Constantes


Cristina Cazan 123RF


Gosto muito da frase “Eu não sou sempre da minha opinião”, de autoria do escritor francês Paul Valéry, porque ela abre uma brecha para sermos incoerentes. Incoerência não no sentido de uma esquizofrenia, mas no sentido de mudança.

Quantas vezes nos deparamos, ao longo da vida, com incongruências criadas por nós mesmos? Por exemplo, afirmamos ódio ao samba e cinco anos depois caímos na folia. Nossas palavras não podem servir de algemas. Temos o direito à inconstância. Usufruir nossa liberdade de mudar.

Ser da direita e admirar nomes da esquerda. Dizer uma coisa hoje e falar outra completamente diferente daqui dois anos. Como disse, não é um caos ambulante, porém como dizia Raul, uma metamorfose ambulante.

Precisamos renunciar às certezas absolutas, porque estas restringem nossa visão e nossa atuação na vida. Mente aberta requer a capacidade de lidarmos com as nossas pequenas e grandes transformações.

Não deixo de ser quem sou pelas mudanças de ideias. Ao contrário, são estas mudanças que confirmam que estou viva e não apenas reproduzindo uma criação de meus pais. Se voltar contra o antigo “eu” é uma maneira de renovar o espírito e a forma de viver.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A Casa


Robert Elfferich 123RF

Uma amiga me disse, semana passada, esta linda frase do escritor moçambicano Mia Couto: “Não importa a casa que moramos, mas a casa que mora em nós”. Achei-a bonita por focar a importância à casa interna que temos.

Claro que é significativa a materialidade da casa, como os móveis são, sua disposição, enfim, como a casa é desenhada no momento em que a montamos e passamos a viver sob ela. Porém, ainda mais é a casa que carregamos conosco.

A ideia de lar, de conforto e aconchego que atribuímos a nossa casa pode ser reproduzida por onde perambularmos. Se você, por algum motivo, permanecer muito tempo longe de casa, são estes elementos que farão toda a diferença.

O sentimento de casa, em que as noções de proteção e de segurança reinam, está em nós. Obviamente que há toda uma construção por trás, de como vivemos na infância, como era a nossa família etc. Mas o que enfatizo aqui é que não está no sofá de cinco mil reais nem na cobertura de Ipanema o sentimento “carinhoso” de casa. Ele está em nós e em nenhum outro lugar.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Reality Show


Ionut Dan Popescu 123RF


O livro “1984”, de George Orwell, tem como personagem principal o Big Brother, que seria o olho que vigiava tudo e todos. Qualquer atividade realizada nessa sociedade criada por Orwell era testemunhada pelo Big Brother, que seria o nome que simbolizava as autoridades e seu grande ditador.

Assim, foi inspirado o reality show Big Brother, onde as pessoas confinadas em uma casa são vigiadas 24 horas por câmeras de televisão, como já sabemos há dez anos, desde a estreia do formato brasileiro.

Hoje inicia mais uma edição do Big Brother Brasil. Cada ano a produção tenta se reinventar, criar novas regras, enfim, tentar dar cara de novo a um programa já conhecido.

A crítica que faço é não haver nada de construtivo nisso. É ócio dia após dia. Eles nadam, fazem musculação, cozinham, participam de festas, limpam a casa, dormem e nada mais. Há provas de comida, as de líder e anjo, que parecem testes de gincana.

Acharia mais interessante se tivesse alguma atividade que mobilizasse talentos produtivos. Não apenas o talento social, de viver em comunidade. Exemplifico citando, entre tantos que há, o Top Design, da Sony.

Neste programa, um número “x” de designs convivem para realizarem tarefas de arquitetura e de decoração, ora individualmente ora em grupos. Ao vermos tal atração, os desafetos vão para o segundo plano. O que importa são as criações produzidas pelo elenco participante em cada episódio.

O telespectador não busca o “barraco” e sim observar os talentos de cada um frente a desafios arquitetônicos. Sai de cena a futilidade máxima para um exercício da criatividade e da capacidade profissional. Não que esteja fora do plano fútil, mas não é tomado por ele.

A mídia nos polui com tantas chamadas do programa que vez e outra somos capturados pelo Big Brother, mas não deixemos nossa postura crítica se aquietar e quem sabe, trocar de canal.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O verão da sua vida


Tetyana Kulikova 123RF

Você lembra a expectativa, quando éramos adolescentes, que existia assim que o verão chegava? De férias, era possível fazer programas divertidos com as amigas diariamente. Sair com a hora mais espichada para voltar para casa.

Tomar banho de piscina, assistir filmes, pedalar, ficar de papo na frente da casa, principalmente se você morava em uma cidade menor, eram programas que marcavam a época. A noite ficava mais cheia, portanto, mais animada e com maior possibilidade de acontecer coisas que rendiam histórias no dia seguinte.

Sem dúvidas, como adolescentes que éramos, tudo tinha outra cor. A cor da descoberta, de não ter ainda uma identidade e objetivos tão definidos. Pensava-se exatamente na canastra que participava na mesa de jogo entre amigos e não na situação do mercado de trabalho.

Lógico que havia problemas, na adolescência quase tudo é problematizado e dramatizado, fundamentalmente as questões afetivas. O fim de um namorico, por exemplo, é visto como o fim de uma era, a mancada de uma amiga, como uma traição fatal. Nessa fase, as medidas são desequilibradas, se anda na corda bamba quase todo o tempo. Incrível é que sobrevivemos a isso.

Isso me veio à cabeça quando ouvi no rádio uma propaganda do verão. Lá dizia que este poderia ser “o verão da sua vida” e percebi o quanto essa ideia já passou. Ela não resiste para quem está mais para “tia” do que para “teen”. Quando bem jovenzinhos, se pensava o quanto aquele verão seria especial e mais ainda, quando março chegasse, lembrar o quão foram legais as experiências dos dias quentes.

As risadas entre as amigas, as músicas que marcaram, as histórias, as amorosas principalmente, que assinalaram esses meses. Enfim, se tinha uma visão mais romanceada e idealizada dos meses entre dezembro e fevereiro.

Hoje, para quem não tem mais seus dezesseis anos, o verão é outra coisa. Mesmo que se trabalhe, se consegue um tempo para descansar, recarregar as baterias para o ano que extraoficialmente começa em março. E, é claro, como eu não poderia deixar de dizer, é um período propício para exercitarmos nossas paciência e tolerância com esse calor senegalês.

domingo, 10 de janeiro de 2010

As nossas sementes


bedolaga 123RF

O que você tem plantado ultimamente em sua vida? Quais pensamentos rondam sua mente? Quais sentimentos são cultivados e quais são deliberadamente abandonados?

Não desejo entrar na linha do livro “O Segredo” e derivados, mas pensar em como estamos olhando e manejando nossa realidade. Existe uma historinha conhecida e útil: há um copo com água pela metade, o que você pensa? São duas as posturas possíveis: dizer que o copo está metade cheio ou metade vazio.

A primeira alternativa contém uma perspectiva mais positiva do que se vê. Um copo metade cheio é melhor do que metade vazio, certo? Então, tudo depende de que tipo de óculos usamos para interpretar o que nos acontece.

Com isso, não quero afirmar que devemos ser todos Polyanas e só prestar atenção ao lado bom. Não! O ruim necessita ser visto e elaborado, porém, ao mesmo tempo, podemos lembrarmo-nos do bom e, assim, equilibrar nossa balança.

Acho um tanto chatas sejam as pessoas que só falam de problemas sejam aquelas que não tocam nunca neles. A receita da boa convivência com o mundo é o equilíbrio, esse danado que almejamos. Ora denunciamos as dificuldades da vida ora comemoramos as coisas boas que nela acontecem. Está aí uma boa semente: a do equilíbrio.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Prison Break




Estou assistindo a segunda temporada do seriado “Prison Break”. Vejo o enredo como um interessante quebra-cabeça; o espectador é surpreendido por novas peças constantemente. A história tem agilidade e prende pela tensão que gera. E esta tensão em particular, para mim, se tornou um problema.

Em cada episódio que vejo ameaço o abandono da série. É uma tensão que toma conta de mim por quase todos os minutos. Por outro lado, ainda não rechacei o programa, porque me interesso em saber qual será o desfecho de uma trama que envolve 8 ex-prisioneiros que fugiram de onde cumpriam suas penas, a médica do presídio, filha do governador, que se apaixonou por um dos detentos que está em fuga, FBI, Governo Federal, executivos e agentes que formam o que chamam de a “Companhia” etc.

São vários personagens, são diversas histórias paralelas que convivem em uma inesperada harmonia e... tensão! Quando o fim do episódio chega, também é o momento de se respirar mais fundo.

Pergunto-me o que me prende a um sentimento relativamente desagradável que eu não precisaria sentir. Basta tirar o DVD do aparelho. Não consigo, tal é a curiosidade em saber o fim da história. Ao mesmo tempo, quando recordo que há mais temporadas, isto é, dezenas de episódios, respiro fundo e penso em outra coisa.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Procura-se o campo na cidade


Tetyana Kulikova 123RF

Em Tramandaí, uma nova realização imobiliária construirá em sua área de lazer uma minifazenda. A ideia é proporcionar às crianças urbanas um contato com o ambiente rural. Ao ler esta notícia no Zero Hora, lembrei imediatamente de um momento na vida da minha sobrinha.

Ela mora em um apartamento em Pelotas. Até já fez passeios escolares a um sítio, mas não tem contato diário com esse meio. E sabem como é a memória infantil, esquece logo.

Eis que um dia, ela estava em um lugar que havia galinhas. Ok, galinhas são inofensivas, certo? Elas ficam na sua de catar comida, cuidar dos pintinhos, passear com o galo e outras ocupações que uma galinha pode ter.

Minha sobrinha ficou com medo. Escondeu-se atrás da mãe, fugiu, enfim, viu a galinha como se víssemos dinossauros. Claro que foi uma cena engraçada, apesar do sentimento de medo por ela sentido. Faz pensar o quanto nossas crianças, tão inseridas em caixas onde vivem – os apartamentos, perdem a ligação com a natureza.

Aprendem na escola muito sobre ela. A pequena da minha família dá lições constantes sobre o que a ensinaram a respeito do nosso planeta, mas a prática não ocorre pela dificuldade de unir cenários rurais aos da cidade.

Apesar de ter crescido em lugar urbano, havia um galinheiro em meu pátio de criança que, em alguns momentos, continha as aves. Frequentar fazendas era um hábito em minha época infantil e adolescente. Por isso me chama a atenção esta tendência das crianças estarem mais afastadas de animais que não sejam cães, gatos, peixes e pássaros.

Percebo esta característica atual como uma relativa perda, que pode ser diminuída se propiciarmos aos nossos pequenos, atividades que os façam estar mais pertos da origem humana.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Dieta


mj007 123RF

Estou de dieta. Frase chata e antipática, eu acho. Sempre achei nada a ver viver de dieta ou falar para as pessoas que se está com quilos a mais, eis que chegou o momento de morrer pela boca. Faz um tempo que peso é um assunto quase que diário para mim.

Discordo da ditadura da beleza magra, penso que temos de reconhecer nossa estrutura corporal e não querer ser igual à atriz da capa da revista. Assim, não busco o corpo perfeito, ainda bem. Mas detesto roupa apertada ou me ver mudar radicalmente de número, por anos fui 36, depois 38 por mais tempo ainda, até que chegou a vez do 40. Alerta geral!

Já usei P, mas o M seria meu número ideal, até o G ou GG, dependendo da confecção, servir melhor. Quebra o vidro e aperta no botão! Exageros, obviamente, mas já reparou que quem fala de seu peso, que está acima, por exemplo, exagera? É assim mesmo.

Então, dou como oficial minha dieta, se me verem comendo batatas fritas, croquete, arroz, picanha, salada de batata, massa, torta Júlia, negrinho e branquinho, nem me cumprimentem, não sou eu! Se bem que pode ser um clone, sabem como anda a tecnologia genética!

Vou fechar a boca para o resto e só comer alface, brócolis, peito de frango e couve-flor. Exageros, eu sei. Coisas desse campo, já que não podemos exagerar no cardápio exageramos na linguagem.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A Onda




O filme “A Onda”, cujo diretor é Dennis Gansel, é baseado em uma história real, ocorrida em uma escola da Califórnia (EUA) em 1967. A história do filme se passa, contudo, em uma escola alemã.

Um professor de ensino médio tem a responsabilidade de ensinar autocracia para seus alunos. Autocracia é uma palavra que deriva do grego e significa governo por si próprio, ou seja, o poder nas mãos de um só, este sendo capaz de passar por cima de instituições e de leis. Numa palavra: o chefe supremo tudo pode.

O professor, a partir de debate em sala de aula, resolve fazer uma experiência pedagógica: o grupo irá formar o que se denominará posteriormente de “a onda”. O que seria um evento escolar, passa a ter um significado muito maior.

O resto não conto para não perder a graça para quem não viu. O filme, em minha opinião, é interessante pela história e também para observarmos como pode um grupo ser formado, com um líder altamente idealizado pelos seus seguidores, e estes deslocando para “a onda” suas frustrações e suas fragilidades.

É sabida a força que um grupo tem ao ser assim definido. Dependendo da ideologia presente e das características pessoais de cada componente, um grupo pode ser mais doente que outros. Assim, a intolerância, o ódio, a perda da autonomia e de uma postura crítica de cada pessoa que forma um grupo classificado como insano, são mostrados no filme. Ficamos espantados em assistir a cegueira com que estes jovens experimentaram um comportamento extremista, motivado muito em função da dificuldade de enfrentarem seus dilemas existenciais. A cegueira do grupo acaba sendo uma “proteção”, um “refúgio” contra o enfrentamento cotidiano das dificuldades de se viver.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Língua Portuguesa


Robert Flannagn 123RF


Com a justificativa de tentar com que a língua portuguesa seja uma das línguas oficiais da ONU e difundir a literatura portuguesa entre os países que a têm como idioma (tais como Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Timor Leste, Cabo Verde), foi instituída a unificação da língua portuguesa. Assim, diferenças ortográficas deixaram de existir para que o mesmo português lido aqui seja lido em Angola, por exemplo.

Isso causou e ainda causa muitas dúvidas e resistências. Afinal, não é de uma hora para outra que passaremos a adotar o hífen quando necessário. Para dar um exemplo, nossa mão teima em escrever microondas, quando agora é micro-ondas.

Em 2012, será obrigatório, conforme acordo assinado, a adoção de tais regras. Por enquanto ainda vivemos em transição. O Brasil, país majoritário em número de falantes, já tomou medidas concretas para atualizar nossa ortografia.

Os demais países estão em passo de tartaruga ou ainda imóveis quanto a isso. Errado já que o acordo foi assinado, portanto há um compromisso a cumprir. Desde que li a respeito fui contra. Sempre gostei do acento circunflexo em palavras como vôo, vêem e o agudo no pára (verbo), com a finalidade de se diferenciar do para (preposição). Uma lástima.

As manifestações de especialistas contra esta ideia não geraram qualquer ação. O acordo foi assinado e agora só nos resta cumprir as mudanças. Reclamar ainda vale, pelo menos até 2012. Ainda mais depois de saber, conforme notícia do Zero Hora dominical, que Portugal ainda resiste às alterações e que outros países, como Angola e Moçambique, não realizaram qualquer ação quanto ao tal acordo.

O Brasil tão taxado de estar atrás, de não fazer o que deve ser feito, conquistou a dianteira nesse cenário da língua.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Agenda 2010


Igor Korionov 123RF


Este ano muitas coisas vão acontecer. Até aí nenhuma novidade. Sabemos que todos os anos, diariamente coisas acontecem. Na agenda de 2010, há dois eventos importantes que vão chamar a nossa atenção: a Copa do Mundo, com sede na África do Sul, e as eleições no Brasil.

Futebol é o ópio do povo brasileiro, não só do nosso, claro. Mas aqui é muito forte. Meia hora antes do início de um jogo da Copa, a cidade já fica vazia. As escolas dispensam seus alunos mais cedo, assim como ocorre no comércio em vários lugares. Todos em uma só corrente pela vitória do Brasil. Além de ser um período de euforia é também de alienação.

Eleições, neste ano, para presidente, governador, senador e deputados, federal e estadual não levantam, infelizmente, a maior parte da galera. Um número significativo de pessoas vota porque é obrigatório e o fazem sem qualquer entusiasmo.

A política, no Brasil, está em baixa. Ou melhor, os políticos. Escândalos de corrupção ocupam nossos jornais com regularidade e nos fazem crer que tudo é só sujeira. Devemos acreditar que nem tudo é, mas nem sempre é fácil.

Comentamos com muito mais vontade sobre a Copa do que sobre os candidatos nas eleições. Entusiasmamo-nos muito mais com jogadores correndo atrás de uma bola do que com debates acerca de nosso futuro, do que será o Brasil nos próximos anos, o lugar que moramos.

Dá para compreender, afinal de contas, o futebol nos dá mais alegrias que muitos políticos que estão por aí. Contudo, não podemos deixar de nos preocupar com o desânimo geral a respeito da política. Mediante ela que vivemos. É preciso ficar claro que as decisões políticas não são de âmbito exclusivo dos engravatados. É um campo de todos nós. Por isso, precisamos estar mais inteirados do que acontece politicamente. Reconheço que para isso precisamos de paciência e chá de camomila.

Torcemos por sucesso não apenas na Copa do Mundo, mas também nos jogos das eleições.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Jean Charles




Somente por esses dias é que assisti ao filme “Jean Charles”, cuja direção é de Henrique Goldman, brasileiro radicado na Inglaterra. O período na Inglaterra me fez não ver lançamentos em DVD por aqui. Aos poucos vou me atualizando. Perdoem-me, portanto, se eu falar aqui de filmes já vistos por todos.

Gostei do filme. Como havia visto em uma entrevista com o principal ator, Selton Mello, Jean Charles de Menezes não é transformado em herói, o que foge de um clichê, abençoando os espectadores.

Deu saudade de Londres e do sistema inglês, este, inclusive, serviu de piada em alguns momentos do filme. Para nós brasileiros, acostumados com a malandragem típica daqui, os ingleses são por demais ingênuos. Discordo, porque em nada admiro nossa “esperteza” e mais, não me acho dotada dela. Então, sou uma de muitos de nós que se sentem passados para trás, em vários momentos, por causa desse “jeitinho brasileiro”.

O que chamam de ingenuidade inglesa, eu chamo de fazer o certo. Cada vez mais admiro essa atitude em extinção. Com justificativas econômicas ou de estresse, muitos em nossa sociedade, passam por cima das leis e de regras que tentam fazer funcionar a convivência em sociedade.

Mesmo que os ingleses, com exceções, obviamente, mas bem menos do que em outros lugares, sejam honestos e cuidadosos, eles podem errar. E erraram feio, muito feio com o brasileiro Jean Charles. Ninguém foi responsabilizado pelo erro de investigação que resultou posteriormente no assassinato de Jean, na confusão que ele seria um terrorista.

O governo inglês deu uma significativa quantia de dinheiro à família de Menezes, para pagar despesas, mas nenhuma soma de dinheiro diminui a dor e a falta de um filho e de um amigo tão dedicado e generoso como Jean Charles. Assim como não minimiza um erro tão terrível, cometido pela admirada Scotland Yard e a continuidade do erro ao ninguém ser punido por uma morte tão injusta.

sábado, 2 de janeiro de 2010

O Fim do Verão


alexreller 123RF

Se eu tivesse poderes mágicos, depois de alimentar todas as pessoas do mundo e garantir suas necessidades básicas para sempre, depois de proteger todas as crianças da violência, depois de inventar a cura para todas as doenças, depois de assegurar que o planeta estaria salvo de mãos destruidoras e, por fim, depois de acabar com guerras e tornar as pessoas melhores de caráter, eu faria o meu ato final: acabar com o verão.

Isso mesmo, não teríamos mais verão, apenas uma mistura de primavera com outono. Uma agradável sensação de vento e temperatura que não nos faz derreter, mas curtir estar ao ar livre.

Verão de 30 graus seria coisa do passado. Verão que faz a gente querer ir para o Pólo Norte, não mais. Apenas uma temperatura de 20 graus, que nos propiciaria conforto de estar nas ruas, de andar de bicicleta, de tomar uma bebida gelada na calçada.

Seria o fim do sentimento de ser um frango no forno e sim a sensação de sermos pessoas bem vestidas e cheirosas com vontade de aproveitar a vida. Nada de suor molhando o rosto, de querermos nos enfiar em um ambiente climatizado. Não!

Seríamos todos cantantes em meio a uma estação que não suga nossos poros e nossa paciência. Seria uma estação em que não haveria irritação de caminhar na rua e não fugiríamos do sol, seria ameno estar sob ele.

Enfim, não seria um período do ano que testa nosso controle dos instintos e sim, um presente da natureza para quem vive nela.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Desapego


Andrey Khritin 123RF

No caderno Donna, na edição do Zero Hora do dia 27 de dezembro, a principal matéria é dedicada à organização de nossos objetos em casa. A ideia é o desapego, isto é, que precisamos estar desapegados aos objetos para poder avaliar com maestria o que deve ser doado e o que deve continuar nos armários.

Isto não vale apenas para roupas ou objetos pessoais, mas também para coisas da cozinha, da sala etc. Achei uma boa reportagem para finalizar o ano e começar um “novo”. Que comecemos 2010 mais leves. Menos é mais. Mais espaço para podermos ver o que temos, mais espaço para podermos usar melhor a criatividade.

Armários abarrotados, muitas vezes de tranqueiras, dificultam nosso dia a dia. Não achamos o que queremos e não usamos o que não vemos. Então, é uma excelente ideia dar o pontapé inicial em 2010, organizando nossas coisas, doando o que não mais nos serve e o que não mais usamos. Que o desapego nos ajude a elegermos o que é importante para nós e que deixemos de lado o que não mais faz parte do nosso cotidiano. Isso não vale apenas para os objetos, vale também para nossos hábitos. Que tenhamos sucesso em melhorar nossa qualidade de vida, seja em nossa casa seja em nossas vidas.