quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Abandonar


Stanko Mavljak 123RF

Não é sempre que sabemos a hora de parar, de dizer que determinada coisa não nos serve mais. Clarice Lispector, em um de seus livros diz: “Saber desistir. Abandonar ou não abandonar – esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém”.

O abandono de que falo não é do tipo negligência. Falo daquele que não implica consequências traumáticas. Aula de piano por dois anos e agora você não quer mais, porém não consegue assumir a desistência e segue, “ligando no automático”. Você colocou na cabeça que ia fazer aula de piano. Esqueceu que para quase tudo há prazo de validade. Fazer a aula de piano foi bom por dois anos. Mas hoje você está interessado, por exemplo, em pintura.

Sem nenhuma justificativa a mais, nem interpretação do inconsciente, você somente mudou de ideia. Nunca acordamos os mesmos, já sabemos disso. Teimamos em crer na fixidez, talvez para termos mais garantia de quem somos nós.

Estamos sempre mudando. Verdade que uns se agarram persistentemente e não deixam as mudanças chegar. Para todo o resto, elas chegam e mobilizam novas formas de ser.

Então, é compreensível eu ter feito aula de ioga por três anos e agora quero jogar tênis, não? A questão é que até decidirmos pelo novo, várias perguntas podem ser feitas. Não estou sendo suficientemente persistente? Por que não vou até o fim? Deveria tentar mais?

A arte de abandonar, como nos diz Clarice, não aprendemos com ninguém. Dependemos da nossa tímida (ou não) ousadia de nos arriscarmos a dizer basta para algo que já não queremos mais.

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