Mala é algo ambíguo: por um lado, útil porque contém objetos necessários para que você se vista e tudo mais que precise para aproveitar uma viagem ou uma estadia mais prolongada em algum lugar. Por outro lado, é uma chatice, tanto que a expressão “mala”, quando se refere alguém quer dizer que aquela pessoa é chata. Aí tem os derivados: “mala sem rodinha”, “mala sem alça” e o ápice: “mala sem alça e sem rodinha”!
Os viajantes superam a chateação que é estar com bagagem, porque a vontade de viajar é maior. O desejo de estar em diferentes cenários é mais forte do que a preguiça em lidar com a esteira do aeroporto, puxar a mala, despachar a dita, conferir o peso, enfim, o processo mala-viagem.
A mala de ida vai cheia de produtos previsíveis, se tenta carregar um pouco da segurança da nossa casa para a desconhecida rotina que a viagem propicia. Ao mesmo tempo em que queremos aventura, desejamos o familiar.
A mala da volta está em outro clima, lembranças dos lugares visitados dividem espaço com as familiares. Somos nós, mas com uma roupa nova. É o símbolo da ideia da mudança resultada de viagem. Nunca voltamos os mesmos.
Claro que mudamos um pouco todos os dias, há aqueles que não, é verdade, mas do modo geral estamos sempre em metamorfose, como dizia Raul. A viagem potencializa intensamente tal transformação. Foram tantas adaptações necessárias em um tempo curto que a gente muda num piscar de olhos. Além disso, conhecemos novas pessoas, novas culturas, novas paisagens.
Essa mudança, é importante registrar, não caberia em nenhuma mala! Todavia, para fins simbólicos, poderia se pensar que a mala de ida é cheia de expectativas enquanto a de volta é cheia de mudanças e, se tiver sorte, quem sabe, de saudade.
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