Nesta semana, assisti “The Soloist”, com Jamie Foxx e Robert Downey Jr. e direção de Joe Wright. O filme tem um enredo, baseado em uma história real narrada em livro de mesmo nome, do norte-americano Steve Lopez, que se passa nas ruas de Los Angeles. Lopez, interpretado talentosamente por Downey Jr., tem sua vida alterada após uma reportagem que realiza com o homeless Nathaniel Ayers, interpretado igualmente de forma talentosa por Foxx. Da mesma forma, Ayres muda o curso de sua vida após este encontro.
Talvez uma das maiores formas de solidão existentes seja a do sofrimento psíquico. Em outras palavras, a solidão causada pela doença mental. É um mundo à parte, ou porque não há ou porque são pouco existentes as linhas de contato possíveis com o “outro lado”. No mundo da “loucura”, as palavras são outras, as construções de linguagem e de comunicação funcionam sob outras leis, frequentemente incompreensíveis para os que lá nunca estiveram.
Todavia, há pessoas que conseguem alcançar este outro mundo, sem que circulem por ele o tempo todo. Colocam um pé lá, enquanto o outro está naquele comandado pela lógica. Elas enxergam o “louco” a partir de sua própria ordem de funcionamento; se deixam tocar e tocam, mesmo que consigam manter seus próprios raciocínios.
As naus dos loucos, narradas por Foucault, expressam o desejo social de colocar os “doidos” longe. Os hospícios serviram/servem mais como depósitos para que ninguém os veja, no faz-de-conta que não existe a insanidade, tal como o medo e o estigma que a loucura carrega.
Lopez é alguém obstinado, pois ele consegue quebrar o comportamento mais comum, no qual a égide “é assim mesmo, não há o que fazer” é a que impera quando a maioria das pessoas se depara com tal situação. Ayres é sensível, solitário e com medo de seus próprios fantasmas, que o fazem se fechar em seu próprio mundo. Ambos os personagens encenam uma relação que aproxima esses dois universos, denunciando todas as semelhanças, e não apenas as diferenças, que há entre os ditos “sãos” e os “doentes”.
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