sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Futebol





Meu marido gosta de uma determinada rádio porto-alegrense; aliás, esta foi uma das preferidas do meu pai. Eu sei, Freud explica. Tal estação sempre me fez lembrar a minha infância, principalmente em viagens de carro.

Neste momento, esta rádio ainda lembra um pouco meus tempos de criança, mas menos. Por saudades do Brasil, das pessoas que lá ficaram e da minha rotina pelotense, de vez em quando, ouço a rádio com entusiasmo aqui na Inglaterra.

Não ouvimos o tempo inteiro, deixo claro. Talvez duas horas por dia, enquanto estamos envolvidos em uma função que permita o som de debates e informações.

Um dos principais temas de tal rádio é o futebol. Sempre gostei de futebol. Tenho foto pequenina com a bandeira gremista comemorando a sua vitória contra o Hamburgo, no Japão. Não sei escalar os jogadores do meu time, nem os da seleção brasileira, mas conheço vários deles, aqueles mais citados em jornais. Mas sei reconhecer facilmente quando há impedimento! Gosto de futebol, todavia poderia viver sem. Não é um fanatismo.

Agora ouvindo tal rádio percebo ainda mais o quanto o futebol é uma válvula de escape dos problemas cotidianos. O assunto é tratado pelos profissionais e pelos ouvintes com uma seriedade enorme. Como se cada jogo significasse alguma ação referente à diminuição do efeito estufa.

Minha postura crítica é simpática. Divirto-me com isso, chega a ser tocante. Nossos homens, os principais ouvintes, responsáveis, trabalhadores em meio a tantas dificuldades sociais, ganham um pouco de alívio das pressões diárias ao discutir futebol com o mesmo tom daqueles diplomatas que têm de decidir algo sobre, por exemplo, o futuro do imprevisível Iraque.

As entrevistas com os jogadores me fazem sentir compaixão. As criaturas, que correram por 45 ou 90 minutos, quando saem para o vestiário para dar uma relaxada, além de terem de ouvir as palavras do “professor”, têm de dar entrevista aos repórteres.

Aí eles precisam, quase sem fôlego, falar português corretamente, com a concordância verbal adequada e dizer todos os “esses”. Falar para o rádio ou para tevê, para muitos, é algo importante e motivo de orgulho. Assim, imagino que muitos atletas fazem isso com alegria, mas é uma crueldade tal exigência ainda na beira do campo.

No futebol, o torcedor esbraveja contra o juiz, o técnico, o dirigente, ou quem quer que seja, como uma forma de tentar protestar contra coisas que ele não pode fazer por completo, em sua vida pessoal. Ir ao estádio é uma das ações mais catárticas que há, assim como o teatro, por exemplo. Com a diferença que no estádio você grita, esperneia, chora, consegue expor todos os sentimentos abafados, já que você se encontra em um local democrático para as emoções.

O futebol não é só um jogo. Como se vê, é um intervalo, em que o torcedor ou simpatizante, independente do seu gênero, toma fôlego, descansa sua mente, para no dia seguinte retomar a batalha diária.


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