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Uma criança, personagem de um conto de Lya Luft diz: “Os adultos precisam de certezas”. Ela está certa, somos tão necessitados do controle que queremos saber tudo, ter explicações para tudo, compreender o que nos acontece e o que ocorre em nossa volta.
Iludimo-nos acreditando nisso, em bengalas que adotamos para nos sentirmos menos frágeis e vulneráveis. Intimamente, sabemos o quão pó nós somos, mas como viver enxergando tão claramente, todos os dias?
Pelos nossos questionamentos existenciais sem respostas, nos acomodamos em nossas crenças e ideias sobre a vida que nos auxiliam a viver de forma menos dolorida. Acontece que em várias partes do nosso percurso nos defrontamos com o caos, em que todos os tijolos que construímos se desfazem.
A perda de um familiar, a perda de um emprego, uma grave doença são alguns dos eventos que tiram tudo do lugar. Nossa rotina é levada para outro local, como se um tornado ou sismo ali passasse. Temos destruídas as nossas certezas e tudo vira um ponto de interrogação.
A reconstrução pode ser feita, mas não rapidamente. É necessário um tempo para encontrar e se desfazer dos restos para assim uma nova ordem se constituir. Alimentar, mais uma vez, nossa escala de certezas para poder enfrentar as dificuldades e as sombras do caminho.
Estas certezas são esperanças de que amanhã o dia terá sol, que se estará vivo, que a nossa casa estará em pé, que a nossa mesa de trabalho estará nos esperando. O que aconteceu com o Haiti na semana passada é um caos elevado à potência máxima. Uma tragédia coletiva, que não apenas o mundo particular foi atingido, mas todo o lugar em que se vive.
Familiares e amigos mortos, casas destruídas, desemprego, fome, sede e doenças estão na rotina de Porto Príncipe, desde o terremoto. Tudo de uma só vez foi arrancado do cotidiano. Sem dó nem piedade. A tentativa de compreender ou de ter alguma certeza neste momento parece sem propósito. O impacto é tão grande que só resta o desespero do mundo das incertezas.
Terremotos não podem ser previstos. Apesar de toda a tecnologia de hoje, não há métodos completamente eficazes para avisar que um sismo está próximo. Assim como as tragédias pessoais de nossas vidas que chegam sem tocar a campainha.
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