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O enredo é o seguinte: Burke (Aaron Eckhart) é um viúvo e é um tipo de guru no mundo da auto-ajuda. Ele conhece a florista Eloise (Jennifer Aniston) que o ajuda a enfrentar seu próprio passado.
Não é exatamente a semelhança com os contos de fada que me faz gostar de muitos dos filmes água com açúcar. Mas sim a agilidade arquitetada pela fábrica de sonhos, o cinema, para a solução dos conflitos.
Gosto muito de filmes densos, que te arrebatam pela sua força, que são bem costurados, que possuem um bom enredo e boas interpretações e que, além disso, mostram muito “a vida como ela é”, para usar um termo “Rodrigueano”. Não tenho dúvidas que aprendo mais da vida a partir desse gênero do que com qualquer outro.
Todavia, nos filmes água com açúcar, a solução de diversos conflitos em noventa minutos é algo incrível. Nesta uma hora e meia, mocinhos e mocinhas se conhecem, se desentendem e se entendem para sempre.
Noventa minutos e tudo fica bem. Final feliz, saímos da sala com sorrisos e inspirados a colocar nossas dúvidas para correr. Sei que a vida não é assim, cor-de-rosa, mas um pouquinho de ilusão é bom, pelo menos por aqueles noventa minutos, para depois fincarmos os pés na realidade de novo.
Gente como a gente
O protagonista Burke do filme “Love Happens”, interpretado por Aaron Eckhart, é um bem-sucedido escritor que propõe um programa de auto-ajuda. Ele é atormentado pelos seus próprios fantasmas ao mesmo tempo em que ajuda os outros a exorcizar os seus. Ao ver esse filme, me lembrei de um pequeno texto de Cyro Martins que li na época da faculdade. Este texto está relacionado com o “ser psicólogo”. Abaixo o reproduzo:
“Pois fica decretado, a partir de hoje, que psicólogo é gente também. Sofre e chora, ama e sente, às vezes, precisa falar. O olhar atento, o ouvido aberto, escutando a tristeza do outro, quando, às vezes, a tristeza maior está dentro do seu peito. Quanto a mim, fico triste e fico alegre e sinto raiva também. Sou de carne e osso, e quero que você saiba isso de mim. E agora, que já sabe que sou gente, quer falar de você para mim?”
Saber lidar com os conflitos do outro não significa saber resolver os próprios. Com o outro, mantemos uma distância em que conseguimos nos defender das emoções que atropelam, confundem e influenciam. Também é mais fácil colocar a racionalidade e o bom senso para controlar a situação.
Não que ao lidar com o outro não possa ser, da mesma forma, consequência de experimentações feitas consigo mesmo. Todavia, o outro é outro. Parece óbvio, mas no cotidiano não é incomum flagrarmos as pessoas se relacionando somente a partir de suas perspectivas, esquecendo que o outro não é si mesmo.
Os “Burkes” da vida não são excluídos de crises, dúvidas, medos e erros. Eles não foram premiados como isentos dessas fragilidades. Eles são gente também! Talvez com qualidades peculiares, pois que conseguem deixar de lado suas fragilidades ao se atentarem às dos outros, mas são gente.
Olhar para eles a partir dessa perspectiva não diminui seus atos ou o poder de suas palavras, pelo contrário. Ao aproximarmos-nos, conseguimos vislumbrar melhor nossas próprias potencialidades ao nos vermos tão perto daqueles que parecem (mas só parecem!) estar mais acima de nós.
Adorei o teu texto, e o do Cyro também, eu não lembrava desse, se tu leu pra aula vai ver eu não tinha o xeróx, vou perguntar pra Clarisse.....heheheheh
ResponderExcluirA gente sabe tudo o que ele significa.
Tem frase mais irritante do que "tu não devias pensar assim, afinal de contas tu é psicóloga"... RRRRRRRRR
Estou pensando em como conseguir difundir ao máximo esse poema... vou começar hoje com os de casa - pai, mãe, namorado......
Beijão querida, saudades!!