quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz 2010!


Ionut Dan Popescu 123RF


Receita de ano novo

(Carlos Drummond de Andrade)


Para você ganhar belíssimo Ano Novo

cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,

Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido

(mal vivido talvez ou sem sentido)

para você ganhar um ano

não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,

mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;

novo

até no coração das coisas menos percebidas

(a começar pelo seu interior)

novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,

mas com ele se come, se passeia,

se ama, se compreende, se trabalha,

você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,

não precisa expedir nem receber mensagens

(planta recebe mensagens?

passa telegramas?)


Não precisa

fazer lista de boas intenções

para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar arrependido

pelas besteiras consumidas

nem parvamente acreditar

que por decreto de esperança

a partir de janeiro as coisas mudem

e seja tudo claridade, recompensa,

justiça entre os homens e as nações,

liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,

direitos respeitados, começando

pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo

que mereça este nome,

você, meu caro, tem de merecê-lo,

tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,

mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo

cochila e espera desde sempre.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sem data oficial


Daniil Kirillov 123RF

O final do ano é uma data oficial para avaliarmos nossas vidas. Mesmo que tentemos evitar tal reflexão, a mudança no calendário nos empurra para pensamos no ano que está por começar e no que estamos por deixar para trás.

Penso que pode ser muito legal eleger metas para o novo ano: se livrar do cigarro, começar uma dieta mais saudável, fazer exercícios físicos, voltar a estudar, procurar um emprego, enfim, são de diversas áreas as mudanças possíveis.

Acho divertidas algumas superstições, outras, claro, são doidas, mas vejo tudo isso com bom humor. A única ressalva que faço em relação a essa época é o fato de muitos de nós simplesmente fazermos listas e esquecermos delas ao longo dos meses.

De pouco adianta a minha lista de objetivos para 2010 se eu não lembrar dela no dia 02 de janeiro. Ela só terá algum valor se consultada e planejada constantemente. Não há mágica alguma.

Para os céticos, a virada de ano é apenas uma alteração no calendário, nada mais. Mesmo que muitos tenham diferentes crenças, essa ideia descrente é interessante para assumirmos nós as mudanças que almejamos e não atribuirmos apenas ao novo ano.

Não ocorre nenhum fenômeno sobrenatural na noite do dia 31 de dezembro. As coisas mudam não do dia para noite, mas dia após dia, num exercício persistente para que um hábito seja abandonado ou conquistado.

Tudo é possível se você colocar energia, investir para fazer acontecer. Você até pode rezar, fazer promessa, consultar tarô, mas se você não fizer a sua parte poucas serão as chances de você fazer do novo ano o que você imaginou na noite do ano-novo.

Então, vale a dica. Sonhe, planeje, deseje não apenas no fim do ano, mas todos os dias que se seguirão desta “data oficial” de avaliação de vida.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Lealdade




Assisti ao filme “Sempre ao seu lado”, com Richard Gere. A história é baseada em fatos reais e gira em torno do cachorro da raça Akita, chamado Hachiko, o Hachi, e seu dono, o personagem de Gere.

Fazia muito tempo que não via filme sobre cachorro. Não vi “Marley & Eu”, por exemplo, que foi sucesso de bilheterias. Filmes de cachorros nunca me chamaram a atenção, não que eu não admire algumas das características caninas, mas sempre preferi os gatos.

Ainda bem que fui ver “Sempre ao seu lado”. A perspectiva do filme está na do cão e não na de seu dono e isso me pareceu interessante, muito interessante. A história real ocorreu no Japão. Hachi, como era chamado, foi adotado por um homem que o achou na estação de trem de sua cidade.

Todos os dias, Hachi acompanha seu dono até a estação de trem, que o leva até seu trabalho. Hachi volta para casa e às 17h retorna à estação, porque nesta hora o trem de volta chega. E juntos, homem e cão voltam para casa.

A rotina seria alterada com a morte do personagem de Gere, mas Hachi, desejoso de reencontrar seu amigo, retorna insistentemente à estação de trem todos os dias às 17h. Não há como não deixar as lágrimas lavarem nossos rostos com tal gesto de Hachi. É de uma afetividade tão simples e primitiva, de uma beleza que emociona.

Emocionamos-nos ainda mais quando percebemos nossa identificação com os sentimentos de Hachi. Afinal, muitos de nós, no fundo, gostaríamos de esperar todos os dias os nossos entes queridos que já não estão mais por aqui. Somos impedidos pela nossa racionalidade de aguardar literalmente o reencontro.

Hachi expressa não apenas sentimentos caninos, mas também os nossos, à despeito de a morte não arrancar o amor e a saudade que sentimos por quem não está mais ao nosso lado. Não nos comportamos como Hachi, pois a noção de sanidade não nos permite. Porém, internamente, lá no fundinho, temos a crença de que este reencontro um dia acontecerá.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Balanço Cultural


Ruslan Zalivan 123RF

No fim do ano, é comum acontecer uma eleição de melhores do ano que está no fim. Não sei o quanto isso é válido, mas acho que pode valer de dica para outras pessoas que não viram ou não leram algum filme ou livro, por exemplo.

Você conseguiria fazer uma lista dentro do quesito cultura?

1. Melhor filme que você viu (não precisa ser lançamento):

2. Melhor livro que você leu (idem):

3. Melhor CD (idem):

4. Melhor espetáculo (show, dança, teatro etc.) que assistiu:

5. Melhor programa de televisão:

6. Melhor revista:

Se quiser compartilhar, será bem-vindo, mas o que vale mesmo é você observar como foram os movimentos nesta área de sua vida.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Drogas




Andrey Khritin 123RF

Li uma reportagem no jornal Zero Hora dias atrás a respeito de um pai de um dependente químico, que usou da criatividade, e do desespero, para tentar livrar o filho do vício. Cada vez que o rapaz procura o traficante, o último liga para o pai, que vai até o morro, busca o jovem e paga pela droga não consumida. Até mesmo quando ele busca drogas em outros pontos, o traficante denuncia seus passos ao pai que, igualmente, vai lá e resgata o filho.

Sabemos que as drogas afetam não apenas o dependente, mas sua família e seus amigos. O viciado é alguém doente que nem sempre percebe os riscos que corre e o quão está sem autonomia em relação a sua própria vida.

A conversa “se eu quiser, eu paro” é um clichê entre as pessoas que já perderam o livre-arbítrio, mas negam tal realidade. Ainda acreditam que têm o controle de suas vidas, quando, na verdade, estão possuídas pelo desejo de consumir cigarro, álcool, cocaína, crack etc.

Infelizmente o tratamento não é muito eficaz. Muitos dependentes recaem, todavia vale a pena o investimento e a união familiar para lidar com esse problema. Afinal, há tantos que vencem a dependência. Os familiares podem ficar doentes também e sofrem, tal como o usuário.

Compreender as causas do vício pode ser importante para que haja um acompanhamento terapêutico adequado, mas a primeira atitude é aceitar a situação, mesmo que se sofra muito, é preciso agir racionalmente e com bom senso.

Os grupos como Narcóticos Anônimos podem ser muito eficientes. Eles oferecem grande suporte não apenas para o dependente químico, mas também para os seus familiares. Apesar de ser um problema que atinja determinadas famílias, suas consequências afetam toda a sociedade.



sábado, 26 de dezembro de 2009

Crianças que sofrem


Tobert Pasti 123RF

Há vários dias a notícia de um menino de dois anos com dezenas de agulhas no corpo chocou parte da população. O caso, ocorrido na Bahia (agora se sabe de outro no Maranhão), já parece ter culpado: o padrasto da criança, que viveu com a mãe do menino por seis meses. O criminoso ainda acusa duas mulheres, entre elas sua suposta amante, de participarem do crime.

Por um mês, conforme entrevista dada ao Fantástico, no dia 20 de dezembro, o menino foi obrigado a tomar vinho com água e dormindo, sofria a inserção das agulhas em seu pequeno corpo.

O motivo não está claro, atingir a mãe do garoto, ritual religioso, enfim, não há certezas ainda. O que é certo é que é mais um registro de crueldade contra crianças. Não conseguimos, à primeira vista, compreender um caso como esse.

Crimes contra crianças chocam muito, porque é sabido da impotência das vítimas. São coisas que não poderiam acontecer, nunca! Mas acontecem dia após dia em milhares de lares e cenários.

Não há classe social, nem gênero, nem idade: tais crimes são democráticos, podem estar presentes em muitas circunstâncias. Não encontramos ainda uma forma de proteger nossas crianças de barbaridades, porque, afinal, muitas delas são cometidas pelos que deveriam cuidá-las.

A mão que deveria proteger, afagar e amar pode ser a mão que fere e humilha. Algo que não deveria existir, mas existe e não podemos fechar nossos olhos, mesmo que eles chorem com esta realidade.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Papai Noel


Tetyana Kulikova 123RF

Quando eu era criança, tinha medo do Papai Noel. Não sei se sempre tive medo, mas lembro de uma ocasião especial em que precisava ir até o velhinho pegar meu presente (comprado pela minha mãe, óbvio) e ficava olhando de longe as outras crianças, em volta daquele senhor barbudo, felizes e eu fingindo que não era comigo. Acho que acabei indo até lá, mas querendo ser mais rápida possível.

Penso que a inocência infantil é algo muito bonito de apreciar. Minha sobrinha escreveu de próprio punho uma carta para o Papai Noel. Ela não foi alfabetizada ainda, mas se você ditar letra por letra ela escreve. Assim, ela pediu um patinete e uma bonequinha Polly. A carta, dentro de um envelope, foi colocada junto à árvore de Natal de sua casa com a promessa que o Papai Noel ou seu ajudante iria pegar qualquer dia desses.

No sábado passado, peguei a carta. Escondi-a e pretendo, daqui a uns anos, mostrar a ela seus garranchinhos inocentes e crentes. Não há qualquer outro momento na vida que se tenha tanta fé como na infância.

Quando ela chegou à sala, percebeu que não estava mais a carta ali e disparou: “Eu não peguei!” Com expressão de surpresa e felicidade, viu que sua carta enfim seria lida e posteriormente atendida pelo bom velhinho.

As crianças perambulam por aí e veem diversos Papais Noéis e lidam bem com cada um deles. Segundo suas cabecinhas, todos são um só. Que persistem em estar onde elas estão! Mesmo sabendo que não existe Papai Noel, eu construo tal crença para passar a minha sobrinha de quatro anos que devemos ter fé e acreditar em nossos desejos.

Mesmo que sejam patinetes e bonecas, não importa. O que interessa é a magia que essa tradição pode ter. Chegará um momento em que ela saberá que, por trás dos pacotes, há cartões de créditos, cheques pré-datados, dinheiro, mas até lá é interessante enriquecer o universo infantil com um pouco de mágica. E, por fim, descobrir que o Papai Noel é um símbolo de proteção, bondade e generosidade.

Pessoal, feliz natal para todos!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O que não pode ser comprado


Valentina Rusinova123RF

Qual é o seu pedido para o “Papai Noel” neste natal? Quais presentes você elege como importantes para este momento? Um perfume? Um livro? Uma roupa? Um sapato? Um biquíni? Uma surpresa? Qualquer que seja sua opção, ela diz muito de você agora.

Quem quer biquíni pensa que verão sem praia não é verão. Essa pessoa quer diversão com seus amigos e contato com a natureza. Quem prefere perfume quer se cuidar, se sentir bem consigo mesma, ou, quem sabe, impressionar alguém. Uma roupa ou um sapato é alguém que quer ser prático ou gosta de tais objetos, almeja causar boa impressão pela aparência. Um livro é para alguém que verão não é verão sem leitura, deseja conhecimento. A surpresa é para alguém em busca do desconhecido.

Sei que tais “interpretações” são simples demais, tenho certeza disso. Elas não estão aqui para decifrar qualquer um e sim convidar a refletir um pouco sobre si nesta época tão corrida que mal paramos para respirar melhor.

O que você espera receber tem a ver com o seu momento atual. Não deixa de ser interessante descobrir um pouco mais sobre isso: as dicas que nossos desejos podem nos dar sobre o que estamos vivendo.

Há aqueles que nada querem. Suspeito que possa ser humildade ou certa desistência das coisas da vida ou economia mesmo. Há aqueles que querem demais, todos os presentes possíveis do shopping. Neste caso, creio que tal pessoa está por demais insatisfeita com seus últimos acontecimentos, talvez seja insaciável mesmo, e é bom lembrar que quem quer tudo, nada tem.

Mesmo que não ganhemos na noite do dia 24 o que desejamos: aquele livro que extrapola nossa renda, aquele vestido da vitrine, aquela bolsa linda, enfim, o que conta mesmo é o nosso desejo para pensarmos mais a respeito do que queremos da vida e como podemos nós mesmos ser os nossos Papais Noeis. E assim, conquistarmos o que está relacionado aos que desejamos. Perfumes, roupas, sandálias, CDs, livros são símbolos do que é importante para nós. Sermos mais cultos, inteligentes, bonitos, bem informados, são essas as qualidades que desejamos por trás do que se pode ser comprado nas lojas.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Maneiras de viver as festas de final de ano


Natalia Kushimova 123RF

As festas de final de ano sempre fazem pensarmos em família. Também em amigos, todavia família é o que primeiramente vem à cabeça. Apesar de pensar nisso, acredito que passar sozinho o Natal e o Ano-Novo não significa, necessariamente, vivenciar uma situação triste.

Percebo muitas pessoas envolvidas com seus familiares preocupadas e sem conseguir curtir as festas. Seja porque os parentes não lhe trazem prazer, seja porque a pessoa estava a fim de fazer outra coisa. Alguém pode passar tais festas com sua família não por escolha, mas por obrigação.

E aí, cadê o espírito natalino? Muitos, ao quererem respeitar as tradições, se amarram a coisas que não lhes trazem bem-estar, pelo simples fato de quererem cumprir um dever. Não tenho dúvidas de que há coisas na vida que devemos fazer e pronto, mas festas de final do ano não precisam rimar com obrigação.

Provavelmente será uma boa decisão para a virada do ano que sejamos mais espontâneos e que respeitemos mais nossas vontades, nossa intuição e nosso desejo de passar com quem realmente queremos e como queremos. Sem algemas.

A imagem ligada ao Natal, principalmente, é da família unida e sorridente sentada à mesa. Não precisa ser assim para que a data seja feliz. Não precisa de toda a família, nem de uma ceia. São elementos da tradição e nada de ruim nos acontecerá se rompermos com a ideia de família, de peru e de presentes.

As festas de final de ano abrem inúmeras possibilidades com parentes, amigos ou mesmo só, com ceia ou sem, não importa. O que é fundamental é estarmos onde, como e com quem queremos. Este, para mim, é o espírito de natal.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Atendimento a Clientes


Dmitry Isaev 123RF

Quando você entra em um estabelecimento comercial você busca um tratamento adequado. Que as pessoas que trabalhem ali sejam simpáticas. Simpatia é uma característica básica para quem lida com pessoas. O gosto pelo tratamento que se quer depende de cada um. Alguns preferem vendedores mais calados, outros optam pelos mais participativos. Não tem como agradar gregos e troianos, mas simpatia ninguém não deseja.

Há algum tempo atrás, na companhia de dois novos amigos, fui a um determinado lugar para conversar e fazer um lanchinho, tomar algo. A antipatia das atendentes me deixou estupefata! Como pode ser possível essas pessoas terem sido escolhidas para trabalhar diretamente com pessoas?

Se tivesse uma consultoria ou trabalhasse em uma, sinceramente iria entregar meu cartãozinho para o dono do local. Treinamento profissional urgente! Sei que este lugar não é o único. Sou testemunha da baixa qualidade de atendimento em vários locais e, certamente, você também.

Compreendo que todos nós temos o direito de ter um dia de cão, um dia em que não se forma um sorriso no rosto. Mesmo quando se está no trabalho. Somos humanos, não máquinas. Todavia ali havia uma antipatia geral.

Talvez fosse o calor, talvez as atendentes estivessem preocupadas com os presentes de natal, talvez não gostem de seu ofício, enfim diversas são as possibilidades que podem oferecer justificativas, mas nada me convidaria a ir lá novamente.

Aquele lugar não perde apenas sorrisos e gestos gentis, também perde clientes. Não há qualidade nos produtos, nem preço baixo, que façam valer a pena frequentar lugares em que somos mal atendidos. Em qualquer segmento comercial, queremos encontrar alguém que nos acolha e não sentirmos a sensação de que, nós clientes, parecemos uma pedra em seu caminho.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Dia de Magali


oleksiy 123RF

Você provavelmente já teve um dia de comilona. Talvez, imagino, poucas pessoas não tenham ainda tido. Você come tudo que pode, uma coisa atrás da outra. Um momento de compulsão que pode ser sintoma de TPM ou de ansiedade.

Seja por uma coisa ou outra, nossa barriga se sente sozinha e quer companhia: bombom, pão, pipoca, picolé, iogurte, o que estiver à mão e apetecendo. Tudo quase junto, como se fosse uma festa de comida e guloseimas acontecendo em seu corpo!

Deslocamos nossas angústias para a sensação de fome. Da mesma forma que quando crianças, ao chorarmos, nossas mães nos davam leite. Agora, adultos, nos sentimos preocupados e ansiosos e facilmente colocamos algo apetitoso para mastigar, com a esperança que isso amenize o que está afligindo.

O curioso é que nem sempre sabemos qual é o problema. Ele simplesmente age. Faz a gente pensar em comer, como se esta ação fosse o caminho para resolvê-lo. Não faz sentido, é claro. Mas nem tudo na vida é racional. Nosso comportamento tem dessas estranhezas.

A vantagem do dia de comilona é que você comete todos os “pecados” com uma justifica plausível. Você está na TPM, ansiosa ou preocupada. Dura um dia ou umas horas. Passa, mas as calorias ingeridas não vão embora tão rapidamente. Materializam-se em forma de tecido adiposo lembrando o exagero cometido.

Isso não significa que não possa acontecer de novo. Pode. Todavia o que interessa é aceitarmos esse dia com paciência e evitarmos que ele se prolongue. Um dia é permitido. Mais de um já é preciso apertar o sinal de alerta!

domingo, 20 de dezembro de 2009

Falar pelo blog


Sergey Sundikov 123RF

“Iniciar um blog é superar o estranhamento de falar sozinho.” Esta foi uma frase enviada para mim, dias atrás, por uma querida amiga, retirada de uma página virtual. Esta frase me fez pensar a respeito do Casa de Chá. Para quê, afinal, escrevo diariamente?

Compreendi o que frase quer dizer. Escrever em um blog é uma maneira de falar consigo sem ser somente consigo. Concordo. Ao mesmo tempo em que é uma atividade solitária, pretende um eco, uma resposta. Através dos comentários ou pelos dados analíticos que mostram quantas pessoas visitaram a página no dia de ontem, por exemplo, procuro a confirmação da leitura do outro.

Continuo a falar comigo, em pensamento, claro. Todavia muito do que penso tento produzir em forma de texto. Em busca de afinidade, também, talvez, de aprovação e quem sabe até crítica.

Escrever em um blog é uma forma de contato, uma nova relação em tempos pós-modernos. Uma maneira de provocar o outro, não para uma desavença, mas para uma reação. De concordância ou discordância, mas alguma resposta.

Jamais pensaria na possibilidade da internet ser o nosso único meio de comunicação. Nem pensar mesmo! Mas não podemos desqualificar as suas grandes vantagens. Muitos de meus amigos reais não moram na mesma cidade que eu moro. Quer jeito mais eficaz para manter contato do que pela internet?

De chats e emails, surgiram o Orkut e o atual e badalado twitter, que ainda não entendo bem o que é! O que quero dizer é que a rede continua se expandindo e exigindo atualizações constantes de nossa parte!

O blog, ferramenta única que uso, além de emails, se tornou para muitos, como eu, uma maneira de expor um pouco pensamentos e sentimentos sobre o cotidiano, sobre nós, sobre a vida.

Cada blogueiro escreve da sua maneira e com seus próprios propósitos. Contudo, como diz a frase que citei no início deste texto, é uma forma de lidar com a nossa solidão, intrínseca ao ser humano. Um jeito de falar sozinho com plateia.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Sem querer ofender os cães!


Studio Porto Sabbia 123RF

Homem-cachorro (HC) poderia ser um interessante alvo de estudo. Você conhece vários, certamente, e quem sabe, até já se envolveu com um. Seja um amigo, um ex ou um conhecido, o homem-cachorro chama a atenção. Talvez suas cantadas sejam cafonas, sua aparência também e seus objetivos na vida podem ser tão superficiais quanto um rio em época de estiagem, mas parte da mulherada pode ver flores onde só há terra árida.

Não tenho dúvidas que há explicações e interpretações interessantes e com nexo para as mulheres escolherem estes homens. Como aqui não é divã, fico limitada a pensar no geral. Assim, imagino que muitas das pessoas que se interessam por HC são aquelas que dão mais crédito às suas percepções, muitas vezes distorcidas, do que ver a realidade.

Quer dizer, preferem ver o que querem ver. Seu desejo de amar é maior do que o seu desejo de discernir entre o real e a fantasia. Não falo aqui, obviamente, de muitos casos em que houve um engano mesmo, sei lá, o cara tão “psicopata” que seduziu direitinho. Falo daquela situação em que seria muito, mas muito possível de perceber a cafajestagem, se a mulher em questão não estivesse tão apaixonada ou a fim de estar com um parceiro.

Creio que tais homens tenham seu “sucesso” pela propaganda que fazem. Sua lábia em se vender é tão potente que acaba por fascinar, muito mais pela construção teórica que ele mesmo faz, do que o cotidiano, que pode ser tomado de desconfiança e ciúme da mulher, em meio aos “furos” do parceiro. Ela, sem perceber o marketing, atribui às “outras” a malignidade.

Quase todo mundo tem alguém de seu passado que se encaixa na lista, faz parte. Se olharmos para trás, veremos que caímos na conversa do HC, porque estávamos tão apaixonadas pelo amor que não vimos quem estava ao nosso lado.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Pressões Sociais



Eu estava em um grupo de pessoas e falávamos sobre a decisão de ter filhos e eu comentei sobre as cobranças sociais que nós sofremos constantemente. Antes de casar, somos questionadas sobre quando iremos para o altar. Quando casamos, quando teremos nosso primeiro filho, após este nascer, quando virá o segundo e assim se segue...

Tudo muito chato, não é? Eu sempre tento não fazer esse tipo de pergunta, talvez somente aos mais próximos e dentro de um contexto conveniente. Mas vira e mexe, estamos sendo cobrados pela perspectiva das expectativas dos outros.

Meu marido e eu não sabemos se vamos ter filhos. Em um momento pensamos que sim, em outro pensamos que não. Conheço outros casais de amigos que têm a mesma dúvida ou pelo menos não pensam em filhos agora.

Antigamente ter filho era questão de “normalidade”. Todos os recém-casados já tinham esta meta bem definida. Hoje em dia, com as questões profissionais e financeiras, ter filhos é algo mais complexo, mas ainda em voga, ponto importante para o futuro da humanidade!

Os projetos pessoais, muitas vezes, passam por cima do projeto filhos. Claro que é possível unir ambos, basta uma disposição de malabarista e tudo pode dar certo. Quantos pais e mães conhecemos que conseguem encaixar vida profissional e familiar? Muitos!

Um efeito positivo desse quadro atual é a possibilidade da escolha. Nada de ter filhos porque “todo mundo” tem ou pela simples pressão social. Sei que muitos ainda entram nessa ladainha, mas isso está cada vez mais em baixa. Seremos melhores mães e pais se escolhermos por nossa conta ter um filho, sem dar atenção às expectativas e cobranças daqueles que nos rondam.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Você mesma como companhia!


Tetyana Kulikova 123RF

Mesmo que as mulheres, nos dias de hoje, tenham conquistado papeis em vários espaços profissional e social, ainda há cenas que chamam nossa atenção, porque não são comuns e mostram, então, o quão longe de estereótipos podemos estar. Ainda bem!

Estava eu em um restaurante, eis que uma moça chega, tranquilamente. A funcionária do restaurante lhe indica uma mesa (perto da que eu estava, daí também minha percepção) e ela senta. Logo levanta para se servir do Buffet de sushi e assim se comporta até a hora em que aparentemente satisfeita, vai embora.

O que quero dizer com essa cena observada? Bem, que há um tempo, não tão longínquo assim, uma mulher sozinha em um restaurante iria causar embaraço para ela. Algumas pobres criaturas iriam ficar com pena, pensando que não a moça não teria ninguém para lhe acompanhar, que aquele gesto tão solitário era triste etc.

Conheço muitas mulheres que não curtem ir sozinhas a alguns lugares, como ao cinema. Outras acham restaurantes locais complicados de ficar sem ninguém para conversar entre uma garfada e outra. Penso que há um pouco de gosto mesmo e também um pouco dos hábitos culturais.

Mulher sozinha ainda pode mobilizar a ideia de “coitadisse”, que ela é uma “mulher abandonada” etc. Tudo preconceito, mas ainda há pessoas que se influenciam com isso.

Eu, naquela noite de sábado, fiquei satisfeita, achando aquela moça de salto alto e expressão séria muito segura de si e mostrando a quem quisesse ver que não há nada de mais em frequentar um restaurante em um sábado à noite sozinha. Poderíamos até criar hipóteses sobre seus motivos de estar só naquele momento, mas o que interessa mesmo é essa liberdade vivida por nós, conquistada pelas feministas de décadas anteriores que ao queimarem seus sutiãs, queimaram também ideias antiquadas e enferrujadas.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Guardas de Mentirinha


Studio Porto Sabbia

Não sou míope ou mesmo cega em relação à desigualdade social em nosso país. Compreendo que o desemprego é assunto sério e que a miséria é algo que deveria ser extirpada do mundo. Apesar disso, não sou conivente com algumas situações.

Não consigo entender a permanência de flanelinhas na rua. Não consigo, por mais que tente aceitar a existência dessa categoria. Explico melhor.

Vejam bem: você estaciona o seu carro, talvez ele seja de segunda mão, talvez ainda esteja suando para pagar sua prestação, enfim, são poucas as pessoas neste país que têm carro sem ter tido certo trabalho, se não o próprio motorista, algum familiar seu. De qualquer maneira houve esforço para a aquisição do bem.

Continuando: você estacionou e se tiver sorte você vai ver o flanelinha após a batida de sua porta. Do contrário, ele pode querer te auxiliar no estacionamento. Não há coisa mais chata, salvo exceções, que alguém, cujo pedido não lhe foi feito, tenta “ajudar” você a estacionar. Afinal, você passou no teste da baliza!

Na saída do carro, ele pode dizer “tá bem cuidado” ou só fazer o sinal positivo com o dedo. Quando não assoviam para te chamar. Sem noção.

Na volta ao seu carro, o que acontece? Ah, você já sabe. Ele chega de mansinho para “ajudar” na manobra ou mostrar que o carro está são e salvo graças ao seu cuidado. Um verdadeiro Rambo do asfalto! Ou vem correndo da outra esquina, demonstrando que chegaria a tempo em caso de um invasor. Sei...

Tenho certeza que ninguém, quando criança, diz: “quando for grande quero ser flanelinha”. Sei muito bem que muitos ali não gostariam de fazer o que fazem. Que gostariam de ter uma profissão reconhecida e valorizada. Mas também não sou ingênua em pensar que todos ali sempre procuraram um trabalho de verdade.

Acho muito, mas muito triste haver “guardadores” de carros nas ruas. Mostra o quão nossa sociedade é pobre e desigual, mesmo sabendo que muitos ganham um bom dinheiro nessa lida e que assim, alimentam suas famílias.

Meu objetivo aqui é falar de quem pouco tem voz nessa história toda. Nós. Quem cara-pálida? Nós, a classe média, que quase não grita contra essa extorsão, porque se o fizer, será acusada de “insensível, egoísta, má” etc., como se não tivéssemos direitos. O que está por trás disso tudo é a culpa.

Eu tenho um carro e tenho a “obrigação” de ajudar um semelhante em situação pior. Acredito que quem pode ajudar, deve sim. Ajudar instituições de caridade, se empenhar em trabalhos voluntários que apóiem famílias de baixa renda. Agora, vamos jogar limpo.

Como é que alguém vem me vender a ideia que vai proteger meu carro, se essa pessoa não teve treinamento para isso? Isso é esmola ou extorsão. Entendam como quiserem, agora não me venham com esse papo furado que é trabalho. Se um ladrão vier roubar meu carro, em nenhum momento penso que o sujeito que “assumiu” a função de salvaguardá-lo irá interferir.

Não adianta, juro que não é teimosia minha. Eu não consigo compreender como nós aceitamos passivamente isso várias vezes por dia, por anos. E o pior de tudo: nenhuma decisão governamental é feita a respeito.

Como é que vou cair numa história dessas? Um cara de bermuda, camiseta, chinelo e boné vai proteger o meu carro, como ele afirma? Não entendo. Só faria sentido, para mim, se fôssemos ainda crianças e então tudo seria de mentirinha.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Filme no avião



Fiquei satisfeita com as opções de filmes oferecidos no avião São Paulo – Londres e vice-versa. Na volta, um dos que assisti foi o filme “500 Dias com Ela”, uma comédia romântica com os pés mais no chão e criatividade.

O enredo gira em torno dos dois personagens principais: Tom, um rapaz que escreve cartões comemorativos e Summer, a nova assistente do chefe de Tom. Ele se apaixona por ela e, ao longo do filme, os dias que os dois passam juntos são narrados. Os dois atores são ótimos e você tem a sensação de não estar vendo chover no molhado.

O filme diverte, é leve, ao mesmo tempo em que faz pensar nos encontros e desencontros de casais. Os momentos de vida de cada um e como pode (ou não) ocorrer um “encaixe” em que tudo possa dar certo: as expectativas de cada um, o encontro, a manutenção da relação, enfim coisas nada simples vividas o tempo todo em milhares de cenários.

As coisas podem dar certo ou não. De qualquer forma, nada é em vão. Uma relação que dura seis meses não significa que fracassou, ela te ensinou, você aprendeu com ela coisas que contribuirá para a próxima, que por exemplo, pode vir daqui umas semanas e durar anos ou a vida toda, vai saber.

O segredo é não acreditar que as coisas não possam funcionar. Desde que você fique aberta às oportunidades da vida, tudo pode acontecer. Fique atento, o bonde pode estar passando na sua frente!


segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Fazer o certo


Tetyana Kulikova 123RF

Percebo que fazer o certo é algo em extinção. Você sente o mesmo? Nem estou pensando no pessoal de Brasília, deles a mídia fala bastante. Penso em falar sobre o que via quase diariamente e agora de volta, continuo a ver.

Por exemplo, estou às 14h em uma determinada esquina, aguardando o sinal verde para seguir o carro. Um cidadão ao meu lado resolve achar que é do seu direito avançar, afinal de contas, não vem ninguém na rua da outra sinaleira, nenhum transeunte, por que não ir?

Ora, porque não é o certo! O problema está que muitos creem que podem burlar, afinal o que é que tem? É só um semáforo, sem ninguém que corra risco de atropelamento nem de colisão com outro carro, ok então.

Ok coisa nenhuma! Sei que estou fazendo o papel de superego, mas me chama muito a atenção as pessoas não mais ligarem para o certo, como se fosse coisa para otários. Como se não fizesse sentido as regras sociais, como no caso, as do trânsito.

Como quase tudo na vida, há exceções, duas da manhã, numa rua deserta, você fica com medo e talvez não espere o sinal abrir. A criminalidade justifica tal infração. Assim, penso que é mais fácil de aceitar.

O que as pessoas não se dão conta é que essas pequenas infrações são igualmente infrações. Tudo bem, não se está roubando merenda de crianças carentes, mas de qualquer forma, se está fazendo algo errado.

Fazer o certo porque é o certo, porque é assim que se espera que se faça está valendo muito pouco hoje. Infelizmente. Acho quase impossível haver alguém que não cometa um erro. Isso pode acontecer. Seja não parar na faixa para o pedestre passar, seja ultrapassar o limite de velocidade ou avançar o sinal ou ir na contramão, quando “ninguém” está vendo.

Apesar disso, muitos dos casos não têm justificativas plausíveis, faz parte do “jeitinho brasileiro”. Aí é sacanagem pura. Seria muito legal se a gente tentasse diminuir tudo isso e acreditasse que fazer o certo é o melhor a fazer.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Quando o corpo canta


Ionut Dan Popescu 123RF

Quando escrevi sobre o corpo que grita, ao terminar o texto pensei: “e quando o corpo canta?”, porque ele canta. O corpo canta quando estamos felizes, quando conquistamos algo que almejamos ou quando uma surpresa boa cai em nosso colo.

Nosso corpo cantarola quando estamos em dia com a vida. Quando o saldo está positivo. Ok, sabemos que a vida não é festa o tempo inteiro, mas isso não significa que seja espinhosa sempre. Ela é uma coisa e outra, é triste e alegre ao mesmo tempo.

O corpo canta quando percebemos que mesmo com tantas dificuldades que possamos encarar no caminho, podemos nos contentar com tantas coisas que nos acontecem diariamente.

Uma boa comida, um bom livro, um bom programa de televisão, uma boa reportagem na revista, um bom papo, risadas, um encontro, um sorriso. Enfim, são tantas as coisas que podem nos fazer cantar.

Claro que se canta, frequentemente, quando nossa percepção e nossa criatividade estão atualizadas. O que se vê hoje em dia é muito tédio. Correrias de carro, bebedeiras, enfim, comportamentos de risco para tentar provar para si que sim, se está vivo!

Esses corpos de risco não cantam, eles gemem. Corpos que cantam são aqueles que podem até vacilar de vez em quando, mas estão atentos à vida. Estão ligados ao que nos prende e ao que nos faz correr.

O corpo sabe muito acerca dos acontecimentos. Ele percebe suas vulnerabilidades, mas não se entrega, canta. Canta, porque nota que estar vivo é a possibilidade maior de se fazer, se querer, ser o que bem for possível. Canta, porque percebe que a vida é para ser vivida e não temida.

O corpo canta quando brinda, comemora e gargalha, deixando transbordar o contentamento.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Quando o corpo grita


Tetyana Kulikova 123RF

Estou no Brasil há vários dias. Mesmo cansada das tantas horas de viagem, cheguei bem. Eis que dois dias depois, passei mal, não entrarei em detalhes, por questão de “bom gosto”. Passei por um mal-estar estomacal muito enjoado, literalmente enjoado.

Imagino que possa ter sido uma virose ou simplesmente uma reação após tanta função que um retorno de viagem exige. O corpo falou. Ele também fala, não é mesmo?

Nosso corpo é muito independente. Iludimos-nos acreditando que temos controle sobre ele, que nossas funções cerebrais e afetivas são capazes de grandes coisas. São, mas muitas coisas fogem do nosso desejo.

Mesmo que se saiba de antemão o que se vai passar, não indica sucesso de passagem sem efeitos colaterais. Algumas vezes dá certo, em outras, nossa cabeça ciente é mero detalhe.

O corpo, nesse momento, não somente fala, ele grita. Ele grita, por quê? Porque o que se enfrenta é por demais aflitivo, ou seja lá o que for, porque fantasias, medos, ansiedades, preocupações e os próprios problemas concretos são demasiado pesados para se suportar.

O corpo pode gritar quando nossa elaboração mental falha em lidar com questões diversas, como avaliações, entrevistas de emprego, viagens, assuntos afetivos, enfim várias demandas que nos exigem uma força de vez em quando maior do que a que podemos oferecer.

Quando o corpo para de gritar a gente volta ao equilíbrio de antes e tudo não deixa de ser uma recordação de maus dias, uma forma de aprender mais sobre as experiências que passamos e mais uma história para nossa bagagem de sobrevivente.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Adulto-Criança


Daniil Kirillov 123RF

Escrevi ontem sobre as crianças estarem mais próximas dos adultos. Escrevo hoje o inverso. Quando nós, “gente grande”, ficamos mais parecidos com os pequenos. Certamente você já viu isso na rua.

Gente usando acessórios infantis, de presilhas na cabeça, até bolsas com glitter. São pessoas que curtem o infantil e mesmo muito acima da faixa etária “apropriada” se sentem felizes em meio a bonequinhos e ursinhos.

Nada contra a liberdade de cada um em se vestir e comprar o que quiser! Minha ideia aqui não é fazer campanha contra, imagina! Uma das coisas que adorei ao morar na Inglaterra foi a política liberal, isto é, aquela que realmente aceita que cada pessoa seja como deseja efetivamente ser.

Constatar e comentar, isso sim que faço aqui. Não há como não perceber o mundo infantil tomando conta do adulto. Penso no quanto as crianças podem perder quanto ao exemplo de como se é adulto. Sim, já imaginei, catastroficamente, um mundo de adultos infantis. Todo mundo assim! Sei, delírio, foi apenas um segundo, passou!

É tão importante a criança possuir um adulto legal por perto, que brinque com ela e entre em seu mundo, mas que saia dele! Da mesma maneira, é importante que essa mesma criança perceba que há mundo adulto, mesmo que, para ela, seja ininteligível. Perceber que há assuntos distantes de fadinhas, de ursinhos e de princesas.

Ainda mais: que há roupas e acessórios que não são como os dela, só que em tamanho maior. São de outro tipo. É preciso apresentar a existência da idade adulta, não como se essa fosse melhor ou pior, mas como uma fase da vida. Aliás, a fase mais longa da nossa vida!

Respeito quem tenha um especial apreço pela infância, mas tenha cuidado. Nem tudo que fazemos com frufru pode ser inocente.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Criança-Adulto


Tetyana Kulikova 123RF

Você conhece a Suri Cruise? É a filha de quase quatro anos dos atores Tom Cruise e Kate Holmes. Soube, com atraso, que ela foi eleita pela revista “Forbes”, em 2008, como a criança mais influente do mundo. Atualmente, seu estilo para se vestir é o que mais gera assunto. Inclusive houve polêmica sobre os sapatos por ela usados com saltinho. Não entrarei nesta questão.

Poderíamos debater vários elementos sobre a Suri, mas aqui foco no mercado infantil. Quando eu era criança, por exemplo, não havia muito que se escolher. Havia obviamente o senso estético, mas não para tudo. O senso prático tinha bastante força, sem que ele tivesse necessariamente relação com o outro senso, o estético.

Hoje em dia, há mamadeiras lindas, bicos de tudo que é tipo, xampu, escovas de dente de diversos formatos. Vivíamos uma infância com coisas mais simples, sem tantos enfeites, sem tantas opções.

Os desenhos animados, muitos lindos e educativos, como os da Discovery Kids, ganham espaço nas lojas de brinquedos e acessórios infantis. As roupas para crianças têm grife, que mesmo que a gente possa ignorar, elas existem, são caras e vendem!

Fiquei boquiaberta de encantamento, primeiramente, claro, quando vi modelos de roupas de estilistas conhecidos como Marc Jacobs, Dior, D&G etc. para crianças, inclusive, bebês. Muitas que vi são lindíssimas e dá vontade de comprar só para apreciar, não fossem os preços...

Em um segundo momento, fiquei pasma ao constatar o quanto a infância mudou com o passar dos tempos. Em séculos passados, as crianças pouco conviviam com seus pais, comiam em mesas ou horas separadas, não eram vistas como merecedoras de um tratamento especial, pelo contrário. Uma tristeza.

Hoje, elas participam mais da família, o que possibilita uma proximidade muito legal entre pais e filhos. Da mesma forma, são tratadas como pequenos adultos, com um mundo, leia-se, mercado, inteiro para suas “necessidades”. Têm suas vontades, o que de vez em quando gera certa confusão, como se a mãe tivesse de falar “de igual para igual” com seu filho de dois anos. Para superar a repressão de outras décadas, tomada por frieza e distância, os pais atuais ficam perto, mas nem sempre sabem o quão perto é bom, o quão perto pode prejudicar o desempenho de seus papeis de pais.

Não é fácil educar, é uma aprendizagem diária. Acho uma gracinha garotinhas como a Suri, mas fico um pouco assustada com a ideia das crianças estarem mais parecidas conosco. Criança é criança, adulto é adulto. Penso que assim tem mais graça.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Flores para você!


solma 123RF

Flores para você! Para você que acorda todos os dias, com sono e vai para o trabalho com chuva. Para você que tem medo e segue em diante. Para você que não engana ninguém em um mundo com tantos “enganadores”. Para você que teme a violência, mas não nega sair à noite. Para você que não cede à acomodação. Para você que, mesmo com suas feridas, consegue se entregar às relações. Para você que não tem vergonha de ser ridícula de vez em quando. Para você que recua, mas fica à espreita para retornar. Para você que vê bondade em muitas pessoas. Para você que erra e reconhece. Para você que não cega seus olhos frente às coisas ruins da vida. Para você que sabe se divertir em meio a tantos desastres. Para você que não deixa de pensar ou encarar os desastres. Para você que aprende. Para você que ri e chora. Para você que vive a vida. Flores para você!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Em suas mãos


Daniil Kirillov 123RF

Ter as rédeas da vida sob nossas mãos não é nada fácil. Não parece mais cômodo e simples delegar nossas escolhas e decisões a outrem? Encontrar justificativas até plausíveis, mas baseadas em necessidades alheias? Não parece menos angustiante responsabilizar o outro por desejos pelo quais não lutamos ou fracassamos?

Qual é a vantagem, então, de ter autonomia na sua vida? Os prós de se expor aos erros e aos acertos da vida é a simples e reconfortante sensação de jogar limpo, consigo e com o próximo. Sem jogatina. Relações afetivas com os sentimentos no lugar, sem colocar o seu “lixo” na “lata de lixo” do outro, ou ainda mais: suas experiências no baú do outro.

Afinal de contas não é nada justo atribuir ao outro a responsabilidade que deveria estar em suas mãos, em nenhuma outra mais. Sabe por quê? Porque um dia essa conta, provavelmente chegará, e acredite não será barata.

Percebo muitas falas de pessoas que justificam suas não realizações por causa de alguém ou de um fato. Acredito que em determinadas ocasiões isso pode ser realmente decisivo. Todavia, na maior parte do tempo, é conversa fiada.

A pessoa ficou com medo ou preguiça de tentar ou de continuar tentando, ou meramente aceitar que não conseguiu, e resolveu encontrar conforto culpando alguém ou a sociedade ou o governo ou a vida. Sempre é um bom conselho consultar o espelho. Podemos ser nós os únicos responsáveis.

Com isso, não quero afirmar que devemos ser egoístas e viver a partir do nosso umbigo. Acho maduro que muitas vezes tenhamos de decidir contra nossa vontade, pela instituição do bom senso. Mas isso não abre espaço para eu culpar algo ou alguém por nada. Eu devo decidir, porque acredito que é o melhor a ser feito, apesar da minha vontade ser contra.

Quando crianças, nossas pretensões são intermediadas por nossos pais. Isso acontece, porque pouco sabemos do funcionamento das coisas, temos pouca bagagem de experiências e, comumente, vivemos em um mundo encantado, pertencente à infância. Esse universo é desfeito à medida que crescemos, apesar de ainda vários adultos continuarem agarrados a ele, sem conseguir ter suas vidas em suas mãos.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Comparações


Daniil Kirillov 123RF

Sofremos comparações desde que nascemos. Ao nos visitarem, ainda na maternidade, uma avó, um tio ou qualquer outra pessoa falam: “parece com o pai”, “o fulaninho também nasceu com esse peso” e assim vai.

Na família, podemos ser comparados com irmãos ou primos, na escola, com os colegas de classe, na turma, com amigos. A comparação é uma atividade derivada da nossa necessidade de familiaridade.

Temos dificuldades em lidar com o desconhecido, com o que não sabemos. Assim, ao dizer que somos parecidos ou não com alguém, significa colocar tanto esse alguém como nós em um mesmo grupo.

A coisa complica quando as comparações são demasiadas, e ainda fica mais difícil quando feitas por nós mesmas. Esquecemos quem somos e apenas usamos as comparações para tentarmos ser quem “deveríamos” ser ou quem pensamos que somos.

Comparar faz parte de algumas confirmações que necessitamos. Sou mais baixa que fulana e que beltrana, talvez eu tenha baixa estatura. Entendem? Mas há comparações que atrapalham nossa autoimagem, fazem esquecer qual é o nosso jeito de ser e a nossa história.

Isso é fundamental. Antes de qualquer pequeno sentimento de fracasso ou ficar brava consigo, porque poderia fazer diferente ou mais, pense se isso que você almeja tem a ver com seu estilo de vida.

Eu não vou sair para correr às 5 da manhã, porque eu não consigo dormir às 22h ou dormir poucas horas por noite. É perda de tempo sofrer por esse hábito que não posso ter, quem sabe correr no fim da tarde?

Eu posso admirar um promotor com excelente oratória no tribunal, mas não posso querer também sê-lo se o que me fascina mesmo é a matemática. Eu não posso simplesmente pegar a receita alheia e querer aplicá-la em mim.

Eu sou uma pessoa, com uma história, com sentimentos, expectativas e pensamentos próprios. Os outros podem me ajudar a ver as coisas de outra maneira, podem me dar boas ideias para me renovar, mas querer o que funciona com o outro pode não ser um bom caminho. Pode ser perda de tempo e quem sabe, preguiça de descobrir qual é a sua no mundo.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Don’t Go Alone!




dmstudio 123RF

Não sei qual é a relação que você tem com o sentir medo no cinema. Desde criança sempre gostei dessa sensação. Quando cresci deixei de ver filmes de terror com monstros ou coisas do tipo e passei a dar maior atenção a filmes de suspense ou aqueles de terror sem zumbis ou seres sanguinários e fantásticos.

Ainda na Inglaterra, após assistir ao comentário de Isabela Boscov, da Veja, sobre o filme “Atividade Paranormal” fui ao cinema conferir a produção. O cinema cheio e com risos nervosos durante a transmissão faz com que a esfera seja menos horripilante que em casa, provavelmente.

Penso que estar com várias pessoas vivendo sensações semelhantes faz com que a gente se sinta mais segura e confortável. Mesmo assim, o filme assusta um pouco. Não conto muito, porque pode perder a graça. Adianto só um pouco do roteiro, isso se você ainda não o leu ou ainda não assistiu o filme.

Se trata de um casal que mora numa bonita casa e começa a ouvir barulhos estranhos que soam como algo paranormal. Por isso, resolvem filmar tudo que lhes acontece em várias semanas e é isso que vemos.

Como se fosse algum vídeo emprestado por um amigo, para contar fatos estranhos que lhe aconteceu. O filme, tal como fala Isabela, constrói paulatinamente o clima de tensão. Não é o melhor filme do ano, e nunca pretendeu ser, mas acho que para quem gosta do gênero, vale a pena.

Sentir medo no cinema é, em minha opinião, uma forma de catalisar o medo que sentimos de coisas da vida. Afinal, somos adultos, mas como crianças que fomos, temos nossos medos. Não mais de um bicho papão ou de um monstro embaixo da cama.

Depois que crescemos o medo muda de figura, mas ainda são medos. Muitos deles são frutos de fantasias ou imaginações pessimistas. Sentir medo em frente a uma tela pode produzir uma projeção dos temores que temos no cotidiano para a história do filme. Assim, ficamos com medo de fantasmas, de serial killers etc.

Não tenho certeza se essa teoria faz sentido, mas penso que sim. Da mesma forma que rir com filme, você pode sair do cinema ainda tensa, para depois vir uma certa leveza por ter exteriorizados pequenos pavores que podemos ter cultivado.

O comentário de Isabela Boscov está aqui: http://veja.abril.com.br/blog/isabela-boscov/

sábado, 5 de dezembro de 2009

Guarda-Chuva


Stephen Orsillo 123RF


Guarda-chuva pode ser um objeto suportado ou odiado. Amado, só quando somos crianças e achamos o máximo usar esse acessório. Não conheço adulto que adore usá-lo, mas pode ser que exista, não é mesmo? Ainda que odiado, ele pode ser adotado ou rechaçado, mesmo que esteja chovendo gatos e cachorros, para usar uma expressão inglesa.

Na Inglaterra, como em outros lugares da ilha, é comum as pessoas não usarem sombrinhas quando chove. Simplesmente elas usam o capuz do casaco ou nem isso. Definitivamente é outra relação com esse efeito da natureza. Eles nem parecem incomodados.

Agora no inverno acho que consegui compreender o porquê desse comportamento. Você está na chuva, molhando sua roupa, mas você sabe que logo chegará ao seu destino e que lá terá um aquecedor ligado. Então tudo ficará novamente sequinho. Por aqui há aquecedor por tudo.

No apartamento em que moro, de bom tamanho, mas pequeno, afinal tem só um quarto, há quatro aparelhos de aquecimento. Incluindo um no corredor. Significa, então, que é comum para quem mora aqui, ligar todos os aparelhos da casa e assim ficar protegido do gélido clima do hemisfério norte.

Na capital escocesa, testemunhei inúmeras sombrinhas na lata de lixo. Daí também há um reforço para que este acessório não seja utilizado. O vento forte destrói a pobre coitada. Ela vira para um lado e para outro e, se você tiver sorte, ela ficará apenas tortinha. Do contrário, jogue-a no lixo e faça como os britânicos: encare a água sem qualquer timidez.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Infidelidades


porsenna 123RF


Li na revista inglesa “Psychologies” uma matéria sobre pequenas infidelidades entre casais. Não se trata de se relacionar amorosamente com outra pessoa, o que seria uma grande infidelidade. Estas são diminutas, porque aparentemente não causariam a mesma sensação de descobrir que seu par tem um/uma amante.

Quais são as pequenas infidelidades comentadas na reportagem? Esconder do cônjuge que está fumando cigarros ou bebendo, omitir que está perdendo ou ganhando dinheiro em apostas e, por fim, quando ocorre um laço emotivo com outra pessoa, como um terapeuta, para seguir no exemplo da reportagem.

Em todos os casos, há depoimentos de homens e mulheres sobre suas infidelidadezinhas. Todas essas “confissões” simbolizam acontecimentos conjugais que podem ou não mobilizar crises e sentimentos tristes e desconfiados.

Dentre as possibilidades de ser minimamente infiel destacaria a ligação afetiva com outra pessoa. Certa vez li em uma revista, que não lembro o nome, sobre uma pesquisa realizada a respeito da infidelidade, cujo resultado foi que para os homens a traição sexual seria mais terrível que a emotiva, ao contrário das mulheres.

Assim, um homem pode sentir ciúmes de amantes ou de ex muito pela questão do sexo. Enquanto a mulher pode se sentir enciumada não exclusivamente por isso, mas sim se sabe que seu par tinha uma excelente amizade com uma ex ou até mesmo com um amigo ou amiga que ela sabe que seu namorado ou marido tem especial afinidade.

A pesquisa generaliza. Pode não fazer sentido para muitas, muitas mulheres, mas suspeito que esse resultado seja interessante, porque ele tem a ver com a ideia de que nós, mulheres, devemos/somos permissivas com as traições masculinas.

A construção cultural de que os homens possuem uma sexualidade escorregadia ainda existe e muitas de nós continuam a exercer o papel complementar de seguir o grupo “homem é tudo igual”. Homens e mulheres são diferentes, mas não me venham com essa lorota de que o homem trai e pronto, que é da “natureza masculina”.

Grandes e pequenas infidelidades podem fazer parte de cotidianos de vários casais e cada um deles construirá o sistema de tolerância entre um tipo e outro. O que vale considerar é a possibilidade de dialogar em busca de uma linguagem própria e não apenas de uma reprodução automática que não vale mais.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Mala




Mala é algo ambíguo: por um lado, útil porque contém objetos necessários para que você se vista e tudo mais que precise para aproveitar uma viagem ou uma estadia mais prolongada em algum lugar. Por outro lado, é uma chatice, tanto que a expressão “mala”, quando se refere alguém quer dizer que aquela pessoa é chata. Aí tem os derivados: “mala sem rodinha”, “mala sem alça” e o ápice: “mala sem alça e sem rodinha”!

Os viajantes superam a chateação que é estar com bagagem, porque a vontade de viajar é maior. O desejo de estar em diferentes cenários é mais forte do que a preguiça em lidar com a esteira do aeroporto, puxar a mala, despachar a dita, conferir o peso, enfim, o processo mala-viagem.

A mala de ida vai cheia de produtos previsíveis, se tenta carregar um pouco da segurança da nossa casa para a desconhecida rotina que a viagem propicia. Ao mesmo tempo em que queremos aventura, desejamos o familiar.

A mala da volta está em outro clima, lembranças dos lugares visitados dividem espaço com as familiares. Somos nós, mas com uma roupa nova. É o símbolo da ideia da mudança resultada de viagem. Nunca voltamos os mesmos.

Claro que mudamos um pouco todos os dias, há aqueles que não, é verdade, mas do modo geral estamos sempre em metamorfose, como dizia Raul. A viagem potencializa intensamente tal transformação. Foram tantas adaptações necessárias em um tempo curto que a gente muda num piscar de olhos. Além disso, conhecemos novas pessoas, novas culturas, novas paisagens.

Essa mudança, é importante registrar, não caberia em nenhuma mala! Todavia, para fins simbólicos, poderia se pensar que a mala de ida é cheia de expectativas enquanto a de volta é cheia de mudanças e, se tiver sorte, quem sabe, de saudade.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Música


mj007 123RF

Já conheci gente que não gosta de pintura, de cinema, mas não conheço ninguém que não goste de música. No carro, enquanto trabalha, enquanto cozinha, só para curtir, quaisquer que sejam as possibilidades, a música pode ser companhia, ser meio para a dança, mobilizar lembranças ou instigar desejos.

A música aqui na Inglaterra é ótima. Salvo exceções, como um hip hop sem qualidade, com clipes mostrando mulheres com pouca roupa e elementos pobres do consumismo exagerado, como carros, jóias e casas, que passam constantemente na tevê. A experiência do hip hop ruim vivi em apenas um lugar, uma lanchonete da universidade; todas as vezes em que estive lá tocava aquilo. Justifico a minha ida pelo lanche de qualidade, ao contrário do que passava na televisão e nas caixas de som.

Voltando à qualidade musical dos ingleses, lojas, ônibus e pubs sempre tocam música boa, e quando não é lá do meu agrado, eu reconheço que há qualidade. Claro que se formos a uma loja que venda cd´s encontraremos artistas duvidosos, mas quem escolhe música em um pub, por exemplo, sabe o que está fazendo.

Não é à toa que excelentes músicos e bandas saíram daqui. Assim, como o cara do pub, ele sabem o que fazem.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Luta contra o preconceito



Hoje, primeiro dia do mês de dezembro, é o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS. Esta data surgiu em 1987, a partir da decisão da Assembleia Mundial de Saúde, com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU). Sua principal meta é fortalecer ações de solidariedade, compaixão, tolerância e compreensão para com as pessoas que têm o HIV/AIDS. Além disso, sempre ocorrem atividades com objetivos de prevenção e informações a respeito do vírus.

Minha dissertação de Mestrado foi sobre mulheres que contraíram o vírus de seus companheiros. Portanto posso afirmar, baseada em resultados científicos, que a principal fonte de conflito para quem tem o HIV é o preconceito.

Infelizmente parte da nossa sociedade pouco sabe a respeito desta síndrome, dificultando a desconstrução desse fantasma criado em torno do vírus. Quando a epidemia começou, no início dos anos 1980, muitas pessoas morreram em decorrência dela. Além disso, se pensava, equivocadamente, que havia um grupo de risco.

Quem fazia parte de tal grupo era também estigmatizado: homossexuais, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo. Desta maneira, a discriminação destinada a tais indivíduos foi deslocada para também os portadores. Os hemofílicos, as mulheres e as crianças, posteriormente com o vírus eram vistos como “vítimas inocentes”.

Parte conservadora da sociedade encarou a epidemia como um castigo para os “pecadores”. Grande bobagem, mas de uma força avassaladora, que faz com que em trinta anos ainda não tenha sido totalmente desfeito tal estigma.

Então, mulheres e demais pessoas com o HIV tentam esconder sua sorologia para não sofrerem preconceito. Tais indivíduos precisam de um grande suporte para ressignificarem suas vidas após se verem com um vírus que ainda possui grande valor moral.

HIV é um vírus que atinge um organismo. Ele é democrático, não escolhe por nenhuma característica ou comportamento especial. Está tanto na rua como em casa. Não se trata de banalizar a síndrome. Afinal, por causa dela, o sujeito se vê obrigado a fazer exames e ir consultar periodicamente. Quer dizer, é uma coisa chata, assim como quem é diabético precisa medir o açúcar e fazer insulina. Se tornou uma doença crônica, não mais um atestado de morte.

O que mata mesmo é a morte social, resultado de preconceito, discriminação e burrice. O vírus é transmitido pelo sexo, pelo sangue da gestante para o feto, ou seja, não “passa” em abraço, beijo, conversa ou qualquer coisa mais.

Todos nós, em algum momento da vida, nos vemos com um tipo preconceito: são heranças sociais que carregamos. Nossa batalha é refletirmos a respeito, pensarmos logicamente para desfazer os rótulos que reproduzimos. São muitos os pré-conceitos que transitam em nossa sociedade e nenhum deles faz sentido.