Marina Glebova 123RF
Perguntei para um deles se eu era mulher; ele respondeu facilmente que sim. Complementei: “sou mulher, detesto ir a lojas para comprar roupas e não dou a mínima para jóias, e aí?” Com um sorriso, argumentou que a sua esposa adorava jóias.
Se alguém me encontrar observando vitrines de lojas de roupas, de jóias, de sapatos, enfim, o que for desse tipo, por mais de trinta segundos, chamem uma ambulância, estou me sentindo mal!
Admiro e tento me vestir bem, usar acessórios legais; porém, para mim, é um martírio ir às compras, experimentar, olhar os modelos. Fico cansada nos primeiros quinze minutos, para não dizer de mau humor. E sou mulher, juro!
A questão pode ser aprofundada. A estudiosa norte-americana Judith Butler diz que “ser mulher” é algo construído pela linguagem, pela cultura, pelo social e pelos atos diários em que o ser mulher é produzido, e o ser homem também.
Exemplifico. Cada dia que acordo, lavo os meus cabelos compridos, os seco, me maquio, uso roupas e acessórios femininos estou construindo o ser mulher. Eu alimento essa construção diariamente.
Há um filme de anos atrás chamado “Recém-Casados”, você viu? Bem, conto uma parte que em nada compromete o conhecimento da narrativa para quem não o assistiu. Eles casam, chegam ao quarto de hotel e a noiva mostra certa tristeza, porque aquele sonho dela, desde a infância, se concretizou. Não porque ela não estivesse feliz com seu momento. De fato ela estava. Mas sua tristeza tem a ver com aquele vazio que pode dar após uma meta ser alcançada.
Nisso vem uma imagem flashback: ela criança, brincando com suas amigas, ela de noiva... Nisso, ela pergunta para o recém marido se ele também tinha esses pensamentos. Da mesma forma, aparece para ele uma imagem do passado. Ele com seus amiguinhos brincando de luta.
Esse filme, água com açúcar e despretensioso, consegue mostrar com clareza o quanto nossa criação, nosso desenvolvimento contribuem para que as mulheres sejam mais propensas ao romantismo e dêem mais atenção aos sentimentos que os homens, por exemplo.
Há, por acaso, marcas nos cromossomos X e Y que determinam que os mocinhos estão em batalhas para salvar o mundo, enquanto as mocinhas esperam em suas sacadas pelos seus amados?
Acredito que o assunto mereceria maior espaço, porque ele inquieta. São tantas desconstruções a partir de um pensamento, como o que apontei acima realizado por Butler. Porém, se você começar a pensar em todas as coisas que nos cercam: a moda, a escola, as propagandas, enfim, as falas que ouvimos ao longo da vida a respeito, percebemos o quanto nossos cromossomos são tão-somente meros coadjuvantes neste universo.
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