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Como sabemos o amor nem sempre significa felicidade e redenção. Um dos casos mais célebres de tragédia no contexto amoroso é o que envolve Euclides da Cunha, Ana e Dilermando de Assis.
Mary Del Priore é uma historiadora e escritora de dezenas de livros, entre eles “História das Mulheres no Brasil”. Chamou-me minha atenção ao ver uma de suas mais recentes obras “Matar para não Morrer – A morte de Euclides da Cunha e a noite sem fim de Dilermando de Assis”, pelo fato de a historiadora escrever pela perspectiva de Dilermando.
O casamento entre Ana e Euclides ocorreu em 1890. Como se sabe, no final do século XIX e início do XX, o patriarcado era a ordem familiar. Cabia à mulher a quietude da casa, o cuidado dos filhos e do marido. Ao homem era a responsabilidade de prover sua família e manter sua esposa sob suas “asas”.
O imortal da Academia Brasileira de Letras e autor de “Os sertões” era um homem difícil de conviver. Além disso, em função do trabalho, se ausentava por longos períodos, deixando sua esposa Ana da Cunha e seus filhos sozinhos sem a sua proteção.
Ana, se sentindo sozinha e frustrada, apaixonou-se pelo jovem e amoroso Dilermando. Ela com 33 anos e ele com 17. Se o adultério era julgado de forma ferrenha, imaginem com o agravante da diferença de idade entre os amantes.
O livro narra a trajetória de Dilermando a partir de seu encontro com dona Saninha, como Ana era chamada. O amor entre os dois rimou com morte e tragédia. Ambos sofreram muito e Dilermando foi julgado inúmeras vezes, pela justiça e pela mídia.
Del Priore mostra o sofrimento de Dilermando frente às acusações, não apenas da justiça, como já dito, mas da sociedade carioca. Um homem que tentou mais de uma vez reconstruir sua trajetória e fugir da máscara do mal, arquitetada por muitos jornalistas e formadores de opinião.
No dia 15 de agosto de 1909, Euclides da Cunha invadiu a casa do tenente Dilermando, no bairro Piedade, no Rio de Janeiro, com um revólver na mão, disposto a matar o amante de sua esposa. Foi morto pelo excelente atirador, Dilermando. Porém, não houve apenas a morte do escritor. Nascia, naquele momento, uma cascata de mortes e pequenas mortes nas vidas dos envolvidos direta e indiretamente. Por fim, selava a equivocada ideia, cultivada pela imprensa da época, de que Dilermando de Assis era o vilão da história.
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